São Paulo, Domingo, 28 de Novembro de 1999


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E AGORA?
Empresas sem veículos a preços competitivos tendem a sair do mercado brasileiro
Real desvalorizado ameaça distribuição de importados

GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Reportagem Local

A situação do carro importado não está nada fácil no Brasil. Pouco competitivo desde a desvalorização do real e com uma relação custo/benefício que o inferioriza diante dos nacionais -que também andam com vendas fracas (houve queda de 11,8% de janeiro a outubro deste ano em relação ao mesmo período no ano passado, segundo a Anfavea)-, além de perder clientela, pode perder os distribuidores.
O problema não é de saúde financeira, mas de perda do atrativo. Se, para o consumidor, certos carros de passeio importados já não são interessantes, quem os vende também perde o interesse em continuar a distribuí-los.
Os principais afetados são os carros asiáticos de passeio, como os Mazda, Nissan, Daewoo, Daihatsu, Suzuki, Mitsubishi e Kia, além da russa Lada, a primeira marca de importados a deixar os consumidores na mão.
Dentre essas, Mitsubishi, Kia, Suzuki e Nissan levam a vantagem de oferecer carros segmentados, que podem garantir sua sobrevivência no país por não terem similares fabricados no Brasil.

Os mais atingidos
Daewoo e Daihatsu, controladas pelo Grupo Verdi, são as mais afetadas. O único produto segmentado da linha, o Daihatsu Terios, é um jipinho que assusta o consumidor pelo preço alto.
Levantamento feito pela Folha aponta que as vendas das duas montadoras no Brasil, em relação ao ano passado, foram 75,7% e 94,1% menores em setembro e 87,7% e 88,4% menores em outubro, respectivamente. Para quantificar o problema, em agosto de 1998 a Daewoo vendeu 117 carros; um ano depois, foram apenas 28.
A Lada, no Brasil, virou sinônimo de carro ruim e obsoleto, principalmente depois que as vendas da marca, em princípio as mais bem-sucedidas com a abertura das importações, sofreram o primeiro baque, com a alta das taxas de importação.
Mazda e Kia são as que oferecem mais alternativas de carros de passeio. No caso da Kia, os carros nunca representaram uma fatia expressiva de suas vendas, mas a Mazda conta apenas com eles para sobreviver no Brasil.
Sentindo a possibilidade de ficar sem assistência, os consumidores têm comprado só carros de empresas que já se estabeleceram ou estão com suas fábricas em adiantado processo de conclusão, como Peugeot e Citroën.

Fincando bandeira
A Renault, instalada no Brasil há pouco mais de um ano, já é a quinta montadora nacional, ultrapassando Honda e Toyota -que atua no país há mais de 40 anos, com o jipe Bandeirante.
O movimento foi detectado pelas empresas que pretendem continuar em solo brasileiro e têm bala na agulha para investir.
O Grupo Caoa, novo representante oficial da Hyundai, dona da Kia e da Asia -que não existe mais- no Brasil, reiniciou discussões com o governo da Bahia para implantar uma fábrica em Camaçari, aproveitando a estrutura que a fábrica da Ford criará.
Se sair realmente do papel -a Hyundai já havia ameaçado construir uma fábrica para produzir a van H 100 no mesmo local, mas não passou da pedra fundamental da obra-, deve ser produzida na unidade baiana a van H 100 ou os carros Atos e Accent.
O grupo, que representa também a Subaru, pretende montar ainda o Impreza, mas isso depende de negociações com as duas marcas, que podem se recusar a dividir a planta.

Coreanas
Os produtos da Asia, como a Towner e a Topic, devem continuar a ser produzidos na Coréia do Sul sob a bandeira Kia, mas, como a Asia desapareceu, os distribuidores brasileiros serão obrigados a trocar de marca quando os estoques chegarem ao fim.
A Kia Motors Corporation (a matriz sul-coreana) planeja trazer uma fábrica para montar a Topic, a Besta ou o Sportage, fábrica que foi desativada na Coréia do Sul por ser obsoleta.
A Kia Motors do Brasil, por sua vez, tem um projeto independente para fazer no país o caminhão Bongo, de montagem mais simples que a da Besta, por exemplo.
A Mitsubishi deve fabricar mais um veículo além da picape L200, provavelmente algum dos modelos da linha Pajero, que comanda as vendas de seus importados.


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