São Paulo, domingo, 23 de março de 2008

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Tentação perigosa

Acessórios como rádio tiram a atenção do motorista; distração é 3ª maior causa de acidentes

CELSO DE CAMPOS JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A história é real: Michael Schumacher dirigia seu carro de passeio às vésperas do GP da Europa quando resolveu, a 80 km/h, trocar a estação do rádio. Não percebeu que o trânsito havia parado e acertou em cheio a traseira de um caminhão -acidente, por sorte, que não machucou ninguém.
Ao descer da cabine e ver o famoso piloto, o caminhoneiro, surpreso, apenas pediu um autógrafo. E acrescentou que iria pintar uma inscrição em seu pára-choque abalroado: "Schumacher bateu aqui".
É pouco provável que você seja recepcionado de forma tão festiva se, por pura distração, causar um acidente no trânsito. E, com os carros cada dia mais equipados como uma extensão da casa e do escritório -são TVs, DVDs, navegadores e até computadores a bordo, sem contar os rádios com MP3 e celulares que lêem e-mails, entre milhares de funções-, são muitas as tentações que acabam por tirar a atenção dos motoristas da pista à sua frente.
"A distração é a terceira causa de acidentes no trânsito, depois da dupla álcool-excesso de velocidade e da sonolência. No mundo moderno, essas ocorrências tendem cada vez mais a acontecer. Não duvido que, se continuarem nesse ritmo, elas superem as outras causas", diz Fabio Racy, membro da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego).
Um estudo da National Highway Traffic Safety Administration (que fiscaliza a segurança nas estradas americanas) apontou que cerca de 80% das batidas são causadas, em parte, pela distração do motorista.

Vergonha
Foi o que aconteceu com o comerciante S.R., 24, que atingiu em cheio a lateral de um Volkswagen Gol ao dar ré em seu Honda Civic. Ele estava mais preocupado em acertar o volume do rádio.
"Foram só alguns segundos de distração, mas o suficiente para me trazer muito prejuízo, já que tive de pagar o conserto dos dois carros", lembra. "Isso sem contar a vergonha de ter cometido um erro tão bobo", diz ele -que pede para que seu nome seja omitido.
Mas esse prejuízo foi pequeno. Em 2007, cinco garotas morreram em Nova York após o utilitário em que estavam entrar na contramão e bater de frente em uma carreta. A polícia chegou à conclusão, analisando os registros telefônicos, que a motorista enviava uma mensagem de texto pelo celular pouco antes da batida.
"Se você se distrai e tira o olho da estrada por três segundos, rodando a 100 km/h, são 80 metros percorridos às cegas", alerta Ingo Hoffmann, piloto profissional e chefe dos instrutores do curso de direção da BMW. "Nem é preciso dizer o perigo que isso representa."
Racy, da Abramet, lembra que, nesse cenário, qualquer atividade que exija interação do motorista deve ser evitada -por mais banal e rápida que seja. "Você está no banco do motorista para dirigir, e a melhor coisa a fazer é isso mesmo: dirigir. O resto pode ficar para depois", recomenda.


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