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Bactérias soltas pelo ar
Teste exclusivo mostra que sistema de ar condicionado concentra bactérias e fungos; higienização pode ser útil
ROSANGELA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Você já entrou num carro e
começou a espirrar? Ou sentiu
o olho lacrimejar sem desconfiar do motivo? São sinais de
que o interior desse automóvel
devia hospedar diferentes tipos
de fungos e bactérias. E o sistema de ar condicionado pode
agravar esse ambiente.
Para descobrir quem são esses micro-organismos, a Folha,
em parceria com o laboratório
Microbiotécnica, mediu a
quantidade de unidades formadoras de colônias nas saídas do
ar-condicionado de três carros
usados: uma Toyota Fielder
ano 2007 com 35.000 km, uma
Renault Scénic ano 2001 com
110.000 km e um Ford Fiesta
ano 1996 com 104.000 km.
Os três ainda passaram por
processos diferentes de higienização do ar-condicionado
para saber qual serviço realmente deixa o interior do seu
carro livre de maus elementos.
Resultado: a limpeza mecânica (retira o evaporador do ar
e limpa os dutos de ventilação),
a odorização (borrifa spray
bactericida nos dutos) e a nebulização (espalha vapor no interior) não eliminaram completamente os fungos e as bactérias do sistema de refrigeração (veja quadro ao lado).
Para surpresa, a nebulização
ainda elevou o número de fungos no sistema. "Os fungos hospedados nos dutos do ar e no
interior do carro podem ter se
soltado no ambiente com a nebulização", explica o biomédico
Roberto Figueiredo, especialista em saúde pública pela FGV
(Fundação Getulio Vargas).
Alergia
Figueiredo diz que o interior
de um automóvel é um ambiente pequeno, fechado e onde o
condutor passa um longo tempo respirando esse ar concentrado de fungos e bactérias.
"O primeiro sintoma é o lacrimejamento dos olhos, que é
uma resposta do organismo
contra um agressor. As lágrimas lavam seu olho", diz.
Caso a pessoa seja alérgica, a
resposta é ainda mais intensa,
afirma Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo Saldiva, um ambiente infectado pode despertar crises de rinite, sinusite e
até pneumonia em pessoas que
nunca apresentaram doenças
respiratórias. "Depende da resistência de cada um."
Em geral, esses problemas
ocorrem por falta de manutenção no sistema de ar. Um estudo do Gipa (Grupo Interprofissional de Produtos e Serviços
do Automóvel) aponta que, em
2008, apenas 2% dos carros tiveram o filtro do ar-condicionado trocado -os carros desse
teste tinham filtros originais.
Na frota brasileira de cerca
de 30 milhões de carros, 37%
estão equipados com o ar.
Para Amaury Oliveira, gerente de reposição da Delphi, é importante trocar o filtro, em média, a cada seis meses e ligar o ar
pelo menos duas vezes por semana. "Antes de desligar o ar,
ligue o ventilador por dez minutos para secar a umidade do
sistema. Reduz aquele cheiro
ruim", diz Oliveira, que só indica a limpeza mecânica do ar.
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