São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

Próximo Texto | Índice

ESQUADRILHA DA FUMAÇA

Existem 6,8 milhões de carros com mais de 11 anos no país; veja histórias de donos desses modelos

"Velhinhos" são um terço da frota nacional

Roberto Assunção/Folha Imagem
O vendedor Pedro Luiz Andrade em sua Chevrolet Marajó 81 que, segundo ele, "afugenta ladrões"


LARA SCHULZE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Eles são velhos, feios e, em boa parte, muito malconservados. Apesar disso, relutam em se aposentar. Trata-se dos carros com mais de 11 anos de fabricação, que hoje respondem por mais de um terço (35%) da frota nacional de veículos de passeio e comerciais leves, segundo dados do Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores).
Ou seja, em todo o Brasil -mas sobretudo na periferia dos grandes centros urbanos-, há aproximadamente 6,8 milhões de carros considerados "velhinhos".
Em São Paulo, a frota é relativamente mais nova que no restante do país. Automóveis produzidos até 1985 significam 18% dos que rodam na cidade, de acordo com a AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
Enquanto projetos como o de renovação da frota não saem do papel e a inspeção veicular não se intensifica, haja transtornos -que vão do trânsito pesado ao alto índice de emissão de poluentes, passando pela dor no bolso dos próprios donos dos carros.
Do universo desses que costumam atrapalhar o trânsito, colhem-se histórias das mais curiosas. Um exemplo é a do advogado Oscar de Almeida Bessa, 26, dono de um Opala 73, que carrega sempre um "kit carro velho": arame, alicate, chaves de vela e de fenda, além de água para o radiador.
"Outro dia tive de trocar a vela na hora, no meio da rua", conta o advogado, que já trabalhou como mecânico. A vida desses motoristas é sempre no limite. "O motor já está para fundir, mas [o carro" ainda anda. É só não forçar muito", diz o porteiro Valdir do Nascimento Oliveira Filho, 23, que tem um Volkswagen Passat 77.

Só primeira e segunda
"Já troquei o motor duas vezes porque o carro não suporta ficar andando em primeira e segunda marchas por muito tempo. Ele começa a querer morrer", afirma o vendedor Pedro Luiz Andrade, 34, que tem uma perua Chevrolet Marajó 81 "para o dia-a-dia".
Carros velhos afugentam ladrões. "Quem roubar vai ter prejuízo", conta o jardineiro José Carlos de Sá, 48, que tem uma perua Ford Belina 84. "Fiquei com vergonha de colocar a Marajó no estacionamento e parei na rua. Não levaram o carro, só o meu boné de R$ 50", diz Andrade.
"O certo seria um programa de inspeção por parte do poder público no segundo ano do veículo", afirma Marco Antonio Saltini, diretor de normas da AEA, que critica a insuficiência de fiscalização.
"A inspeção veicular poderia ser um incentivo à renovação", completa o diretor. De onde se deduz que a envelhecida frota não deve ser renovada tão cedo.



Próximo Texto: Rodar com segurança é o mínimo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.