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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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CAPITÃES DA INDÚSTRIA

Presidente da empresa, Walter Wieland, inaugura série de entrevistas e diz que a marca "exagerou" nos lançamentos de 2002

Para a GM, primeiro lugar não é prioridade

Fernando Moraes/Folha Imagem
LIGADO O presidente da General Motors do Brasil, Walter Wieland, que diz querer continuar no Brasil depois de aposentado; no destaque, tela de seu computador com o slogan da empresa


LUÍS PEREZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A General Motors do Brasil quer crescer, mas não tem como prioridade ser a número um. Não pode parar de evoluir, mas "exagerou" ao lançar cinco produtos em sete meses e meio no ano passado e deve ser mais prudente.
A avaliação é do presidente da empresa, Walter Wieland, 60, o primeiro a participar da série de entrevistas semanais que Veículos começa a publicar hoje com os dirigentes das cinco principais fábricas de automóveis instaladas no país -GM, Ford, Volkswagen, Fiat e Renault. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

Folha - Por que o Brasil é tão importante para a indústria automobilística mundial?
Walter Wieland -
Pelo mercado. As possibilidades de expansão do mercado são muito grandes. Além disso, a indústria automobilística do Brasil virou uma base não só para o mercado interno mas também para a exportação.

Folha - Mas o Brasil precisa fazer a economia crescer...
Wieland -
Exatamente. Mas, para isso, é preciso ter estabilidade, inflação e contas fiscais controladas. Em dois anos, tivemos desvalorização de 50%, 60% ou 70%. Isso provoca uma distorção, uma situação muito difícil para as empresas. Uma empresa automobilística não é uma pizzaria.
Amanhã, se não tem consumidor, você pára de fazer pizza. Depois de amanhã, começa novamente. Aqui você tem de planejar muito tempo antes. O que está fazendo hoje planejou um ano e meio atrás. Só que um ano e meio atrás tudo parecia diferente.

Folha - A gente vê Fiat e Volkswagen disputando a liderança de vendas no Brasil. E há uma velha questão, que sempre ouvi falar sobre a GM, de que lucro é mais importante do que liderança em número de unidades vendidas. Queria saber se a GM se preocupa com a liderança em vendas e se tem plano de ameaçar a montadora líder.
Wieland -
Aquele que não tem o objetivo de crescer de forma permanente não tem um plano de trabalho ou de operação razoável.
Não existe empresa que possa pensar em existir no mercado daqui a dez ou 15 anos se não tem claro um programa de crescimento contínuo. Empresa que deixa de crescer deixa de participar do mercado. A concorrência é realmente dura, muito difícil.
Nossa estratégia sempre foi a de que precisamos crescer no mercado. Em 98 e 99, estávamos com uma participação de 21%. No ano passado, chegamos a 23%, ficamos alguns meses liderando e começou uma coisa muito normal.
Veio a reação. Mas deixe que reajam. O importante é que se vá crescendo. É importante ser o número um do mercado? É.
Deixar de crescer é parar o relógio da empresa. A prioridade para a General Motors não é ser a número um. Espero que nossa imagem seja muito boa. É um conjunto de coisas: produto, tecnologia, qualidade, atendimento, atendimento, atendimento.

Folha - Qual o destino do Vectra no Brasil? Aqui há o Omega e o Astra Sedan. Que carro será colocado entre os dois?
Wieland -
Não posso anunciar isso hoje. O Vectra tem vida, ainda tem bastante vida. Quanto tempo não posso falar. O Vectra não vai morrer neste ano nem no ano que vem.
Há um plano, um programa muito bem estruturado, muito bem definido, para que o consumidor do Vectra, do Astra e do Omega tenha produtos.

Folha - Infelizmente não podemos ter o Vectra novo [europeu]...
Wieland -
Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo porque, fisicamente, não é possível. No ano passado já foi um exagero lançar cinco produtos em sete meses e meio. Corre-se o risco de ter problemas.

Folha - E sobre o novo carro de Gravataí?
Wieland -
Estamos conversando com as autoridades em Porto Alegre sobre a ampliação da fábrica e a possibilidade de produção de um modelo adicional. Seria para o mercado interno e para exportação. Esse novo modelo, que vai ser um complemento da linha Celta, porque tem partes comuns com o Celta, é um veículo que achamos muito interessante.

Folha - Então, já se pode dizer que será um carro pequeno...
Wieland -
Não, não, não. Não posso dar essa informação. Há os concorrentes. Impossível.

Folha - Já se pode dizer para quando é esse carro?
Wieland -
Posso dizer que é para os próximos 24 meses.

Folha - Vamos falar de um assunto espinhoso: a GM foi protagonista do maior recall de que se ouviu falar no Brasil. Até que ponto a sociedade já amadureceu para encarar o recall com naturalidade?
Wieland -
No começo, um recall rendia páginas inteiras dos jornais. Hoje há muitos recalls. De todas as marcas. Felizmente, todo mundo faz. O recall é muitas vezes uma prevenção, nem sempre um defeito. Você pára e, em benefício do consumidor, faz.
Acho que, nos mercados americano, europeu e japonês, nenhuma marca pode falar que nunca fez recall. Fica mais visível no caso dos carros do que no de outros produtos. Eu comprei produtos nos EUA, um televisor, foram à minha casa e trocaram o equipamento. Quem é absolutamente honesto com o consumidor faz o recall. Nós não corremos riscos.

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