São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Crítica de loja [questão de gosto e de opinião]

O canto da sereia

Difícil resistir aos truques de sedução da carioca osklen

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Osklen é dessas lojas que dão um pouco de medo de entrar. Não se sabe o que intimida mais: se o interior imaculado, a brigada de vendedores prontos para perguntar seu nome ou os preços inacreditáveis das peças da vitrine. Mais do que conspurcar a decoração perfeita ou não ser tão chique quanto a loja, porém, o que se teme é sucumbir a uma sedução inevitável. O consumidor consciente -da própria vulnerabilidade- desconfia que é mais fácil não entrar do que entrar e não se engraçar por algum objeto do desejo incrível e caríssimo.
O canto da sereia ipanemense não é fraco. Oskar Metsavaht não inventou a "loja para os cinco sentidos", tão em voga entre os teóricos do varejo; mas como sabe fazer o truque funcionar. Os tecidos das roupas são de toque delicioso -linhos, camurças, malhas molinhas-, a música é boa, o ambiente é perfumado e imagens publicitárias exercem seu apelo desde pontos estratégicos. Numa delas, uma modelo exibe as costas nuas à luz da Baía da Guanabara, com o Pão de Açúcar atrás. Não se trata de criar só sensações prazerosas, mas um Rio mítico de tão chique, e que, por um preço nada módico, também pode ser seu.
A ambiência é uma das armas da marca, como as ferramentas de marketing que usa para vender uma identidade contemporânea e ecológica. Mas o fatal da Osklen, mesmo, é o estilo. Seja na roupa "básica", seja nas peças que são declarações, como a bolsa de palhinha de cadeira e os vestidos esculturais de quadrados de linho sobrepostos, a grife afirma, com originalidade rara, tendências mais duráveis do que os cacoetes sazonais da moda: a inspiração que vem do esporte, a combinação de fibras naturais e tecnológicas, a sofisticação do casual.
Infelizmente, por menos de R$ 200, só os papéis de parede que eles dão de graça no site. Na Osklen, uma bermuda de moletom preto custa mais do que isso; um vestido curto de malha, o dobro; e um top de tecido feito com garrafa PET, R$ 1.100. As bolsas, caras e ótimas, são uma opção estilosa e brasileira à decadência das marcas de luxo, na categoria "acessórios de poder". Para quem pode. Para o comum dos mortais, resta esperar pelo bazar, já que a liquidação não vai refrescar.


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