São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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IDÉIAS RECICLADAS
[consumo comprometido com o futuro]

NA BASE DO ESCAMBO

Feiras de troca praticam solidariedade e outra lógica econômica

Divulgação
Moedas sociais que circulam em feiras e clubes de troca: ‘mirucas’ e ‘futuros’


CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma senhora guarda na bolsa dois copos de vidro, um prato e dez "alegrias". Acaba de fazer uma troca. A moeda social da feira do centro de São Paulo é a "miruca", mas ela só tem "alegria" para dar, a moeda de uma outra feira. "As mirucas já gastei", diz Márcia dos Santos, 60, vendedora que freqüenta todas as feiras de troca da cidade. "Quando eu estava desempregada, a feira me ajudou muito".
Talvez Márcia não saiba, mas ela participa de um movimento internacional nascido no Canadá, nos anos 80. Os clubes de troca tinham como proposta realizar transações com outra noção de valor e de trabalho, para fazer trocas justas.
Os primeiros clubes da América do Sul surgiram em 1995, na Argentina e se consolidaram durante a grave crise econômica enfrentada pelo país no fim daquela década. Três anos depois, chegaram ao Brasil.
Por aqui, as feiras e clubes têm o idealismo dos canadenses e o pragmatismo dos argentinos: jovens universitários trabalhando com comunidades da periferia, em São Paulo; ricos e pobres freqüentando as mesmas feiras em Florianópolis; e, em Brasília, a feira recebe famílias de classe média e estudantes. Ao todo, já são cerca de 40 feiras no país.
Com as trocas, colocam-se em prática os princípios de solidariedade. "É um meio de vida e de ajudar as pessoas", diz a costureira Nina Pereira, 42.
A diferença entre as feiras e os clubes é que as primeiras são abertas a todos, podem ou não ser fixas e acontecem esporadicamente ou em um evento maior. Já os clubes são associações com regras e princípios próprios e reuniões regulares. Em ambos, as trocas são diretas ou mediadas por uma moeda própria (leia texto ao lado).
Na fila do "banco" da feira do centro de São Paulo, João Batista quer trocar livros e uma flauta doce por mirucas. Naquele sábado de fevereiro, o clima é de quermesse, com música ao vivo, sanduíche de presunto e bandeirinhas no formato de tiras coloridas que atravessam o pátio alegre em que se transformou o viaduto soturno.


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