São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

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Eu, eu mesmo e o Fusca

Um dos últimos Fuscas usados em patrulhas policiais vai se aposentar com investigador no interior de SP

Marcelo Justo/Folha Imagem
O Fusca 1977 da polícia de Taubaté, desde zero-quilômetro, acompanha o investigador Arnaldo Barbério; "Não deixo ninguém dirigir esse carro"

FELIPE NÓBREGA
ENVIADO ESPECIAL A TAUBATÉ

O investigador Arnaldo Barbério, 57, é um daqueles policiais à moda antiga, do tipo que carrega o distintivo da corporação ao lado do peito. Após três décadas atuando na Polícia Civil, ele irá se aposentar.
Seu fiel companheiro de trabalho também. O Fusca 1977 do 1º DP de Taubaté (130 km a nordeste de SP) será recolhido, assim como as outras nove "baratinhas" remanescentes no Estado de São Paulo, disse a Secretaria da Segurança Pública, sem precisar a data. A razão? Após ao menos duas décadas de uso, estão obsoletas.
Não é o que pensa o saudoso Barbério. "Na cidade, o Volkswagen Sedan [nome de batismo do Fusca] não perde em agilidade para os outros carros da polícia", diz, enquanto tenta provar a teoria "esticando" a terceira marcha do "poisé" preto e branco de apenas 46 cavalos. Como se barulho de motor 1.300 assustasse bandido...
Talvez tecnologia não seja mesmo importante para quem tem um Candango 1961 na garagem de casa. No entanto, no pátio da delegacia, ao lado de outros carros-patrulha, a "baratinha" nem parece ser a mais velha -a polícia costuma trocar seus carros após dez anos.
"O investigador Arnaldo é muito zeloso com esse Fusca", conta o delegado Juarez Toti. "É tanto capricho que, em vez de trocar por um carro novo, a coordenação pediu que ficássemos mais tempo com a "baratinha", pois agora estuda levá-la para um museu."
Apesar de o Fusca hoje ajudar apenas nos serviços burocráticos, como na entrega de intimações, o VW colecionou feitos heroicos na juventude.

Outros tempos
Uma das histórias mais famosas foi quando o "poisé" policial virou ambulância.
"Socorremos uma parturiente até a maternidade. O bebê nasceu assim que a mulher saiu do carro, numa maca ali ao lado. Depois, fiquei sabendo que o menino foi batizado de José Arnaldo, mistura do meu nome com o do meu colega da época, o José", lembra Barbério.
Numa outra emergência, o Fusquinha conduziu o bandido da Luz Vermelha da cadeia ao fórum de Taubaté.
Isso aconteceu numa época em que o Volks monopolizava os pátios das delegacias e também as ruas, ainda sem a alta taxa de criminalidade atual.
Talvez quem insista na permanência dessas derradeiras "baratinhas" esteja, na verdade, querendo resgatar uma era romântica da própria polícia.
Assim a investigadora Sangelina Zamboti, de São Paulo, define a aposentadoria do Fusca patrulheiro da delegacia de Cartas Precatórias de São Paulo, no ano passado. "Quando avistavam a última "baratinha" da capital, as pessoas corriam para fotografá-la. Não conseguíamos trabalhar. O carro havia perdido o respeito."


Assista ao vídeo do Fusca "baratinha"

www.folha.com.br/0922514



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