São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Por R$ 2, mototáxi atravessa Rocinha sem ter capacete nem habilitação

LEANDRO FORTINO
DA SUCURSAL DO RIO

Para Copacabana, são R$ 12; para o centro do Rio, R$ 20; Tijuca, R$ 25; Duque de Caxias, R$ 40. Mas, por R$ 2, você cruza a maior favela do Brasil em cinco minutos, um trajeto que liga os bairros de São Conrado e da Gávea, onde está a Rocinha.
Mais baratas e rápidas que os táxis convencionais, as motos são o principal meio de transporte dentro de comunidades cariocas, como as da Rocinha e do Vidigal, favelas vizinhas.
Mas também servem de táxi, seguindo os preços acima, para circular pela cidade com passageiros ou fazer serviços de office-boy, como os motoboys paulistanos. A diferença é que só saem nas ruas mototaxistas com carteira de habilitação e com documentação em dia.
"Quem é habilitado pode ir a Copa [Copacabana] e a outros lugares fora da Rocinha", explica o mototaxista Cristiano Santos Moura, 35 -ainda que o serviço de mototáxi seja proibido por lei em todo o Brasil.
"Quem não tem IPVA pago nem carteira, se sair daqui, é preso. Assim como os menores de 18 anos. Esses motoqueiros fazem só o serviço padrão, servem apenas à comunidade."

Sem lei
Quando o serviço de mototáxi começou na favela, há mais de uma década, existiam somente quatro pontos. Hoje já são 13, espalhados por locais estratégicos da comunidade.
Além de o serviço de mototáxi não ser regulamentado no Rio, de acordo com o Detran, pilotar sem capacete é infração gravíssima, com perda de sete pontos na carteira e multa de R$ 191,96. Mas essas leis não "pegam" na Rocinha. É raro ver um dos quase 600 mototaxistas da favela usando capacete ou mesmo calçado fechado.
Apesar dos riscos que correm motoqueiros e passageiros pela falta do capacete, o maior medo são os assaltos, muito comuns. "Nosso seguro é continuar respirando", conta Moura, que diz tirar R$ 1.500 por mês.
Os mototaxistas trabalham, em média, 12 horas por dia. Mas, quando há eventos na Rocinha, como shows e festas nos fins de semana, eles chegam a rodar mais de 15 horas.
Há três anos na favela, Mano Cacau, 30, trabalha como fiscal no ponto Moto Táxi Via, encaminhando passageiros aos táxis livres. Ele conta que, às 18h, no horário de pico, o sobe-e-desce é praticamente ininterrupto. Por isso as motos "voam". "Você pode atropelar alguém, tem de ter cuidado."


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