São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Tecnologia e serviços precários


Os pacotes dos celulares atendem mais aos interesses das operadoras do que às necessidades dos usuários


NOTEBOOK COM PROCESSADOR Core 2 Duo, Core 2 Quad ou Celeron? