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ENTREVISTA
KEITH
RYDER
Peugeot 307 nasceu para ser hatchback, e não sedã
Há 25 anos na Peugeot, designer inglês fala da picape 207, que virá em 2010, e do fracasso do 307 Sedan
Cabelo grisalho repartido ao meio, terno azul-escuro
bem cortado e um sotaque britânico modificado por
25 anos de vida na França. Nada de gravata ou abotoadura. Keith Ryder, 54, fala pausadamente e tem um
jeito despojado para quem se formou no Royal College of Art, de Londres, e é diretor mundial de design e
estilo da Peugeot. Ele acabou de chegar ao Brasil e terá
um ano para uma missão à la Gilberto Freyre: entender os brasileiros e descobrir novos talentos para o
grupo PSA Peugeot-Citroën. Ao lado de Ryder, estava
o coordenador de produto e estilo para a América Latina, Frederico Cezar Laguna, que falou da picape 207. Confira as entrevistas exclusivas a seguir.
(FABIANO SEVERO)
FOLHA - Como são separados os
processos criativos na PSA Peugeot-Citroën da França?
KEITH RYDER - Os centros de design em Paris são separados
apenas por uma parede. Se entramos à esquerda, vamos para
a Peugeot, na cor azul; à direita,
para a Citroën, na cor vermelha. Por isso há muita interação
entre os projetos. São 250 pessoas em cada departamento,
mas muitos servem às duas
marcas, como os setores de custos e de industrialização. No estúdio, analisamos novos traços
e definimos: este é mais Peugeot e aquele é mais Citroën.
Depois, todos almoçam juntos.
FOLHA - Qual é a diferença mais
marcante entre o design da Peugeot
e o da Citroën?
RYDER - A Peugeot tem um design bem balanceado, com as
melhores proporções entre as
formas, como no desenho dos
vidros, das rodas, dos para-choques. Também tem linhas dinâmicas, elegantes e distintas,
com uma identidade visual
muito marcada pelos faróis que
parecem olhos. Qualquer um
identifica um Peugeot pelo retrovisor. Já a Citroën é mais
apegada a detalhes de acabamento, é mais complexa. Tem
mais linhas que dão ideia de
movimento, sempre acompanhando o desenho do Chevron
[logotipo da Citroën] na grade.
FOLHA - O design é o mais importante em um carro?
RYDER - Sim. Com certeza o design é o fator mais importante
para a decisão de compra de um
carro. Os custos também são
importantes, mas o design é o
que mais atrai em um objeto.
FOLHA - Isso explica o fracasso do
307 Sedan? Em julho, a Peugeot emplacou 653 unidades do 307 hatch e
apenas 47 do 307 Sedan.
RYDER - O design, quando é
bom, falamos que é bom. Quando não é, também falamos. Mas
foi a minha plataforma [na
PSA, chamam de plataforma
dois, para carros médios] e posso explicar sobre esse carro em
particular. O projeto, de 2002,
tinha, por motivos econômicos,
de preservar o desenho das
portas traseiras. Isso faria o
carro ter preço competitivo e
ótimo espaço interno. Trocar o
desenho da porta seria caro, e
decidimos mantê-la. Assim como o 307, ficou um teto alto
com bom espaço para a cabeça.
Desenhar a silhueta para o
sedã era mais difícil por uma
questão natural de proporção
do carro. Honestamente, quando desenhamos qualquer carro,
o fato mais importante é a proporção entre as formas.
FOLHA - Se o sr. tivesse a oportunidade de desenhar o 307 Sedan novamente, o que mudaria?
RYDER - Obviamente, depois
dessa experiência com baixos
volumes, não seguiríamos essa
mesma direção. Analisaria os
custos com os diretores e talvez
mexesse na porta para inclinar
um pouco a coluna traseira.
FOLHA - Como os japoneses?
RYDER - Sim. O Honda Civic é
um grande exemplo. Estava até
falando sobre ele nesta manhã.
Para mim, ele não tem um bom
espaço interno. Do design, eu
gosto. Mas, se você reduz a altura do teto, perde espaço interno. É um outro propósito.
FOLHA - Qual foi o propósito do
207 Passion?
RYDER - Bom, nesse foram modificados mais itens, com novas
portas. Sempre pensamos num
programa com várias silhuetas
para diferentes tipos de carro,
como hatch, peruas, cupês-conversíveis. Mas os sedãs são
sempre difíceis de desenhar.
Desenhamos uma vez uma
picape 307 para cinco pessoas
[semelhante à Strada cabine
dupla], mas não havia espaço
suficiente para as pessoas e para as bagagens na caçamba.
FOLHA - Como foi transformar o
206 em 207 aqui no Brasil? Alguns o
chamam de 206,5.
RYDER - Na Europa, esse carro
é chamado de 206 Plus e tem fila de espera. Quando lançamos
o 207 europeu, jovens diziam
que preferiam o 206.
FOLHA - Mas não era pelo tamanho do carro, e sim pelo preço.
RYDER - Claro que o preço é importante. Agora temos um carro que fica entre um e outro.
FOLHA - O 206 Plus sempre esteve
nos planos da Peugeot da França ou
foi uma saída para a crise?
RYDER - Decidimos atualizar o
206 com o design do 207 em
2005 para vendê-lo no Brasil e
na Europa. Quando lançamos o
carro no Brasil, em 2008, pensamos em anunciar que ele
também iria para a Europa,
mas não o fizemos. O anúncio
foi feito em fevereiro deste ano.
FOLHA - A Peugeot pretende desenhar projetos novos para mercados
emergentes, como o Renault Logan?
RYDER - Não acredito que um
Renault Logan seria o tipo de
carro ideal para a Peugeot.
FOLHA - Mas a Renault teve muito
sucesso com o carro...
RYDER - É verdade. O Logan
tem um design inteligente, mas
não provoca desejos em nenhum comprador. É preciso
despertar sonhos. Isso não é
simples, é muito complexo.
FOLHA - O sr. está no Brasil para conhecer melhor o brasileiro. Do que o
mercado precisa?
RYDER - Estou há muito pouco
tempo no Brasil. Após um ano,
espero sentir mais o mercado,
as pessoas, as tendências. Hoje
só tenho a impressão de coisas
típicas, como o futebol, o samba. Também importante para
nós foi a personalidade de Ayrton Senna. Ele foi um dos maiores pilotos e desenvolveu importantes conceitos de carros.
FOLHA - Quando vocês projetaram
a silhueta do 207 já pensavam em
fazer uma picape 207?
FREDERICO CEZAR LAGUNA - [Silêncio]. Bem, se fôssemos produzir
uma picape, não seria apenas
"cortar" um hatchback e fazer
uma caçamba. É preciso ter espaço para diferentes aplicações, como carga, bagagem,
moto. É preciso trabalhar bem
próximo da engenharia para
adaptar a suspensão. A do
hatch não é forte o suficiente.
FOLHA - Se o sr. tivesse feito a picape, seria no Brasil ou na França?
LAGUNA - No Brasil. Esse carro
é para esse mercado, e não para
o mercado europeu. Pelo menos agora. A Europa não tem
tradição em picapes leves. Aqui
temos incentivos do governo
nesse segmento compacto, voltado para pessoas jovens.
Só posso dizer que, se a companhia decidisse fazer [picape
207], seria benfeito. Analisaríamos os concorrentes, como a
Montana, a Arena [nova Saveiro], a Strada. Veríamos o que
cada um tem de bom e faríamos
algo tecnicamente melhor.
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