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Vale a pena ser fiel?
Foto Eduardo Knapp/Folha Imagem - Ilustração Gil Tokio/Pingado
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LÍGIA MESQUITA
EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE
Por um longo tempo, empresas acreditaram que, para conseguir a fidelidade do consumidor, bastava dar um cartão
"maxiultramegaplus" e fazê-lo
juntar "7.654.932" pontos para
trocar por um espremedor de
laranja. Hoje, o esforço para fazer alguém ser fiel a um produto, loja ou serviço é mais complexo e exige um trabalho sofisticado por parte de quem vende. Afinal, uma relação de confiança é algo que se conquista.
Entender fidelidade como
pré-condição e não como consequência é o primeiro erro da
maioria dos programas de relacionamento. "Não adianta falar
"se você ficar fiel a mim, dou isso e isso". É algo posterior", diz
Alexandre Diogo, presidente
do Instituto Brasileiro de Relação com o Cliente (IBRC).
Quem compra um produto
ou contrata um serviço busca,
em primeiro lugar, qualidade.
Em segundo, um atendimento
pós-venda rápido e eficiente.
"As empresas conquistam mil
clientes e investem em apenas
dez pessoas para atender", diz
Diogo. Em terceiro lugar, segundo ele, é que entra o fator
programa de vantagem.
O formato de relacionamento com o consumidor adotado
pelo mercado até hoje é o de
milhagem criado pela American Airlines, em 1981. O modelo, que alia acumulação de pontos para resgate de bilhetes aéreos e descontos em uma rede
de parceiros, se expandiu para
diversas categorias. "O diferencial de antes, hoje é obrigação.
Virou uma grande cópia", diz
José Roberto Labinas, diretor
da Ipsos Loyalty na América
Latina, instituto especializado
em satisfação do consumidor.
Nesse formato padrão, quem
vende pensa apenas na vantagem que deseja oferecer e não
no que a pessoa quer ganhar. E
o consumidor não busca nada
muito complicado: ele quer se
sentir especial.
A empresa que consegue perceber isso sai na frente. "Algumas companhias aéreas e de
cartões de crédito oferecem um
leque de benefícios que conferem exclusividade, como, por
exemplo, sala vip e seguro de
bagagem", aponta Labinas.
Poupar esforço e tempo é outra questão fundamental para
as pessoas. "O tempo é uma variável cada vez mais valorizada.
O cliente busca mais conforto,
algo condizente com o que quer
e acaba sendo infiel porque testa diferentes modelos", diz
Claudio Czapski, superintendente da ECR Brasil (Resposta
Eficiente ao Consumidor).
"Não queremos mais comprar
produtos e serviços. Isso tem
aos montes. Buscamos soluções convenientes", diz Denise
von Poser, especialista em marketing de relacionamento e
professora da ESPM.
Mas o lema adotado pelos
programas de fidelidade vai na
direção oposta. Para ganhar
uma caneta, a pessoa "fiel" tem
que andar com mais um cartão
na carteira, juntar um milhão
de pontos, conferir extrato, ficar de olho na validade da pontuação e resgatar o brinde em
algum lugar. "O cliente tem que
perceber que alcançará os benefícios, senão desiste do programa", diz Labinas, do Ipsos.
Prova de que mudanças são
necessárias e bem-vindas é a
reformulação do "Mais", programa de relacionamento do
supermercado Pão de Açúcar.
Entre as novidades implantadas pela rede na Grande São
Paulo está a eliminação do cartão de plástico. Já era possível
acumular pontos informando o
CPF ao caixa, mas agora os novos cadastrados nem recebem
mais o cartão. E em vez de brindes, cada R$ 1 gasto vale um
ponto que se converte em vale-compras. Mas nem tudo é perfeito: é preciso juntar 3.000
pontos para trocar por um vale
de R$ 20, que precisa ser retirado na central de atendimento.
Desde outubro, data da mudança, o número de cadastros
do "Mais" aumentou dez vezes,
segundo Deborah Franchin,
coordenadora de marketing do
programa."A proposta do programa e os benefícios não estavam claros para o cliente. Eles
perguntavam "para que serve?'", diz.
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