São Paulo, sábado, 06 de março de 2010

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Inspirados no Oscar

Roupas e objetos dos filmes que concorrem à estatueta viram referência de consumo fora das telas

FLAVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Não é de hoje que o cinema de Hollywood mobiliza nossos sonhos de consumo ou ideais de felicidade. Os vestidos de Scarlett O'Hara em "E o Vento Levou", a franjinha de Shirley MacLaine em "Se Meu Apartamento Falasse", a piteira de Audrey Hepburn em "Bonequinha de Luxo" e mesmo os óculos de Neo em "Matrix": há sempre nesses objetos um apelo às compras. Nesta semana, alguns dos filmes indicados ao Oscar, que acontece amanhã, renovam nossa listinha.
O colar de pérolas está em alta. Aparece com destaque para marcar a entrada da personagem adolescente de "Educação" no mundo mais divertido e menos inocente dos adultos. É também o item gracioso que devolve à desengonçada Julia Child (Meryl Streep) um pouco de feminilidade e é adotado por Julie, a funcionária pública entediada, para fantasiar-se como a cozinheira famosa.
As invejadas panelas Le Creuset e os outros utensílios da cozinha de Julia Child servem para contrabalançar o enredo meio sem graça de "Julie & Julia". A improvável e irritante placidez dos maridos das duas Julias do filme é um pano de fundo insosso para que brilhem na tela o perfume do boeuf bourguignon, as tortas de chocolate, o pato desossado.
Na Inglaterra dos anos 1960, a colegial que quer sair da mediocridade escuta discos de Juliette Gréco, fuma como os franceses e sonha em visitar Paris com o namorado mais velho. Por lá, não vai ter que usar o look camisa branca-gravata-saia obrigatório na escola. Em "Educação", o embate entre as noites de estudo e castidade e a liberdade de uma vida social com saídas noturnas, clubes de jazz e inconsequência se traduz no contraste entre o uniforme e os vestidos tubinhos, as bolsas brilhantes e a pintura de olho.
Em sua avalanche de referências e citações (como é o costume de seu diretor, Quentin Tarantino), "Bastardos Inglórios" apela para o uso de objetos que representam não a época nazista real, mas aquela Alemanha simbólica dos filmes de guerra, cheia de soldados elegantes e mulheres sofisticadas disfarçando intenções diabólicas. Têm destaque plástico objetos hoje meio arqueológicos, como os pesados telefones pretos. As singelas casquetes aparecem para dar ao vestuário um toque de feminilidade e disfarçar o que transita nas obscuras estratégias para vinganças e assassinatos.
É curioso que o filme favorito, "Avatar", proponha tão poucas novidades para consumo. No fundo, isso é coerente com suas propostas ecológicas e defensoras da tríade reduzir-reutilizar-reciclar. Veículos como tratores e helicópteros são mensageiros da morte trazida pelo progresso, e as tecnologias de transferência de DNA e de produção de energia aparecem como causadoras do mal. Nesse caso, ganham destaque os belos porém modestos adornos corporais usados pelos azuizinhos moradores de Pandora: colares, brincos e enfeites que poderiam ter sido feitos por qualquer hippie ecologista da esquina, mas que trazem a promessa de uma relação mais equilibrada com a natureza.


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