São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Lei de mercado

Europa exige itens de segurança, enquanto Brasil compra os de conforto, mesmo que custem mais caro

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

O "crash-test" realizado pela ProTeste (associação brasileira de defesa do consumidor) em julho de 2006 e divulgado há menos de um mês, com um Volkswagen Fox, levantou uma polêmica: por que o brasileiro prefere itens de conforto e conveniência aos de segurança?
Entre os "populares", há ar-condicionado em 35% dos carros novos, mas não são nem 2% os equipados com airbag e freios com ABS (antitravamento). Na Europa -o Fox produzido no Brasil é vendido lá-, todos os automóveis zero-quilômetro vêm com a bolsa inflável. O ABS está em 90% dos carros.
"O europeu compra airbag e ABS porque pode pagar. O brasileiro, além do baixo poder aquisitivo, vê o ar-condicionado como segurança, pois os vidros ficam fechados", explica Omar Madureira, professor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo).
"Pela lei, os europeus não são obrigados a oferecer equipamentos de segurança de série, mas, como o percentual sobre o valor final não é muito alto, o consumidor acaba exigindo", explica Fábio Ferreira, vice-diretor do comitê de veículos de passeio da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade).
O diretor de marketing da Chevrolet, Samuel Russell, conta que pesquisas da marca indicam que o brasileiro gostaria de um carro mais seguro, mas não quer pagar tanto por isso. "A carga tributária, que chega a 40% do valor do carro e dos itens de segurança, é o que eleva o preço final", diz Russell.
A Argentina -país em desenvolvimento como o Brasil-, fabrica e importa carros mais equipados. "Com impostos menores, os argentinos optam por itens de segurança, que não pesam tanto no preço. O brasileiro escolhe o que usa todo dia."
O preço, porém, não deve ser desculpa. Tanto o ar como o airbag equivalem a cerca de 10% de um Chevrolet Corsa. No Fox, o refrigerador sai por R$ 4.090, o dobro da bolsa.
Carlos Eduardo Becker, gerente de engenharia da TRW (fornecedora de itens como cintos de segurança e airbags para as montadoras), também diz que a redução na carga tributária e a produção em larga escala ajudariam a popularizá-los. "Como esses equipamentos são importados, é possível pleitear uma renúncia fiscal."

Lei engavetada
Essa revisão nos tributos é uma das reivindicações do projeto de lei 9.503/06. Segundo o autor, Dimas Ramalho (PPS-SP), ele está arquivado na Câmara dos Deputados, mas deve voltar a tramitar no fim deste mês. "Vamos fazer uma audiência com o governo federal, as montadoras e os fornecedores de autopeças para debatermos a segurança", diz Ramalho.
O texto do projeto prevê que, dentro de nove anos após a aprovação da lei, todos os veículos tenham airbag duplo e freios com ABS, itens que hoje equipam quase toda a frota de carros novos na Europa.
O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que os carros são obrigados a ter cintos de três pontos na dianteira e abdominais na traseira, encostos de cabeça (na frente e atrás, dependendo do ano do projeto) e barras de proteção laterais.
A Anfavea (associação das montadoras) não se pronunciou sobre o nível de itens de segurança dos carros nacionais.


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