Marca de cosmético tenta clonar estilo Lush e não chega aos pés

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Já faz um tempo que a marca inglesa de cosméticos artesanais Lush fechou sua derradeira quitanda chique no Brasil. Não foi culpa da avidez dos vendedores em explicar as propriedades dos xampus em barra e óleos de massagem comestíveis até para quem não quisesse ouvir; nem dos preços meio absurdos para coisas tão efêmeras. As lojas fecharam em consequência de disputa judicial entre a matriz e os sócios brasileiros. A marca chegou a ter mais de 20 pontos de venda e eram, consta, sucesso.
Eis que agora seu vácuo se povoa de clones. O mais escandaloso atende por Passion Brasil. A logomarca é a cópia escarrada, mal disfarçada e piorada do logo da Lush. A vitrine das primeiras lojas (eles pretendem ser uma franquia) exibem sabonetes em barras irregulares, bolas de sal de banho efervescentes e outros itens "lushianos" que apelam aos sentidos, com nomes em inglês: "Aftershave Big Boss"; "Skin Tonic Fresh Leaf".
Nas prateleiras, sabonetes, máscaras e colônias (eles chamam de "splashes") prometem o frescor de algas, buriti, alecrim, flores brancas... Além de efeitos extracosméticos miraculosos, como no produto que "eleva a autoestima".
O texto na parede declara princípios: "Os cosméticos Passion não utilizam óleo mineral, não utilizam conservantes parabenos e não são testados em animais. (...) Consuma sem moderação".
Do marketing verde ao senso de humor, nada escapa da decalcagem da fórmula original (aliás, originalíssima) da Lush. É vergonhoso, ainda que nada inédito. Suponho que o consumidor local, carente de cosméticos eficazes e capazes de fato de estimular os sentidos, pudesse facilmente relevar a falta de imaginação.
Desde que o produto chegasse aos joelhos dos aromas transcendentais da Lush. No meu teste, o sabonete de ginseng (R$ 10) bateu na trave. Se nem perfumar o banho consegue, imagine o que poderá fazer por nossa cambaleante autoestima.