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Tentação perigosa
Acessórios como rádio tiram a atenção do motorista; distração é 3ª maior causa de acidentes
CELSO DE CAMPOS JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A história é real: Michael
Schumacher dirigia seu carro
de passeio às vésperas do GP da
Europa quando resolveu, a 80
km/h, trocar a estação do rádio.
Não percebeu que o trânsito
havia parado e acertou em
cheio a traseira de um caminhão -acidente, por sorte, que
não machucou ninguém.
Ao descer da cabine e ver o
famoso piloto, o caminhoneiro,
surpreso, apenas pediu um autógrafo. E acrescentou que iria
pintar uma inscrição em seu
pára-choque abalroado: "Schumacher bateu aqui".
É pouco provável que você
seja recepcionado de forma tão
festiva se, por pura distração,
causar um acidente no trânsito.
E, com os carros cada dia mais
equipados como uma extensão
da casa e do escritório -são
TVs, DVDs, navegadores e até
computadores a bordo, sem
contar os rádios com MP3 e celulares que lêem e-mails, entre
milhares de funções-, são muitas as tentações que acabam
por tirar a atenção dos motoristas da pista à sua frente.
"A distração é a terceira causa de acidentes no trânsito, depois da dupla álcool-excesso de
velocidade e da sonolência. No
mundo moderno, essas ocorrências tendem cada vez mais a
acontecer. Não duvido que, se
continuarem nesse ritmo, elas
superem as outras causas", diz
Fabio Racy, membro da Abramet (Associação Brasileira de
Medicina de Tráfego).
Um estudo da National Highway Traffic Safety Administration (que fiscaliza a segurança
nas estradas americanas)
apontou que cerca de 80% das
batidas são causadas, em parte,
pela distração do motorista.
Vergonha
Foi o que aconteceu com o
comerciante S.R., 24, que atingiu em cheio a lateral de um
Volkswagen Gol ao dar ré em
seu Honda Civic. Ele estava
mais preocupado em acertar o
volume do rádio.
"Foram só alguns segundos
de distração, mas o suficiente
para me trazer muito prejuízo,
já que tive de pagar o conserto
dos dois carros", lembra. "Isso
sem contar a vergonha de ter
cometido um erro tão bobo",
diz ele -que pede para que seu
nome seja omitido.
Mas esse prejuízo foi pequeno. Em 2007, cinco garotas
morreram em Nova York após
o utilitário em que estavam entrar na contramão e bater de
frente em uma carreta. A polícia chegou à conclusão, analisando os registros telefônicos,
que a motorista enviava uma
mensagem de texto pelo celular
pouco antes da batida.
"Se você se distrai e tira o
olho da estrada por três segundos, rodando a 100 km/h, são
80 metros percorridos às cegas", alerta Ingo Hoffmann, piloto profissional e chefe dos
instrutores do curso de direção
da BMW. "Nem é preciso dizer
o perigo que isso representa."
Racy, da Abramet, lembra
que, nesse cenário, qualquer
atividade que exija interação do
motorista deve ser evitada
-por mais banal e rápida que
seja. "Você está no banco do
motorista para dirigir, e a melhor coisa a fazer é isso mesmo:
dirigir. O resto pode ficar para
depois", recomenda.
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