São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

CÓDIGO DA CIDADANIA


Nunca penso no CDC só como um Código de Defesa do Consumidor; ele é também um Código da Cidadania


AMANHÃ, DOMINGO , o Dia Internacional do Consumidor completará 47 anos. E o Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor há 18 anos -completados na última quarta-feira. Ou seja, a luta pelos direitos do consumidor já atingiu a maturidade. E o excelente CDC do Brasil já é um jovem com plenos direitos, dono do seu nariz.
Direitos do consumidor são tão importantes porque estão entrelaçados a outros conceitos de cidadania: os quatro atributos do ser humano, como cidadão, eleitor, contribuinte e consumidor.
Somente de posse desses quatro direitos (e deveres) somos completos, íntegros, sujeitos e agentes da história.
Consumir é uma responsabilidade sem par, porque afeta as relações de trabalho, ecologia e ambiente, relações humanas e empresariais. Comprar um produto ou serviço significa, de alguma maneira, chancelar ou não comportamentos, práticas e decisões.
Quem compra um tênis fabricado por crianças que deveriam estar na escola, em um país pobre, queira ou não, assina embaixo a exploração daqueles menores de idade.
Quem adquire os frutos do combate, do tráfico de drogas, da exploração de subempregados, é coautor desses crimes.
Quem se deslumbra com um móvel esculpido em madeira nobre, ameaçada de extinção, que cale a boca antes de falar em defesa do planeta Terra.
O mundo globalizado, interligado pela internet, já não admite quem olha para o lado enquanto bandidos corrompem ou dilapidam patrimônios universais.
O consumidor, mais do que acender a 18ª velinha para comemorar o aniversário do seu Código, pode e deve ser consciente.
Lembrar-se de que a água é escassa e valiosa demais para substituir a vassoura na limpeza de uma calçada.
Que não se jogam sofás, geladeiras e fogões em córregos, em um dia, e depois se lamenta a enchente inesperada de um dia tórrido de verão.
Se você é contra a exploração de crianças no mercado de trabalho, informe-se sobre a origem dos produtos que compra.
Se acha um absurdo que patrões abusam dos direitos do trabalhador, avalie se vale a pena comprar um MP4 de um país que não respeita esses direitos.
Vivemos em um mundo em que a hipocrisia não passa mais despercebida aos olhos dos outros. Quem quiser tratamento digno deve agir dignamente em relação aos demais.
Um automóvel sem catalisador não polui somente o ar que os outros respiram. Uma gelatina com corante proibido em países desenvolvidos ou excesso de açúcar faz mal para todos, inclusive para nossas crianças.
Lutar pelos direitos do consumidor não é veleidade, não é atitude xiita, é somente autodefesa. O produto que faz mal para os filhos dos outros também afeta nossos filhos.
Por isso, nunca penso no CDC somente como um Código de Defesa do Consumidor. Para mim, é também o Código da Cidadania. A forma de melhorar ou piorar o mundo. Você, leitor, leitora, escolhe em que mundo quer viver. Mas já sabe que o bumerangue dos maus atos é rápido e nada sutil. Volta na sua cabeça, dos seus filhos, dos seus entes queridos. Pense nisso.


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