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São Paulo, domingo, 27 de julho de 2003

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ADEUS

Última unidade será fabricada na quarta-feira, no México; "efeito coleção" explica valorização de bens que saem de linha

Aposentado, Fusca é mais caro que 0 km

Folha Imagem
Fusca de 1936


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O Fusca sai da linha de montagem para entrar na história. A última unidade do carrinho sexagenário sairá na quarta-feira, em Puebla, no México, única fábrica da Volkswagen no mundo que ainda dá existência a esse ícone da indústria automobilística.
É a senha para o Beetle, como é conhecido na língua inglesa, subir de preço. Apesar do projeto antiquado, o veículo, que já tinha alguma supervalorização, chega à aposentadoria com unidades usadas valendo mais que carros zero-quilômetro "populares".
Numa consulta ao mercado, é fácil encontrar um Fusca 1996, bem conservado e todo original, custando de R$ 12 mil a R$ 15 mil, o suficiente para comprar um Fiat Uno Mille zero-quilômetro básico, cotado em R$ 14.790.
A tendência é valorizar-se ainda mais. A previsão é de Sérgio Eduardo Fontana, 44, proprietário da loja Atlas Acessórios, especializada em peças de modelos fora de linha da Volkswagen. Ele conta que isso aconteceu no Brasil quando o carro deixou de ser feito pela segunda vez, em 1996.
O Fusca está se tornando parte de coleções e, por isso, encarece. "Objetos de aplicação cotidiana, quando são retirados de circulação e perdem o valor de uso, passam a ter um valor de troca como artigo colecionável", explica Maria Beatriz Florenzano, professora de Arqueologia da Grécia Clássica e Helenística do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (Universidade de São Paulo).
A teoria aplica-se ao Fusca. "Quanto mais raro o modelo, mais caro ele é", confirma Fontana. De acordo com Eduardo Ohara, um dos fundadores do Fusca Clube do Brasil, os modelos com janela traseira dividida, produzidos até 1953, trazidos da Alemanha, são os mais valiosos.
Em seguida, vêm os de janela oval, importados também, e os primeiros Fuscas produzidos no Brasil, a partir de 1959. Depois, as séries especiais, entre as quais se inclui a Ouro, produzida em 1996.
Mas mesmo as séries mais comuns andam cobiçadas ultimamente. A designer Francisca Cordula Albers, 25, recebeu uma proposta indecorosa por seu Fusca 84. "Levei o carro a um mecânico, e o dono da oficina me ofereceu R$ 8.000 por ele. Recusei, pois não o troco por carro nenhum", diz.
O padrão se repete para as peças de reposição. Certos componentes de um Fusca têm preços comparáveis a peças de carros de luxo. Um par de lanternas traseiras originais de Fuscas até 1961 custa em torno de R$ 500. É quase nove vezes o preço da mesma peça do Mercedes-Benz Classe A.
Há quem ganhe dinheiro com esse mercado. No ano passado, Henrique Erwenne, 65, restaurou e repassou mais de dez Fuscas. Recentemente, vendeu por R$ 14 mil um modelo 63 que comprara por R$ 1.500 e no qual gastara mais R$ 8.000 em peças.
Para conseguir as peças, Erwenne recorre a desmanches, lojas especializadas e, por vezes, até à importação. Os pneus de banda branca, por exemplo, são trazidos do México, onde custam US$ 100, enquanto no Brasil dificilmente saem por menos de R$ 800.

"Popular"
O Fusca entrou para a história automotiva como um dos carros mais vendidos e populares em todo o mundo. Foi fabricado em 20 países, das Filipinas à Costa Rica, e vendeu 21,5 milhões de unidades em seus 58 anos de linha de montagem.
Só no Brasil foram produzidos, até 1986, 3,037 milhões de Fuscas e, ao voltar à linha de montagem, de 1993 a 1996, mais 47.758.
No México, o "Vocho" teve 1,708 milhão de unidades comercializadas. De olho nos colecionadores, a Volkswagen prometeu trazer algumas unidades do "Última Edición" para o Brasil. A montadora ainda não confirmou quando virão, nem a quantidade. A única certeza é a de que custará em torno de US$ 13,5 mil.
(CHRISTOPHER LANGNER)


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