São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Brasil facilita sonho de motos

Baixo consumo e agilidade fazem delas opção de transporte mesmo para quem não sabe dirigir

Marcelo Justo/Folha Imagem


FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL

A balconista Maria Oliveira Santos, 29, sonha em comprar uma moto de 150 cm3, mas mal se equilibra sobre ela. Tem de pedir ajuda à ponta dos pés enquanto treina para tirar a carteira de habilitação num CFC (Centro de Formação de Condutores) em Indaiatuba (102 km a noroeste de São Paulo).
Seu instrutor, Vágner Rocha de Oliveira, 39, conta que ela, mesmo atropelando um cone ou outro, completou 15 horas de aula de moto -o mínimo exigido para fazer o exame no Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Se a balconista passar, poderá guiar desde um "scooter" de 50 cm3 até uma esportiva de 1.000 cm3.
"Ela está quase pronta para o teste", diz o instrutor, que, em quatro anos de profissão, nunca teve treinamento específico para ensinar a guiar uma moto.
"Eles [instrutores] só precisam cumprir as 120 horas do curso de auto-escola e ter a carteira "A" [para motos]. O Detran não exige especialização", afirma Wilson Kenji Yasuda, gerente de pilotagem da Honda.
"O que o instrutor pede para o aluno fazer, às vezes, nem ele sabe como realizar", diz Diego Silva Rocha, 26, instrutor da auto-escola paulistana Indaiá.
Na opinião de Magnelson Carlos de Souza, presidente da Feneauto (federação das auto-escolas), o nível dos instrutores é muito baixo. "Hoje as auto-escolas só preparam o aluno para o exame do Detran. É como um adestramento."
Para piorar, há quem pague para não cumprir as 15 horas práticas, o que criou uma fiscalização de freqüência por impressão digital em cinco Estados. Segundo Souza, em São Paulo, o sistema está fora do ar por um problema entre o Detran e a Prodesp (companhia de processamento de dados).
Em e-mail à Folha, o Detran-SP disse que só poderia comentar a possível "compra" se fossem informados os nomes da escola e do candidato.

Mudança
Souza é um dos 18 membros da câmara temática de habilitação do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), que encaminhou ao Contran (Conselho Nacional de Trânsito), no mês passado, uma proposta para modificar a resolução 168.
Ela estabeleceu que, para medir a habilidade, basta exigir que o motociclista drible cones, não freie e equilibre a moto com o pé esquerdo no chão.
"Como se desenvolve habilidades num circuito fechado? É difícil. O exame deve ser mais rigoroso", concorda Eduardo Sanches Faria, coordenador da câmara temática do Denatran.
"O exame não exige frenagem, por exemplo. O aluno nem pode "jogar" a quarta marcha. Por isso queremos levar os exames para a rua", conta Faria.
Até a entrada em vigor do atual Código de Trânsito Brasileiro, em 1998, havia três tipos de habilitação: A1 (motociclo até 50 cm3), A2 (motos até 125 cm3) e A3 (acima de 125 cm3).
"Deveria voltar a diferenciação por categoria e um outro trajeto para motos maiores", diz o presidente da Feneauto.
Mas aí é preciso mudar o código de trânsito. "Só o Congresso pode mudar a lei. Como resolução, podemos exigir motos de tamanhos diferentes para o exame. Mas isso impactaria nas moto-escolas. Será que é viável?", indaga Faria.


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