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CAPITÃES DA INDÚSTRIA - CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE
Tucson será nacional em 2008; 3º carro só vem em 2009
À espera de indenização da Renault, presidente da Hyundai diz que tem contrato melhor que o da Mitsubishi
PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
EDITORA DE SUPLEMENTOS
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
Carlos Alberto de Oliveira Andrade, 63, não se agüenta de felicidade. Neste ano, inaugurou, com seu próprio capital, a fábrica da Hyundai no Brasil, além de
ter visto as vendas de um único produto -o utilitário
esportivo Tucson- aumentarem 258%.
O empresário paraibano, que
lidera o grupo Caoa (acrônimo
de seu nome observado inicialmente pela Renault, de quem
foi sócio), é uma personalidade
polêmica no setor. Sonhando
em desenvolver um carro brasileiro, diz ser beneficiado por
um contrato "fora dos padrões"
com a Hyundai, que lhe cobra
US$ 150 de royalties por carro.
Maior vendedor da Ford na
América Latina, briga até hoje
na Justiça com a francesa. Mesma Justiça que já o condenou a
mais de cinco anos de prisão
por crime contra o sistema financeiro -ele ainda recorre.
Andrade é o primeiro a ser
entrevistado na série que a
Folha passa a publicar hoje
com os presidentes de montadoras que produzem no Brasil.
FOLHA - Por que o sr. trocou a carreira de médico pela de empresário?
CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA ANDRADE - Eu era médico as 24
horas do dia, por isso não tinha
tempo para gastar. O que eu ganhava amealhava. Em 1979,
comprei um Landau e, como
não o entregaram, pedi o dinheiro de volta. A condição do
dono da concessionária era
muito ruim, mas ele ia vendê-la
e me pagaria. Esperei, e nada.
Comprei a concessionária por
5 milhões de cruzeiros [o equivalente a R$ 1,4 milhão].
A concessionária cresceu demais, e a Ford achou aquilo
magnífico. A Ford tinha problema com uma concessionária no Recife e perguntou se eu
não queria ir para lá. Fui às 8h e
às 14h a tinha comprado.
FOLHA - Quanto tempo demorou
entre as duas compras?
ANDRADE - Cinco meses. A primeira eu comprei em julho de
79, e a segunda, em dezembro.
FOLHA - Como nasceu o grupo?
ANDRADE - O presidente da
Ford me chamou para vir a São
Paulo, e, do mesmo jeito, comprei a concessionária. A do Recife, que vendia 60 carros, passou para 250. A de São Paulo foi
de 80 para 300. Comprei outra.
Cresci com a Ford e fui chamado para a Espanha. Comprei
concessionárias em Madri.
Isso foi em 1991, época em
que a Renault me procurou para ser seu importador. Eu já era
considerado o maior distribuidor Ford. Em 1992, assinei o
contrato com a Renault. Eu
criei a empresa CA de Oliveira
Andrade, mas o pessoal da Renault abreviou para Caoa.
FOLHA - O sr. ficou quanto tempo
com a Renault?
ANDRADE - Fiquei até 1996 como importador. Fiquei como
concessionário, depois me tornei sócio da Renault. Em 1998,
nós nos separamos, foi quando
eu peguei a Subaru.
FOLHA - A separação foi litigiosa.
ANDRADE - A Renault quebrou
o contrato, alegou um monte de
bobagem. O problema é que a
Renault tem uma grande dor-de-cotovelo. Em 1995, vendemos um grande número de veículos, coisa que depois ela não
conseguiu vender. No ano seguinte, encerramos a relação
comercial por decisão dela.
O problema é que o pessoal
me procurava como a pessoa da
Renault no país, o que a incomodava. Eu continuava como
concessionário Renault. Isso
criou um clima de insatisfação.
FOLHA - Já recebeu a indenização?
ANDRADE - Está rolando (risos).
FOLHA - Como entrou a Subaru?
ANDRADE - A Subaru pertencia
ao grupo Vicunha, eu a adquiri.
FOLHA - Por que o grupo Caoa focou na Hyundai, e não na Subaru?
