São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]

Delícia meio tombada

Empório preservado é mais que um monumento ao passado


É um lugar para comprar embutidos incomuns, tâmaras, queijos, doces e bons vinhos. Sem falar no célebre bacalhau


TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Casa Godinho fica naquele lugar que meu avô chamava de "a cidade", e que, pelo menos para mim, continua quase tão obscuro e inóspito quanto soava na época. Saindo do metrô São Bento pelo lado oposto ao da ladeira Porto Geral, a Líbero Badaró parece preservada e em uso; por um momento, o velho Centro ganha uma certa dignidade e você acha que está em Buenos Aires. Mas, se as cenas de degradação explícita não tardam, o empório de 120 anos, em processo de tombamento, é recompensa para qualquer coração com senso histórico.
Quem põe o pé no ladrilho hidráulico charmosamente detonado do piso original não pode deixar de agradecer às boas almas que pensaram melhor antes de trocar aquilo tudo por porcelanato, ou solução "prática" que o valha. Para sorte da cidade, os donos sempre souberam ver o valor real do empório, algo acanhado para os padrões atuais, dos armários de imbuia até o teto, alto, à placa de 50 anos recebida do frigorífico Eder.
Ao mesmo tempo, e essa é a grande graça, cuidaram de manter a casa viva. Sem descaracterizar a arquitetura, deram aos passantes novos motivos para entrar, com intervenções como o balcão envidraçado de pães, salgados e doces e a geladeira de bebidas; e, no quesito oferta, mantiveram-se no rumo dos produtos seletos, de novo tão em voga.
O resultado é que, embora ofereça uma deliciosa oportunidade de respirar o ar de outro tempo, a Casa Godinho não é um monumento empoeirado ao comércio do começo do século passado. É, antes de tudo, um lugar para comprar embutidos menos comuns, como alheiras e chouriços portugueses de sangue, além de tâmaras, queijos sírios temperados, condimentos a granel, docinhos árabes e bons vinhos. Para não falar do bacalhau célebre e do presunto Pata Negra (a peça inteira, seis quilos, custa R$ 1.780).
Não consigo pensar em lugar melhor para se abastecer numa manhã de sábado, antes de uma festa; ou, apenas, para comer empada de camarão em pé, sentindo o aroma dos salames e dando graças por alguma coisa ter escapado a um século de modas do varejo.


ONDE ENCONTRAR

Casa Godinho
r. Líbero Badaró, 340, Centro tel. (11) 3105-1625, São Paulo



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