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20 anos a mil
O Fiat Uno Mille completa duas décadas e "conta" história do carro "popular" 1.0 , um fenômeno brasileiro que revolucionou a indústria
FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO
O guincheiro, assim que
chega ao estúdio fotográfico,
passa o olho na ordem de serviço e avisa: "Vim buscar o
Uno zero-quilômetro!".
O produtor, achando graça no engano, informa: "Na
verdade, o Uno zero é aquele
bege ano 1990".
O dono, o ortopedista Sérgio Minervini, 50, diz que o
automóvel rodou poucas vezes. As mais longas viagens
foram quando ele deixou a
concessionária Fiorelli, que
até fechou, rumo à garagem.
E de lá para o Detran trocar a
placa amarela pela cinza.
O velho hodômetro analógico não mente: na última
terça-feira, marcava 120 km.
Nem precisava: o interior
ainda cheira a novo e os bancos conservam o plástico que
os envolve desde a fábrica.
A Fiat, aliás, tem papel
fundamental na história dos
carros "populares". Em 1990,
era a única que tinha um motor passível de retrabalho capaz de reduzir a cilindrada
para até 1.000 cm³.
Minervini, no entanto, não
acha que seu Mille carburado
(48,5 cv) todo original esteja
"tão" impecável assim.
Ele aponta para um vinco
na porta quase imperceptível, que deixou o primeiro
proprietário desgostoso a
ponto de vender o carro.
Mesmo guardado na garagem há 20 anos, o veículo assistiu à enxurrada de novos
modelos com motores 1.0.
"Na verdade, o carro "popular" foi uma grande jogada
de marketing", revela à
Folha André Beer, ex-presidente da Anfavea (associação dos fabricantes) e um dos
articuladores do acordo com
o governo. Entre 1990 e 1994,
houve sucessivas quedas de
IPI (Imposto sobre Produtos
Industrializados) para incentivar a venda de carros com
motor de até 1.000 cm³.
CORRIDA
Volkswagen, Ford e GM tiveram de correr para ajustar
seus carros ao pequeno motor (e ao benefício fiscal).
Daí nasceram alguns mutantes como Chevette Junior
e Escort Hobby.
Mas foi a segunda geração
de "populares", com Gol, Ka,
Corsa e Palio, que catapultaram a indústria nacional da
12ª para a quinta posição no
ranking mundial de vendas.
Em 2009, foram 3 milhões de
unidades -seis vezes mais
que há duas décadas.
Especialistas, porém, preveem o declínio gradual da
participação do "mil" a medida em que o poder de compra do consumidor cresça.
Mesmo com a próxima geração de "populares" prevista para 2012, com os projetos
Onix (GM) e UP (VW). A Fiat
já lançou, na Itália, o motor
de 900 cm3 bicilíndrico turbo
(85 cv) que virá para o Brasil.
FOLHA.com
Assista ao "making of" da foto do Uno 1990 e 2010
folha.com/mm790316
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