São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

Próximo Texto | Índice

Portas abertas

Chaveiros da capital abrem automóveis sem pedir identificação do cliente, o que é exigido por lei

Fotos Marcelo Justo/Folha Imagem
Com molho de chaves especiais, profissional tenta abrir a porta;
ele diz ao "cliente" que a Vila Mariana é um dos bairros mais visados


FELIPE NÓBREGA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não é mais preciso um ladrão para arrombar portas. Hoje, com a ajuda de um chaveiro, é possível invadir residências ou sair guiando um carro alheio.
A Folha, agindo como quem perdeu a chave do carro, foi a cinco chaveiros, escolhidos aleatoriamente nas cinco regiões da capital. Todos abriram um Ford Fiesta sem exigir nenhum documento que comprovasse a propriedade do bem.
Segundo a lei estadual 11.066/02, que disciplina a profissão, os serviços prestados devem ser registrados num formulário padronizado, com a autorização do cliente.
"O formulário nunca foi implantado", diz Paulo Sérgio Dezen, 49, que foi presidente do extinto sindicato da categoria.
Para Francisco Canindé, 42, presidente da Asbrac (Associação Brasileira do Grupo de Chaveiros), todo profissional deveria ser cadastrado. "Pagando, qualquer um pode fazer curso que ensina a abrir até cofre. Não existe fiscalização."
O governo do Estado justifica ser inconstitucional a lei, pois ela cria gastos para a Secretaria da Segurança Pública. É responsabilidade do órgão fiscalizar o serviço e dar cursos aos chaveiros -só o governo pode criar uma lei dispendiosa.
Segundo o chaveiro Marcelo Freitas Cavalcante, 35, nos EUA, a polícia deve acompanhar a abertura -o consulado do país no Rio, que reúne um centro de pesquisa, diz não ter como confirmar a informação.
Por confiar na "boa-fé" dos clientes, Adalberto Salgado, 44, quase se deu mal. "Um pai queria me processar porque o filho, menor de idade, bateu o carro da família. O garoto mandou fazer uma chave-reserva sem a autorização dele."
Um chaveiro é capaz de abrir um carro em menos de 20 segundos. O serviço custa cerca de R$ 40, mas o preço pode dobrar de acordo com a marca do veículo e o bairro em que está.

Complexidade
"Nos carros produzidos a partir de 2000, a chave tem chip, e o motor não dá partida se ela não é codificada", explica Denílson Migotto, 42, que cobra a partir de R$ 110 para fazer uma cópia criptografada. O processo leva 40 minutos.
Conforme aumenta a complexidade do sistema de abertura e da ignição, cresce o custo. No Renault Mégane, que tem chave em forma de cartão, uma nova peça custa R$ 480 e leva até 25 dias para vir da França.
O problema piora quando o usuário perde também as cópias originais. Por exemplo, num Totoya Corolla, é preciso trocar os cilindros das fechaduras e o módulo da injeção eletrônica. Segundo a InterJapan, os itens somam R$ 8.305.
Há uma tabela da Asbrac que padroniza o valor de cópias e confecção de chaves. Reprogramar o sistema de segurança e fazer chaves custa cerca de R$ 1.800. A Toyota diz que o procedimento anula a garantia.

VEJA A TABELA DE PREÇOS
www.asbrac.com.br



Próximo Texto: Outro lado: Chaveiros dizem ser caso isolado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.