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Pagar para pagar
Acaba taxa para antecipar fim do financiamento, mas ela, que chega a R$ 10 mil, permanece para contratos já existentes
DENISE RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Millôr Fernandes sempre diz
que, além da ida ao inferno, ele
teme os juros bancários. Mas
não são só eles que causam medo: quem financiou um carro
até a semana passada é obrigado a pagar uma taxa se quiser liquidar o financiamento.
O Banco Central extinguiu,
em 6 de dezembro, a TLA (Taxa
de Liquidação Antecipada) para os contratos novos, mas ela
ainda pode, por lei, alcançar
R$ 10 mil para os antigos.
"Notamos dificuldade dos
clientes em saber exatamente o
que estão pagando pelos serviços prestados pelos bancos",
admitiu o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, após a decisão.
O Conselho Monetário Nacional também definiu regras
para a "multa". Os bancos não
podem cobrar de quem quitar o
financiamento em até sete dias
depois da sua liberação ou antes de um ano do vencimento.
Mas segue a farra de taxas e
juros. E, já que as revendas não
dão curso de matemática financeira, o governo e o Banco Central se amparam no livre mercado. Afirmam que cabe ao
cliente comparar tarifas e buscar custos menores.
O conselho a quem não entender as contas é pedir ajuda
aos órgãos de defesa do consumidor, como fez a aposentada
Nadia Cristina Alonso, 43.
"Paguei 27 das 36 prestações
do meu Renault Clio. Para quitar, calculei um desconto proporcional de juros de R$ 1.200,
mas o Santander me cobrou R$
1.000 só de TLA."
Alonso espera uma audiência
de conciliação com o Santander
para fevereiro, mas o banco devolveu os R$ 1.000, mesmo reclamando da legalidade da taxa
ao Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor).
Camuflados
A publicitária Elisabeth Lima Maciel, 42, ficou ainda mais
indignada. Ao pagar as últimas
parcelas adiantadas de seu Peugeot 307, descobriu mais taxas
embutidas no financiamento.
Juros incidiram sobre a TAC
(Taxa de Abertura de Crédito,
de R$ 590), a TEC (Taxa de
Emissão de Carnê, de R$ 3,40
por folha) e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Eles "comeram" parte dos
descontos a que ela teria direito
-na verdade, o "desconto" é a
redução de juros, já que não faria sentido pagar mais por uma
parcela antecipada.
A publicitária concluiu que o
Banco PSA aplicou taxas de
2,05% ao mês, em vez de 1,89%
previsto no contrato. E achou
um "assalto a mão armada" ter
conseguido amortizar apenas
R$ 6.000 dos R$ 44 mil que tomou emprestados.
"Apesar de já ter pagado cerca de R$ 19 mil [em 12 meses],
tive de encarar uma fatura de
R$ 38.189 para obter o documento de quitação." Ela ainda
se deparou com um extra de R$
1.600, pois, pelos cálculos do
Procon-SP, que analisou o contrato, a dívida era de R$ 36.552.
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