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Inspirados no Oscar
Roupas e objetos dos filmes que concorrem à estatueta viram referência de consumo fora das telas
FLAVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não é de hoje que o cinema
de Hollywood mobiliza nossos
sonhos de consumo ou ideais
de felicidade. Os vestidos de
Scarlett O'Hara em "E o Vento
Levou", a franjinha de Shirley
MacLaine em "Se Meu Apartamento Falasse", a piteira de
Audrey Hepburn em "Bonequinha de Luxo" e mesmo os óculos de Neo em "Matrix": há
sempre nesses objetos um apelo às compras. Nesta semana,
alguns dos filmes indicados ao
Oscar, que acontece amanhã,
renovam nossa listinha.
O colar de pérolas está em alta. Aparece com destaque para
marcar a entrada da personagem adolescente de "Educação" no mundo mais divertido e
menos inocente dos adultos. É
também o item gracioso que
devolve à desengonçada Julia
Child (Meryl Streep) um pouco
de feminilidade e é adotado por
Julie, a funcionária pública entediada, para fantasiar-se como
a cozinheira famosa.
As invejadas panelas Le
Creuset e os outros utensílios
da cozinha de Julia Child servem para contrabalançar o
enredo meio sem graça de "Julie & Julia". A improvável e irritante placidez dos maridos das
duas Julias do filme é um pano
de fundo insosso para que brilhem na tela o perfume do
boeuf bourguignon, as tortas de
chocolate, o pato desossado.
Na Inglaterra dos anos 1960,
a colegial que quer sair da mediocridade escuta discos de Juliette Gréco, fuma como os
franceses e sonha em visitar
Paris com o namorado mais velho. Por lá, não vai ter que usar
o look camisa branca-gravata-saia obrigatório na escola. Em
"Educação", o embate entre as
noites de estudo e castidade e a
liberdade de uma vida social
com saídas noturnas, clubes de
jazz e inconsequência se traduz
no contraste entre o uniforme e
os vestidos tubinhos, as bolsas
brilhantes e a pintura de olho.
Em sua avalanche de referências e citações (como é o
costume de seu diretor, Quentin Tarantino), "Bastardos Inglórios" apela para o uso de objetos que representam não a
época nazista real, mas aquela
Alemanha simbólica dos filmes
de guerra, cheia de soldados
elegantes e mulheres sofisticadas disfarçando intenções diabólicas. Têm destaque plástico
objetos hoje meio arqueológicos, como os pesados telefones
pretos. As singelas casquetes
aparecem para dar ao vestuário
um toque de feminilidade e disfarçar o que transita nas obscuras estratégias para vinganças e
assassinatos.
É curioso que o filme favorito, "Avatar", proponha tão poucas novidades para consumo.
No fundo, isso é coerente com
suas propostas ecológicas e defensoras da tríade reduzir-reutilizar-reciclar. Veículos como
tratores e helicópteros são
mensageiros da morte trazida
pelo progresso, e as tecnologias
de transferência de DNA e de
produção de energia aparecem
como causadoras do mal. Nesse
caso, ganham destaque os belos
porém modestos adornos corporais usados pelos azuizinhos
moradores de Pandora: colares,
brincos e enfeites que poderiam ter sido feitos por qualquer hippie ecologista da esquina, mas que trazem a promessa
de uma relação mais equilibrada com a natureza.
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