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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]
OS MERCADORES DO BRASIL
Não sou contra o
lucro. Discordo de abusos e explorações ao consumidor praticados pelos bancos
BERTOLD BRECHT, o famoso
dramaturgo alemão, dizia que
"crime é fundar um banco".
Exageros verbais e literários à parte,
você sabe que sempre pode esperar
por uma nova maldade dos banqueiros. Hoje ou amanhã, ela virá.
O Conselho Monetário Nacional
(CMN) sinalizou, com bastante antecedência, que regulamentaria as
tarifas bancárias. Em dezembro, advertíamos, em nosso blog, para o risco de um hipertarifaço.
Sem bola de cristal, sem poderes
paranormais, acertamos, pois era
óbvio que isso ocorreria. Quem sempre se negou a reconhecer o Código
de Defesa do Consumidor (CDC),
quem reza pela cartilha do "Mercador de Veneza", clássico de Shakespeare, não agiria de outra forma.
O tarifaço chega a escandalosos
150%, em alguns casos. Tudo isso
para driblar o Sistema de Divulgação
de Tarifas de Serviços, que tem a irônica sigla "Star" (estrela, em inglês).
Obviamente, as estrelas, nesse caso,
não são os consumidores, mas os
banqueiros.
Já falei e escrevi várias vezes, mas
não custa repetir: não sou contra o
lucro. Não sou contra a cobrança por
produtos e serviços de acordo com o
mercado. Isso é do jogo.
Discordo de abusos, explorações e
desrespeitos ao consumidor. E os
bancos continuam jogando pesado,
não há como discordar.
Talvez seja decorrência de uma série de dissabores, como a obrigação
de respeitar o CDC, definida pelo Supremo Tribunal Federal, ao julgar
ação dos próprios bancos, em 2007.
Depois, já em 2008, com a criação
das regras para cálculo do Custo Efetivo Total (CET), que tornam mais
transparentes os custos abertos e
disfarçados que oneram os empréstimos bancários e demais financiamentos. Agora, devem ter se irritado
com a padronização da nomenclatura das tarifas, com os reajustes semestrais (ainda assim, uma benesse
em uma economia de contratos
anuais) e outras exigências.
Até agora, não há no horizonte
qualquer nuvem que ameace reduzir os lucros bilionários desses senhores. Os 101 bancos que atuam no
varejo no Brasil lucraram, em 2007,
mais de R$ 45 bilhões.
Como o jornalista Clóvis Rossi já
mostrou na coluna "Socialismo jabuticaba" (Opinião, 17.fev, pág.
A2), somente os lucros das quatro
maiores entidades financeiras no
ano passado superaram o que foi
aplicado no programa Bolsa Família. Ou seja, a Bolsa Banco rendeu
mais no ano passado.
Nada contra o lucro, reitero, desde que não seja extraído, principalmente, da cobrança de tarifas elevadíssimas, que ajudam a corroer o
bolso dos brasileiros, tão esvaziado
por impostos que nada geram em
termos de serviços -é só ver o que
a dengue está causando a milhares
de famílias brasileiras.
Portanto, que os mercadores de
Veneza, digo, banqueiros, revejam
o tarifaço e respeitem o consumidor e as leis que o protegem no
Brasil. É o mínimo que se pode exigir de quem tem recebido tanto e
tem devolvido tão pouco ao conjunto da sociedade brasileira.
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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