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Flex caseiro
Lojas convertem carro a gasolina, e cliente acredita na originalidade do bicombustível
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 15 dias, a frota veicular da
cidade de São Paulo atingiu
6 milhões de unidades -20%
são bicombustíveis. O mercado
vê tanta necessidade de oferecer carros que rodam com álcool ou gasolina que muitos a
gasolina, antes de serem revendidos, são convertidos a álcool,
mas vendidos como flexíveis.
A Folha visitou 20 lojas no
centro e nas zonas norte e sul
de São Paulo, e muitas admitem vender carros convertidos
sem o cliente desconfiar.
Segundo os lojistas, o valor
baixo do álcool faz com que o
cliente prefira os bicombustíveis, sem perguntar se o sistema é de fábrica. Em São Paulo,
de acordo com a ANP (agência
nacional do petróleo), o preço
médio do litro do álcool, na semana passada, era de R$ 1,27
contra R$ 2,37 do da gasolina.
"Vendi um Celta convertido
para álcool há um mês. O carro
estava tão bom que, antes de o
cliente perguntar, já disse que
era "flex'", lembra o funcionário de uma loja do centro.
Seu vizinho, que também
não quis se identificar, foi
além: "A gente ainda compra
um adesivo de "flex" aí na Duque [de Caxias, avenida do centro conhecida por suas autopeças]. Não custa mais de R$ 5".
Um terceiro vendedor indicou oficinas que fazem a conversão. "Temos um "cara" na
Penha [zona leste], outro na
Casa Verde [norte] e outro na
Mooca [leste]. É só escolher."
Consumo maior
Muitos lojistas afirmam que,
se a conversão de gasolina para
álcool for bem feita, o cliente
não perceberá que não é de fábrica. Mas não é o que diz Waldemar Christofoletti, membro
do comitê de veículos de passeio da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
Isso porque o carro convertido consome mais do que um
flexível com álcool, ultrapassando a vantagem de 30% do
combustível sobre a gasolina.
"Trocar o chip não é suficiente. Para ter economia de combustível, é preciso elevar a taxa
de compressão do motor, além
de trocar a válvula termostática
e as velas de ignição."
Já José Roberto Campos,
coordenador das comissões
técnicas da AEA (associação de
engenharia automotiva), afirma que o primeiro sintoma da
conversão é o aumento da
emissão de poluentes.
"Qualquer oficina pode acoplar um software e modificar o
motor, mas nenhuma faz cálculos de emissão e de durabilidade. O carro convertido será reprovado na vistoria do Detran
[Departamento Estadual de
Trânsito], quando vigorar."
A Assovesp (associação dos
revendedores de veículos de
São Paulo) disse que não poderia se pronunciar porque seu
presidente, único autorizado a
falar, estava viajando.
Fraude
Para o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), vender carros a gasolina
como bicombustíveis é uma
fraude sobre sua originalidade.
O Procon-SP (Fundação de
Proteção e Defesa do Consumidor) alerta que a informação
deve ser clara e precisa.
Ambos aconselham o cliente
lesado a encaminhar o caso à
Justiça comum e, se quiser, pedir a troca do carro, o dinheiro
de volta ou um abatimento proporcional ao dano.
O Detran-SP informa que a
conversão de gasolina para álcool é legal, mas deve constar
no documento do carro.
Para isso, o motorista deve
pagar para o Detran autorizar a
mudança, apresentar a nota fiscal original dos serviços e das
peças utilizadas e levar o carro
para uma vistoria num posto
credenciado pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial), que emitirá o Certificado de Segurança Veicular.
Depois de cumpridas todas
as etapas, o Detran modificará
o CRV (Certificado de Registro
do Veículo) e o CRLV (Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo).
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