Plantada na 25 de Março, a Doural tem um espaço desproporcional à gigantesca oferta de utensílios para cozinha, mas a visita ao caos pode compensar

É o lugar onde uma vassoura com pá italiana, de design amebóide, pode custar R$ 200

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Doural é a loja certa no espaço errado. Para acomodar com um mínimo de conforto sua oferta de produtos para a cozinha, precisaria do dobro da área. Os corredores estreitos, as torres de panelas e as paredes forradas de utensílios causam emoções misturadas. O plano geral é estimulante, porque promete grandes achados.
Mas falta recuo para entender o que há de fato no meio daquilo, o que é aflitivo. Mais aflitivo, só imaginar como sair dali carregando um jogo de copos ou uma panela de ferro. Plantada na rua 25 de Março, a poucas casas da ladeira Porto Geral, a Doural fica no epicentro do inferno.
A oferta atual da casa, "fundada em 1905", destoa muito da vizinhança, em qualidade e variedade. Os preços também são outros, ainda que um pouco melhores do que os de regiões mais ricas. Derivado do setor "tapetes e cortinas" que ocupa a loja ao lado, o negócio das panelas e utensílios cresceu muito com o boom de serviços na área e, suspeito, com a mania de bancar o chef em casa, que tem um componente consumista importante. O mix da loja contempla todos, com utensílios básicos, eletrodomésticos da hora e importados profissionais.
Para quem busca resfriadores de vinho, cordões de amarrar petit-fours e demais apetrechos especializados, além de louças e taças, o negócio é subir para o mezanino sem olhar para os lados. Lá, além de uma dose extra de oxigênio, encontram-se "corners" de marcas gringas: AdHoc, Bugatti e Silit. Tudo eficiente, divertido e caro como panelas de titânio, máquinas de café ou frigideiras estampadas. Eis o lugar onde uma vassoura com pá, italiana, de design amebóide, pode custar R$ 200.
O caos do térreo é mais democrático. Para quem conseguir percorrê-lo sem esbarrar em nada quebrável, o que é uma proeza, tem coqueteleiras em forma de pingüim, relógios pop de parede, silicones made in China e pechinchas, como seis copos com estampa geométrica por R$ 20.
De espectro amplo, a oferta inclui isqueiros de mesa, balanças digitais e dispensador de cereais digno de um Holiday Inn em Miami. Melhor apostar na centrífuga Best Cook, que é a cara daquele juicer que a TV quer nos empurrar de qualquer jeito, mas custa três vezes menos. Não admira se estiver vendendo como água.