São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COBAIA/TESTE DE TERMÔMETROS [experiências e testes de consumidores]

PRECISOS, MAS FORA DA LEI

Idec analisa sete marcas de termômetros digitais; maioria está irregular

DA REDAÇÃO

O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) testou sete termômetros clínicos digitais. Nenhum fez feio no teste de precisão, realizado em laboratório: os resultados ficaram na margem de tolerância, em torno de 0,1º C. Em compensação, alguns modelos estão no mercado de forma irregular: não têm a certificação do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) ou não têm o selo de verificação do órgão.
Além disso, segundo Carlos Tadeu de Oliveira, supervisor de informação e coordenador de testes do Idec, a maioria dos termômetros apresentaram falhas que prejudicam seu uso.
Os aparelhos que apresentaram mais problemas, Vicks e Geratherm Flex, são os mais caros. O da Vicks (mais de R$ 25) não traz o contato do SAC e não informa sobre sua vida útil. Outra falha dessa marca, comum a quase todas as outras, é a dificuldade na troca de bateria e na limpeza do sensor (embora ofereça capas protetoras descartáveis).
"A troca de baterias é muito difícil em quase todos, são quase descartáveis, prontos para ir para o lixo, neste momento em que é preciso cada vez mais pensar nisso, recolher bateria, reciclar", diz Oliveira.
O Geratherm Flex tem quase os mesmos problemas do Vicks, mas informa o SAC.
O termômetro com melhor relação custo/benefício foi o G-Tech, justamente o mais barato (menos de R$ 15). Mas ele não traz informação sobre sua vida útil e também é difícil de limpar. "Os termômetros de vidro eram mais higiênicos, simples de limpar. Em quase todos esses modelos há um sulco entre o visor e o corpo plástico que acumula sujeira. No caso de um produto de saúde como esse, que muitas vezes é usado por várias pessoas, em postos de saúde, por exemplo, isso é um problema que precisa ser resolvido", diz o técnico do Idec.
Para ser comercializado, o termômetro precisa ter registro na Anvisa e no Inmetro, que também lhe confere um selo de verificação inicial, atestando sua qualidade. Três dos sete produtos avaliados não estavam regulares nesse quesito e foram desclassificados na avaliação geral. BD e Vicks não têm certificação nem selo. Já o Microlife não tem o selo, apesar de ser aprovado pelo órgão.
Por outro lado, todos eles são registrados na Anvisa, o que leva à conclusão de que não há interação entre a agência e o Inmetro no controle dos termômetros digitais. "A falta desse intercâmbio prejudica o consumidor, que, ao notar a inscrição de registro em um dos órgãos, dificilmente irá imaginar que ele esteja irregular em outro", diz o Idec, que enviou uma carta a ambos, notificando-os sobre as marcas irregulares.

Memória e manuais
Em relação às funções que auxiliam o uso do aparelho, não há grande diferença entre os modelos. Mas os manuais da Microlife e da FarMais não ensinam como acessar a memória que guarda o registro da última medição. No Microlife, nem sequer há menção à memória, que nos testes não foi possível acessar. Todos os aparelhos emitem um som indicando o final da medição. Mas como o Termo Med tem aviso diferenciado para febre alta, recebeu a melhor avaliação.
O manual de instrução acompanha todos os aparelhos avaliados, mas o texto do da Microlife e da Geratherm estavam em português de Portugal. Por isso, ganharam a pior classificação. Nesse último, algumas passagens foram consideradas incompreensíveis pelo Idec.

Saiba como foi feito o teste
O Idec avaliou os seguintes termômetros digitais: BD (modelo DT-203), importado pela Becton Dickinson Indústrias Cirúrgicas Ltda; FarMais (modelo 2038) e Geratherm Flex (GT 3020), importados pela Geratherm Medical do Brasil; G-Tech (TH 169), pela Accumed Produtos Médico-Hospitalares Ltda; Microlife (MT 3001), pela Salvapé Produtos Ortopédicos Ltda; Termo Med, fabricado pela Incoterm Indústria de Termômetros; e Vicks (V 900C), importado pela Intract.
Os exames de calibração foram feitos pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).
As temperaturas escolhidas para avaliação foram 34ºC, 37ºC e 40ºC (pontos críticos).
As demais características dos produtos foram analisadas pelos técnicos do Idec, que observaram as informações da rotulagem, as instruções, o funcionamento e a segurança dos aparelhos, assim como a facilidade na troca da bateria, a garantia, o acondicionamento, o rótulo do equipamento, a presença ou não de informação sobre vida útil, presença de informação sobre SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor), a robustez, o formato geral, a facilidade de limpeza e desinfecção e, finalmente, o preço.

Consumidor deve evitar termômetro de mercúrio
Os consumidores devem deixar de comprar termômetros de mercúrio, que se quebram facilmente. Nesse caso, o metal tóxico que fica dentro do vidro pode contaminar as pessoas, por meio da absorção pela pele ou pela inalação.
A quantidade de mercúrio em um único termômetro é pequena, mas essa substância se acumula, tanto no organismo quanto no ambiente.
Além disso, seu descarte inadequado pode causar problemas ainda maiores.
De acordo com Marcio Mariano, diretor-presidente da Associação de Combate a Poluentes (ACPO), no ambiente o mercúrio entra em contato com microorganismos e sofre transformações químicas que o tornam ainda mais tóxico.
Esse tipo de termômetro nunca deve ser jogado no lixo comum. Para descartá-lo, o consumidor pode tentar contatar o fabricante ou importador e cobrar dele uma destinação adequada para o aparelho. Outra alternativa é procurar um hospital que aceite juntá-lo aos seus termômetros, já que as recicladoras, em geral, não recebem esses produtos.
Por tudo isso, Cecília Zavariz, coordenadora do Programa Nacional de Mercúrio do Ministério do Trabalho, recomenda que os consumidores evitem os termômetros de mercúrio. Os digitais são bem mais caros, mas duram mais e não oferecem riscos.
Os termômetros de mercúrio já foram proibidos na União Européia, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendou sua substituição.


Texto Anterior: Dúvidas éticas: O que tem menos impacto: casa ou apartamento?
Próximo Texto: Outro lado: Empresas respondem
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.