São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Gincana de obstáculos

Gente com deficiência estuda, rala, ganha. Mas, na hora de consumir, é duro: faltam lojas e marcas preparadas

Carvall


JAIRO MARQUES
COORDENADOR-ASSISTENTE

DA AGÊNCIA FOLHA Um grupo social ligeiramente mais silencioso que outras minorias está aparecendo com força no mundo do consumo: o da pessoa com deficiência. Gente que usa cadeira de rodas, que precisa de um cão-guia para se orientar ou de uma muleta para se deslocar está cada vez mais atuante no mercado de trabalho e também tem poder de compra.
Mas lojistas e administradores de shoppings mal percebem a necessidade de promover condições para que os "diferentes" possam exercitar o direito de comprar com liberdade. A questão nem é mais de inclusão. Trata-se de enxergar um público -que muitos imaginam preso em casa- como consumidor e cidadão pleno.
Uma loja sem espaços adaptados e sem pessoas abertas para receber um cego é, basicamente, cafona. Subestimar a condição financeira de outra pessoa pelo aspecto físico também é muito cafona. Que medidas podem ser tomadas para abrigar esse público ávido por comprar? Trabalhar a forma com que os vendedores tratam a pessoa com deficiência pode ser um começo. Em poucos casos esse consumidor não se comunica sozinho. Então, por favor, não evite o contato: é o cadeirante, o surdo, o cego que deve ser atendido, e não o seu eventual acompanhante.
Provadores de roupas devem ser largos para abrigar cadeiras de rodas, até as mais largas. Planejar a distribuição das mercadorias e pensar que um cachorro treinado poderá circular entre casacos de luxo é ter uma mentalidade condizente com um mundo moderno e que entende a diversidade.
Em São Paulo, alguns shoppings resolveram de forma inteligente o problema de pessoas desorientadas que estacionam nas vagas dos deficientes: esse público usa o espaço VIP pagando tarifa comum. Elevadores são para todos, mas são necessidade imediata para quem não pode usar as escadas rolantes. Às vezes é preciso lembrar o público disso. Mesas mais baixas na praça de alimentação, banheiros acessíveis e facilidade de acesso compõem um ambiente que pode ser visto como receptivo.
Além dessas questões, outro avanço ainda é incipiente no mundo das compras: o dos produtos específicos para gente com deficiência. São muito tímidas ainda as iniciativas para a criação de roupas, sapatos e utensílios que vão ao encontro da necessidade de quem passa a maior parte do tempo sentado ou que precisa de sinais luminosos em vez de sonoros para saber se o micro-ondas já descongelou a comida.
No Brasil, são 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência ou dificuldade motora. Não é parcela pequena da população. O deficiente está nas ruas, tem dinheiro e quer comprar. Basta que se sinta como qualquer outro consumidor.

O autor tem 34 anos, é cadeirante desde os 5 e tem o blog "Assim como você", na Folha Online

http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br



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