|
Próximo Texto | Índice
Lei de mercado
Europa exige itens de segurança, enquanto Brasil compra os de conforto, mesmo que custem mais caro
FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
O "crash-test" realizado pela
ProTeste (associação brasileira
de defesa do consumidor) em
julho de 2006 e divulgado há
menos de um mês, com um
Volkswagen Fox, levantou uma
polêmica: por que o brasileiro
prefere itens de conforto e conveniência aos de segurança?
Entre os "populares", há ar-condicionado em 35% dos carros novos, mas não são nem 2%
os equipados com airbag e
freios com ABS (antitravamento). Na Europa -o Fox produzido no Brasil é vendido lá-, todos os automóveis zero-quilômetro vêm com a bolsa inflável.
O ABS está em 90% dos carros.
"O europeu compra airbag e
ABS porque pode pagar. O brasileiro, além do baixo poder
aquisitivo, vê o ar-condicionado como segurança, pois os vidros ficam fechados", explica
Omar Madureira, professor da
Poli-USP (Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo).
"Pela lei, os europeus não são
obrigados a oferecer equipamentos de segurança de série,
mas, como o percentual sobre o
valor final não é muito alto, o
consumidor acaba exigindo",
explica Fábio Ferreira, vice-diretor do comitê de veículos de
passeio da SAE (Sociedade de
Engenheiros da Mobilidade).
O diretor de marketing da
Chevrolet, Samuel Russell,
conta que pesquisas da marca
indicam que o brasileiro gostaria de um carro mais seguro,
mas não quer pagar tanto por
isso. "A carga tributária, que
chega a 40% do valor do carro e
dos itens de segurança, é o que
eleva o preço final", diz Russell.
A Argentina -país em desenvolvimento como o Brasil-, fabrica e importa carros mais
equipados. "Com impostos menores, os argentinos optam por
itens de segurança, que não pesam tanto no preço. O brasileiro escolhe o que usa todo dia."
O preço, porém, não deve ser
desculpa. Tanto o ar como o
airbag equivalem a cerca de
10% de um Chevrolet Corsa. No
Fox, o refrigerador sai por R$
4.090, o dobro da bolsa.
Carlos Eduardo Becker, gerente de engenharia da TRW
(fornecedora de itens como
cintos de segurança e airbags
para as montadoras), também
diz que a redução na carga tributária e a produção em larga
escala ajudariam a popularizá-los. "Como esses equipamentos
são importados, é possível pleitear uma renúncia fiscal."
Lei engavetada
Essa revisão nos tributos é
uma das reivindicações do projeto de lei 9.503/06. Segundo o
autor, Dimas Ramalho (PPS-SP), ele está arquivado na Câmara dos Deputados, mas deve
voltar a tramitar no fim deste
mês. "Vamos fazer uma audiência com o governo federal,
as montadoras e os fornecedores de autopeças para debatermos a segurança", diz Ramalho.
O texto do projeto prevê que,
dentro de nove anos após a
aprovação da lei, todos os veículos tenham airbag duplo e
freios com ABS, itens que hoje
equipam quase toda a frota de
carros novos na Europa.
O Código de Trânsito Brasileiro estabelece que os carros
são obrigados a ter cintos de
três pontos na dianteira e abdominais na traseira, encostos de
cabeça (na frente e atrás, dependendo do ano do projeto) e
barras de proteção laterais.
A Anfavea (associação das
montadoras) não se pronunciou sobre o nível de itens de
segurança dos carros nacionais.
Próximo Texto: Choque de órgãos é o que mata Índice
|