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COBAIA/TESTE DE TERMÔMETROS [experiências e testes de consumidores]
PRECISOS, MAS FORA DA LEI
Idec analisa sete marcas de termômetros digitais; maioria está irregular
DA REDAÇÃO
O Idec (Instituto de Defesa
do Consumidor) testou sete
termômetros clínicos digitais.
Nenhum fez feio no teste de
precisão, realizado em laboratório: os resultados ficaram na
margem de tolerância, em torno de 0,1º C. Em compensação,
alguns modelos estão no mercado de forma irregular: não
têm a certificação do Inmetro
(Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial) ou não têm o selo
de verificação do órgão.
Além disso, segundo Carlos
Tadeu de Oliveira, supervisor
de informação e coordenador
de testes do Idec, a maioria dos
termômetros apresentaram falhas que prejudicam seu uso.
Os aparelhos que apresentaram mais problemas, Vicks e
Geratherm Flex, são os mais
caros. O da Vicks (mais de
R$ 25) não traz o contato do
SAC e não informa sobre sua vida útil. Outra falha dessa marca, comum a quase todas as outras, é a dificuldade na troca de
bateria e na limpeza do sensor
(embora ofereça capas protetoras descartáveis).
"A troca de baterias é muito
difícil em quase todos, são quase descartáveis, prontos para ir
para o lixo, neste momento em
que é preciso cada vez mais
pensar nisso, recolher bateria,
reciclar", diz Oliveira.
O Geratherm Flex tem quase
os mesmos problemas do
Vicks, mas informa o SAC.
O termômetro com melhor
relação custo/benefício foi o G-Tech, justamente o mais barato
(menos de R$ 15). Mas ele não
traz informação sobre sua vida
útil e também é difícil de limpar. "Os termômetros de vidro
eram mais higiênicos, simples
de limpar. Em quase todos esses modelos há um sulco entre
o visor e o corpo plástico que
acumula sujeira. No caso de um
produto de saúde como esse,
que muitas vezes é usado por
várias pessoas, em postos de
saúde, por exemplo, isso é um
problema que precisa ser resolvido", diz o técnico do Idec.
Para ser comercializado, o
termômetro precisa ter registro na Anvisa e no Inmetro, que
também lhe confere um selo de
verificação inicial, atestando
sua qualidade. Três dos sete
produtos avaliados não estavam regulares nesse quesito e
foram desclassificados na avaliação geral. BD e Vicks não têm
certificação nem selo. Já o Microlife não tem o selo, apesar de
ser aprovado pelo órgão.
Por outro lado, todos eles são
registrados na Anvisa, o que leva à conclusão de que não há interação entre a agência e o Inmetro no controle dos termômetros digitais. "A falta desse
intercâmbio prejudica o consumidor, que, ao notar a inscrição
de registro em um dos órgãos,
dificilmente irá imaginar que
ele esteja irregular em outro",
diz o Idec, que enviou uma carta a ambos, notificando-os sobre as marcas irregulares.
Memória e manuais
Em relação às funções que
auxiliam o uso do aparelho, não
há grande diferença entre os
modelos. Mas os manuais da
Microlife e da FarMais não ensinam como acessar a memória
que guarda o registro da última
medição. No Microlife, nem sequer há menção à memória,
que nos testes não foi possível
acessar. Todos os aparelhos
emitem um som indicando o final da medição. Mas como o
Termo Med tem aviso diferenciado para febre alta, recebeu a
melhor avaliação.
O manual de instrução acompanha todos os aparelhos avaliados, mas o texto do da Microlife e da Geratherm estavam em
português de Portugal. Por isso,
ganharam a pior classificação.
Nesse último, algumas passagens foram consideradas incompreensíveis pelo Idec.
Saiba como foi feito o teste
O Idec avaliou os seguintes
termômetros digitais: BD
(modelo DT-203), importado
pela Becton Dickinson
Indústrias Cirúrgicas
Ltda; FarMais (modelo
2038) e Geratherm Flex
(GT 3020), importados
pela Geratherm Medical
do Brasil; G-Tech (TH 169),
pela Accumed Produtos
Médico-Hospitalares Ltda;
Microlife (MT 3001), pela
Salvapé Produtos Ortopédicos
Ltda; Termo Med,
fabricado pela Incoterm
Indústria de Termômetros;
e Vicks (V 900C), importado
pela Intract.
Os exames de calibração
foram feitos pelo IPT (Instituto
de Pesquisas Tecnológicas).
As temperaturas
escolhidas para avaliação
foram 34ºC, 37ºC e 40ºC
(pontos críticos).
As demais características
dos produtos foram
analisadas pelos técnicos
do Idec, que observaram as
informações da rotulagem,
as instruções, o funcionamento
e a segurança dos
aparelhos, assim como
a facilidade na troca da
bateria, a garantia, o acondicionamento,
o rótulo do
equipamento, a presença
ou não de informação
sobre vida útil, presença de
informação sobre SAC (Serviço
de Atendimento ao
Consumidor), a robustez, o
formato geral, a facilidade
de limpeza e desinfecção e,
finalmente, o preço.
Consumidor deve evitar termômetro de mercúrio
Os consumidores devem
deixar de comprar termômetros
de mercúrio, que se
quebram facilmente. Nesse
caso, o metal tóxico que fica
dentro do vidro pode contaminar
as pessoas, por meio
da absorção pela pele ou pela
inalação.
A quantidade de mercúrio
em um único termômetro é
pequena, mas essa substância
se acumula, tanto no organismo
quanto no ambiente.
Além disso, seu descarte
inadequado pode causar
problemas ainda maiores.
De acordo com Marcio Mariano,
diretor-presidente da
Associação de Combate a Poluentes
(ACPO), no ambiente
o mercúrio entra em contato
com microorganismos e sofre
transformações químicas que
o tornam ainda mais tóxico.
Esse tipo de termômetro
nunca deve ser jogado no
lixo comum. Para descartá-lo,
o consumidor pode tentar
contatar o fabricante ou importador
e cobrar dele uma
destinação adequada para o
aparelho. Outra alternativa
é procurar um hospital que
aceite juntá-lo aos seus termômetros,
já que as recicladoras,
em geral, não recebem
esses produtos.
Por tudo isso, Cecília Zavariz,
coordenadora do Programa
Nacional de Mercúrio
do Ministério do Trabalho,
recomenda que os consumidores
evitem os termômetros
de mercúrio. Os digitais são
bem mais caros, mas duram
mais e não oferecem riscos.
Os termômetros de mercúrio
já foram proibidos na União
Européia, e a Organização
Mundial da Saúde (OMS) já
recomendou sua substituição.
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