ANDRADE - Em 1999, eu tinha
um estoque muito alto da Subaru, e houve aquele problema do
dólar. Passei três anos vendendo esse estoque. Claro que isso
afetou a marca. Vendia uma
média de 150 carros por mês, e
as vendas caíram para 40.
Em 2002, lancei a linha nova
da Subaru, mas houve novamente o problema do dólar, na
época da eleição do Lula. Além
disso, ela sempre primou pela
qualidade e nunca deu importância ao design. Em 2008, a
Subaru lançará cinco modelos.
FOLHA - Se a Subaru sempre primou pela qualidade, a Hyundai, até
pouco tempo atrás, era mais quantidade do que qualidade.
ANDRADE - Em 1980, a Hyundai
entrou nos EUA, vendeu uma
grande quantidade de carros
superequipados, mas com uma
qualidade muito ruim. Esses
carros deram 1.001 problemas,
e ela se retirou com uma imagem abalada. Voltou nos anos
90 dando dez anos de garantia,
mas com carros pequenos.
Em 2001, lançou o Santa Fe,
seu primeiro carro de luxo. Foi
aí que passou a ser carro de
classe média alta. Em 2005,
trouxe para o Brasil 150 Tucson
com a perspectiva de vender 50
por mês, mas vendi tudo no primeiro mês. No fim de 2005, já
vendia 200 Tucson por mês.
Em 2006, as vendas chegaram
a 600 carros. Fechei 2007 com
3.100 carros [por mês]. Foram
2.000 Tucson em novembro.
FOLHA - E a fábrica de Anápolis?
ANDRADE - Em setembro, outubro do próximo ano, lançamos
o Tucson nacional. Investi cerca de R$ 300 milhões.
FOLHA - Houve pressa para inaugurar a fábrica até abril?
ANDRADE - A gente tinha que
inaugurar de qualquer jeito para não perder os incentivos.
FOLHA - Serão HR, Tucson e...
ANDRADE - Tem mais um carro
em 2009. Vou à Coréia discutir.
FOLHA - O Elantra tem chance?
ANDRADE - É uma possibilidade.
O problema é que não tem
Elantra para vender. Então vou
lançar em janeiro o Azera, um
carro de alto valor agregado.
FOLHA - O sr. disse que recusou um
concessionário por ele ter problemas na Justiça. Mas o sr. foi condenado por crime contra o sistema financeiro nacional.
ANDRADE - O meu consórcio,
como todos os de 1989 a 1992,
era regido pela Receita Federal.
Depois, a partir de 1993, passaram a ser fiscalizados pelo Banco Central. O que faziam? Pegavam o dinheiro que estava no
consórcio e aplicavam. Mas não
há crime, não há nada.
FOLHA - O sr. não tem mais essa
empresa de consórcio?
ANDRADE - Tenho, e funciona
com licença do Banco Central.
FOLHA - Anunciou-se que o faturamento do grupo Caoa atingirá US$ 4
bilhões neste ano. É verdade?
ANDRADE - Não, US$ 4 bilhões,
não, R$ 4 bilhões! Nosso faturamento em 2006 foi de R$ 1 bilhão, R$ 1,5 bilhão. Neste ano é
que realmente cresceu muito.
FOLHA - Valeu a pena trocar a carreira de médico pela de empresário?
ANDRADE - Estou satisfeito.
Não conheço ninguém que tenha uma fábrica de automóveis. Eu tenho. Os royalties que
eu mando para a Hyundai são
insignificantes. E isso não foi
graças a mim, foi graças à negociação que o Inpi [Instituto Nacional de Propriedade Intelectual], para aprovar o meu contrato, fez com a Hyundai. Eles
mudaram 30 itens do contrato.
FOLHA - Royalties insignificantes?
ANDRADE - Por carro, US$ 150,
uma quantia besta em troca da
tecnologia que me dão.
FOLHA - Seu contrato com a Hyundai é parecido com o que Eduardo
Souza Ramos tem com a Mitsubishi?
ANDRADE - Completamente diferente. Eu fabrico aqui os carros que a Coréia está fabricando. E o Eduardo só fabrica carro
ultrapassado. O TR4 e o Pajero
Sport saíram de linha [no Japão] há muitos anos.
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