São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

Próximo Texto | Índice

Bactérias soltas pelo ar

Teste exclusivo mostra que sistema de ar condicionado concentra bactérias e fungos; higienização pode ser útil

ROSANGELA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Você já entrou num carro e começou a espirrar? Ou sentiu o olho lacrimejar sem desconfiar do motivo? São sinais de que o interior desse automóvel devia hospedar diferentes tipos de fungos e bactérias. E o sistema de ar condicionado pode agravar esse ambiente.
Para descobrir quem são esses micro-organismos, a Folha, em parceria com o laboratório Microbiotécnica, mediu a quantidade de unidades formadoras de colônias nas saídas do ar-condicionado de três carros usados: uma Toyota Fielder ano 2007 com 35.000 km, uma Renault Scénic ano 2001 com 110.000 km e um Ford Fiesta ano 1996 com 104.000 km.
Os três ainda passaram por processos diferentes de higienização do ar-condicionado para saber qual serviço realmente deixa o interior do seu carro livre de maus elementos.
Resultado: a limpeza mecânica (retira o evaporador do ar e limpa os dutos de ventilação), a odorização (borrifa spray bactericida nos dutos) e a nebulização (espalha vapor no interior) não eliminaram completamente os fungos e as bactérias do sistema de refrigeração (veja quadro ao lado).
Para surpresa, a nebulização ainda elevou o número de fungos no sistema. "Os fungos hospedados nos dutos do ar e no interior do carro podem ter se soltado no ambiente com a nebulização", explica o biomédico Roberto Figueiredo, especialista em saúde pública pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Alergia
Figueiredo diz que o interior de um automóvel é um ambiente pequeno, fechado e onde o condutor passa um longo tempo respirando esse ar concentrado de fungos e bactérias.
"O primeiro sintoma é o lacrimejamento dos olhos, que é uma resposta do organismo contra um agressor. As lágrimas lavam seu olho", diz.
Caso a pessoa seja alérgica, a resposta é ainda mais intensa, afirma Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo Saldiva, um ambiente infectado pode despertar crises de rinite, sinusite e até pneumonia em pessoas que nunca apresentaram doenças respiratórias. "Depende da resistência de cada um."
Em geral, esses problemas ocorrem por falta de manutenção no sistema de ar. Um estudo do Gipa (Grupo Interprofissional de Produtos e Serviços do Automóvel) aponta que, em 2008, apenas 2% dos carros tiveram o filtro do ar-condicionado trocado -os carros desse teste tinham filtros originais.
Na frota brasileira de cerca de 30 milhões de carros, 37% estão equipados com o ar.
Para Amaury Oliveira, gerente de reposição da Delphi, é importante trocar o filtro, em média, a cada seis meses e ligar o ar pelo menos duas vezes por semana. "Antes de desligar o ar, ligue o ventilador por dez minutos para secar a umidade do sistema. Reduz aquele cheiro ruim", diz Oliveira, que só indica a limpeza mecânica do ar.


Próximo Texto: Bactérias soltas pelo ar: Higienização varia de R$ 70 a R$ 2.000 e pode levar dois dias
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.