Projeto de lei quer temporizador no semáforo para inibir "apressadinho"

Cerca de 20% das mortes de pedestres no trânsito ocorrem por atropelamento em sinais, revela estudo

Zanone Fraissat/Folhapress

Motorista desrespeita o sinal na av. Dr. Arnaldo com a rua Cardeal Arcoverde, na Consolação (centro)

RICARDO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O número de multas emitidas pela CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego) por avanço de sinal vermelho na cidade de São Paulo aumentou 9%: de 307 mil em 2008 para 333 mil em 2009.
Segundo a NHTSA (entidade de segurança no trânsito dos EUA), essa infração é responsável por 20% das mortes de pedestres no trânsito.
"Os motoristas infratores demonstram não se importar com o pedestre, e sim com os danos que outros carros podem causar em batidas", afirma a professora Iara Picchioni Thielen, coordenadora do NPT (Núcleo de Psicologia do Trânsito), da Universidade Federal do Paraná.
Para Thielen, o motorista brasileiro é mais individualista. "Acredita que o espaço do trânsito é dele e que pode fazer o que quiser", afirma.
Por lei, se o sinal abrir e o pedestre estiver na faixa, o motorista deve aguardar a travessia, o que raramente ocorre. Há quem acelere para pressionar o pedestre.
Para evitar avanços e arrancadas precoces no sinal, o projeto de lei 6.052/09, em análise na Câmara dos Deputados, propõe instalar temporizador no semáforo.
"Informar o tempo evita freadas bruscas e reduz acidentes", defende o autor do texto, deputado Carlos Humberto Mannato (PDT-ES).
Em São Caetano (Grande São Paulo), o temporizador foi adotado em 2000 em alguns sinais, e o número de acidentes caiu 13%. Seu preço (R$ 5.000), porém, é o dobro do do semáforo comum.

VIOLÊNCIA
Para José Mário de Andrade, diretor da Perkons, empresa de gestão de trânsito, o equipamento favorece maus condutores. "O relógio regressivo incentiva a acelerar para cruzar o sinal", opina.
Como os semáforos abrem em intervalos diferentes, Hugo Pietrantonio, professor de engenharia de transportes da USP, crê que o temporizador dificultará a sincronização.
Alguns infratores avançam o sinal para fugir da violência. Para a PM, não é desculpa. "O motorista deve reduzir antes do sinal e evitar parar", recomenda o tenente-coronel Marcelo Prado.
No Rio de Janeiro, é permitido passar no sinal vermelho de 0h às 5h em cruzamentos com mais assaltos.
Em São Paulo, isso depende de laudo sobre o fluxo de carros -e nunca é liberado em vias principais.


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