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Carro com sotaque
Preferência regional tira do Gol liderança em 8 Estados e reflete desigualdade social do país
JOSÉ AUGUSTO AMORIM
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS
O Volkswagen Gol pode ser o
carro mais vendido no Brasil há
20 anos, mas não são todos os
brasileiros que lhe dão o título.
Os paraibanos, por exemplo,
compram mais Mille e Palio
-ambos da Fiat- e Celta e
Classic -os dois da Chevrolet.
Isso é reflexo de uma preferência regional. "Há diferenças
por poder aquisitivo", analisa
Gustavo Schmidt, gerente de
vendas da Volkswagen. Na cidade de São Paulo, o Fox é o líder de vendas. E ele custa
R$ 3.930 a mais que o Gol.
Nos Estados onde a agropecuária move a economia, a preferência por picapes é clara. Em
Mato Grosso, a Chevrolet vende mais S10 (que parte de R$
68.812 em Cuiabá) que Celta
(R$ 25.580). Saem das lojas da
Toyota mais Hilux (R$ 71.490)
que Corolla (R$ 56.565).
Segundo a Fiat, seus três modelos mais vendidos no Centro-Oeste são o Palio, o Mille e a
Strada -exatamente por essa
ser uma região com muitas fazendas. Já em Sergipe, com exceção do Ford Fiesta, todos os
compactos são mais queridos
na versão sedã que na hatch.
E, nas vendas de carros, é
possível ver a mesma desigualdade que deteriora tanto a imagem do Brasil mundo afora.
No Ceará, o número de emplacamentos de Ford Fusion é
a soma dos da Renault Scénic
com os do Chevrolet Astra. O
problema é que o sedã custa,
em Fortaleza, R$ 82.790, enquanto a minivan parte de R$
54.470, e o preço inicial do
hatch é de R$ 48.145.
Dos 83 Eclipse que a Mitsubishi comercializou neste ano,
30 foram em São Paulo e 2 em
Rondônia. É a mesma quantidade de Peugeot 307 SW, de
Scénic, de Passat e de New Beetle -os últimos da Volkswagen.
Bairrismo
A Scénic mostra uma outra
particularidade do mercado:
onde as montadoras têm fábricas, vendem mais -por empatia do público e porque ela emplaca carros para uso próprio.
Assim, no Paraná, onde é
produzida, ela continua em pé
de igualdade com as outras minivans, algo que não se repete
mais no resto do país.
Se o Brasil emplacou mais
que o dobro de Citroën Xsara
Picasso que de Scénic, no Estado, a diferença se limita a 133. A
Chevrolet Zafira fica um carro
atrás -os números de emplacamentos usados neste texto
foram divulgados pela Fenabrave (federação das revendas).
Francisco Stefaneli, diretor
de vendas da General Motors,
também aponta que, nos grandes centros urbanos, tem crescido a busca por equipamentos
de segurança, como os freios
com ABS (antitravamento).
"São Paulo buscava mais
itens de conforto e agora também busca os de segurança,
mesmo em carros pequenos."
Claro que as fábricas têm ajudado. A Volkswagen criou um
pacote para o Polo com airbag,
ABS e EBD (distribuição de frenagem). Custa R$ 2.770, ou
46% a menos caso fossem comprados separadamente.
Na Fiat, o kit HSD ("High Safety Drive"), que inclui bolsas
infláveis e freios mais eficientes, está disponível para sete
modelos. Para a Idea, o valor
caiu de R$ 5.055 para R$ 2.930.
Prazos maiores de financiamento ajudam toda sorte de
equipamentos, pois o valor acaba diluído. Na linha VW, por
exemplo, a busca pelo ar-condicionado passou de 25% em
2006 para 45% neste ano.
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