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Parafernália paranóica
Insegurança, medo e ansiedade viram produto. Veja exemplos de objetos de consumo afinados com o espírito do tempo
DANAE STEPHAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O desejo de salvar a própria
pele é um dos que vão orientar
o desenvolvimento de produtos nas próximas décadas. A
megatendência, batizada de
"safe" pela agência Observatório de Sinais, reflete a atual insegurança planetária e engloba
duas grandes correntes, segundo a explicação do sociólogo
Dario Caldas, diretor da empresa. A primeira corrente está
ligada ao medo da violência,
materializada em aparelhos de
segurança de alta tecnologia,
no estilo das fechaduras biométricas, que identificam pessoas
por meio de características como impressão digital.
A outra corrente está relacionada à preservação do corpo.
"Esse é um novo território dentro da época individualista que
já vivemos há tempos", diz Caldas. "A diferença é que antes o
individualismo era hedonista e
buscava o prazer. Agora está
voltado à autopreservação."
Nesse espírito se alinham os
alimentos funcionais industrializados e as traquitanas para mapear o corpo de todas as
maneiras possíveis, entre outros produtos.
Está tudo ligado a um momento sociocultural marcado
pelo pessimismo. "Até o final
dos anos 90, a evolução tecnológica, o crescimento econômico, tudo apontava para um futuro otimista", diz Caldas. "Na
virada do milênio, especialmente depois dos atentados do
11 de Setembro, o horizonte se
tornou mais sombrio". Os desastres climáticos e a preocupação com o futuro se juntaram
ao terrorismo, à guerra do Iraque e às neuroses urbanas para
completar esse humor.
O mercado responde a essa
tendência à altura, e a indústria
da segurança deita e rola: é uma
das que mais crescem no mundo, perdendo apenas para a cultura digital. Ao mesmo tempo
em que são aperfeiçoados equipamentos e sistemas de proteção, parte da indústria se aproveita para fabricar mais paranóia. Roupas feitas com tecidos
à prova de balas, celular que indica a localização do usuário e
supervitaminas são exemplos
que, se já não estão sendo vendidos em larga escala, ainda vão
cair no gosto do freguês.
"O que se deve questionar é
até que ponto determinado
produto ou aparelho serve de
fato e até que ponto ele está só
ajudando a construir uma paranóia", diz Caldas.
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