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São Paulo, domingo, 16 de março de 2003

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LEGISLAÇÃO

Projeto que tramita na Câmara paulistana tem chances de entrar em vigor antes de similar passar pelo crivo federal

Lei deve proibir fumo ao volante em SP

Fernando Moraes/Folha Imagem


LUÍS PEREZ
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Assim como ocorreu com o cinto de segurança, uma lei que veta determinada conduta no trânsito tem grandes chances de começar a vigorar primeiro em São Paulo e só depois no resto do país. Fumar ao volante pode ser proibido na cidade ainda neste semestre.
É o que vai ocorrer se for aprovado projeto do vereador Claudio Fonseca (PC do B), que tramita pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Municipal.
Ele se inspirou em um colega professor -essa é a profissão de Fonseca, 48, que está no primeiro mandato-, que no final do ano passado bateu o carro por ter deixado a brasa cair em seu colo.
"A pessoa que comete esse tipo de acidente não o relata como realmente ocorreu. Ele [o colega do vereador] fica constrangido", disse Claudio Fonseca à Folha.
Embora já exista no código de trânsito o artigo 169, que veta "dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança" -o que é punível como infração leve (multa de R$ 53,20), ou com apenas uma das mãos, o que é infração média (multa de R$ 85,13)-, o parlamentar avalia ser necessário criar uma legislação ainda mais específica.
"Acho que tudo o que você coloca com maior rigor em relação à lei já existente não a contraria. Nem todos os carros são automáticos, e a pessoa tem de trocar marcha, ou seja, tirar uma das mãos do volante algumas vezes."
O projeto vislumbra também os acidentes dentro do automóvel, que causem queimadura. "Acho que vai ser aprovado, pois existe parecer do Contran [Conselho Nacional de Trânsito], que tem a mesma preocupação que a minha", diz o vereador, que não fuma. "São Paulo é uma das cidades pioneiras no cinto de segurança."
Quem deve decidir sobre a punição é a prefeitura. "Se dependesse de mim, qualificaria como uma falta grave." No caso, causaria o registro de cinco pontos na carteira de motorista (para perdê-la bastam 20) e seria ainda mais rigorosa do que a lei similar que proíbe dirigir com uma mão só.

Habilidade
Para quem faz do carro um instrumento de trabalho, a proibição servirá como uma espécie de estímulo para largar o vício de vez. "Sou a favor da proibição. Quando tenho passageiro, não fumo", diz o taxista fumante José Ferreira Lima, 67, que faz ponto na praça Vilaboim, em Higienópolis (região central de São Paulo).
"Não acho que fumar dirigindo atrapalha. Só se a pessoa for tirar fósforo do bolso enquanto estiver guiando", opina Lima, adepto do cigarro há 40 anos. "Se uma brasa cair, eu paro e pego", simplifica.
"Nenhum fumante acha que o cigarro atrapalha. Você desenvolve habilidade para dirigir com o dedo ocupado", afirma a executiva Erika Nishiwaki, 25, que fuma três cigarros por ida ao trabalho -ela mora em Santo André (Grande São Paulo) e trabalha na avenida Luís Carlos Berrini, no Brooklin (zona sul). Nishiwaki se diz "totalmente contra" a lei.
Especialistas condenam a combinação de cigarro e direção. O consultor Roberto Scaringella, 62, que desenvolve trabalhos relacionados à segurança no trânsito, é a favor da lei específica.
"A questão do fumo, que não está explicitamente no código, é um agravante. É mais perigoso que ouvir música e, de certa forma, mais do que o celular", opina. Scaringella observa que uma lei municipal como essa só vale caso o governo federal se omita. "Cabe à União legislar sobre trânsito."


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