São Paulo, domingo, 16 de dezembro de 2007

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Pagar para pagar

Acaba taxa para antecipar fim do financiamento, mas ela, que chega a R$ 10 mil, permanece para contratos já existentes

DENISE RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Millôr Fernandes sempre diz que, além da ida ao inferno, ele teme os juros bancários. Mas não são só eles que causam medo: quem financiou um carro até a semana passada é obrigado a pagar uma taxa se quiser liquidar o financiamento.
O Banco Central extinguiu, em 6 de dezembro, a TLA (Taxa de Liquidação Antecipada) para os contratos novos, mas ela ainda pode, por lei, alcançar R$ 10 mil para os antigos.
"Notamos dificuldade dos clientes em saber exatamente o que estão pagando pelos serviços prestados pelos bancos", admitiu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após a decisão.
O Conselho Monetário Nacional também definiu regras para a "multa". Os bancos não podem cobrar de quem quitar o financiamento em até sete dias depois da sua liberação ou antes de um ano do vencimento.
Mas segue a farra de taxas e juros. E, já que as revendas não dão curso de matemática financeira, o governo e o Banco Central se amparam no livre mercado. Afirmam que cabe ao cliente comparar tarifas e buscar custos menores.
O conselho a quem não entender as contas é pedir ajuda aos órgãos de defesa do consumidor, como fez a aposentada Nadia Cristina Alonso, 43.
"Paguei 27 das 36 prestações do meu Renault Clio. Para quitar, calculei um desconto proporcional de juros de R$ 1.200, mas o Santander me cobrou R$ 1.000 só de TLA."
Alonso espera uma audiência de conciliação com o Santander para fevereiro, mas o banco devolveu os R$ 1.000, mesmo reclamando da legalidade da taxa ao Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor).

Camuflados
A publicitária Elisabeth Lima Maciel, 42, ficou ainda mais indignada. Ao pagar as últimas parcelas adiantadas de seu Peugeot 307, descobriu mais taxas embutidas no financiamento.
Juros incidiram sobre a TAC (Taxa de Abertura de Crédito, de R$ 590), a TEC (Taxa de Emissão de Carnê, de R$ 3,40 por folha) e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Eles "comeram" parte dos descontos a que ela teria direito -na verdade, o "desconto" é a redução de juros, já que não faria sentido pagar mais por uma parcela antecipada.
A publicitária concluiu que o Banco PSA aplicou taxas de 2,05% ao mês, em vez de 1,89% previsto no contrato. E achou um "assalto a mão armada" ter conseguido amortizar apenas R$ 6.000 dos R$ 44 mil que tomou emprestados.
"Apesar de já ter pagado cerca de R$ 19 mil [em 12 meses], tive de encarar uma fatura de R$ 38.189 para obter o documento de quitação." Ela ainda se deparou com um extra de R$ 1.600, pois, pelos cálculos do Procon-SP, que analisou o contrato, a dívida era de R$ 36.552.


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