São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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CAPA

SÓ O QUE INTERESSA

Economia, durabilidade e simplicidade são características comuns aos objetos criados pela nova leva de designers brasileiros

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova casa é equipada com coisas fáceis de usar e feitas para durar. O design brasileiro mais sofisticado, ao contrário do que um leigo poderia pensar, não busca extravagância nem modismos: é a simplicidade a característica principal dos melhores objetos recém-criados -e premiados, dentro e fora do país.
Um exemplo dessa tendência são os módulos criados pelo escritório carioca Grupo Indio da Costa. Mais do que um móvel, o sistema chamado Carrapixxxo permite várias montagens: estantes que viram "home theaters", bibliotecas ou escritórios. Cada prateleira é presa à parede por semi-esferas, que podem ser mudadas de lugar e configuração. Esse trabalho recebeu o iF Design Award 2008, da Alemanha. "Como o sistema usa a estrutura das paredes, economizamos em pés e montantes", diz o designer Guto Indio da Costa, 38.
O Buraco Negro, do escritório Nó Design, resolve o problema de quem não consegue acabar com a bagunça em casa. A estrutura de mola de aço envolta em lycra se estende de acordo com o que o usuário vai colocando lá dentro. "O buraco só ocupa o espaço de acordo com seu uso", diz o designer Flávio Di Sarno, 29, que comanda o Nó Design junto com os sócios Leonardo Massarelli, 28, e Marcio Giannelli, 30. O projeto, que ainda não está à venda, recebeu o prêmio alemão Red Dot de 2007. "Os produtos precisam acompanhar o dinamismo da vida. Se pensarmos na relação das pessoas com os objetos, conseguimos ser essenciais", diz Di Sarno. Outra criação do escritório é o Homem-Elástico, ainda um protótipo, projetado para banheiros, mas que pode se prender a qualquer parede e segurar da escova de dentes à correspondência. "Usamos o mínimo de matéria-prima e criamos um objeto multifuncional, o que dificulta o descarte", diz Di Sarno.
Sustentabilidade, para esses designers, vai além do uso de materiais naturais ou recicláveis: tem a ver com a perenidade do objeto. O diretor-técnico do Museu da Casa Brasileira, instituição que organiza o prêmio de design mais importante do país, alerta para o uso indiscriminado do discurso da sustentabilidade. "Isso é usado de maneira mercadológica", diz Giancarlo Latorraca, 40. Ele lembra, por exemplo, que não adianta usar material reciclado e escolher processos de produção que desperdiçam energia.
Para os sócios do Nó Design, tão importante quanto a matéria-prima é o uso do objeto. "As pessoas têm móveis e equipamentos demais. Sem mudar o modo de vida, não adianta usar matéria-prima renovável", diz Di Sarno. Ele defende a criação de coisas que diminuam a necessidade de novas compras. Até porque, segundo o designer, ainda há controvérsias sobre o uso de materiais alternativos, como o plástico biodegradável, que se esgota em seu primeiro ciclo. "A única verdade nesse campo, por enquanto, é reduzir e reusar."

A mãe da invenção
A escassez de recursos e o menor poder aquisitivo dos consumidores brasileiros em relação à Europa e aos EUA são desafios que têm sido aproveitados para atiçar a criatividade nos projetos. "A abundância é pouco desafiadora. Resolver problemas acrescentando é fácil; reduzindo, é mais complicado", diz Indio da Costa.
Segundo Latorraca, a preocupação com a simplificação é presente nos trabalhos brasileiros, mas a identidade do design do país ainda está em obras. "Houve casos de desclassificações no último prêmio por causa de cópias", diz. Para o diretor do Museu da Casa Brasileira, no entanto, o principal desafio do bom design, seja de onde for, é ser útil e melhorar a qualidade de vida. Conforme o raciocínio de Latorraca, uma nova criação só terá relevância, neste mundo de consumo abusivo, e de abundância de supérfluos, se trouxer conforto e contribuir com processos que não agridam a natureza. "É preciso dar um salto, pensar no bem que aquilo vai trazer para o planeta. O mundo já está cheio de lixo."


onde encontrar
DPOT
al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.250, tel. (11) 3082-9513, São Paulo

EM2 DESIGN
r. Prudente de Moraes, 1.441, tel. (21) 2259-3720, Rio de Janeiro
www.em2design.com.br

LOJAS AMERICANAS
www.americanas.com

LUMINI
al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.441, tel. (11) 3898-0222, São Paulo

NÓ DESIGN
www.nodesign.com.br

SACCARO
al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.865, tel. (11) 3062-6297, São Paulo



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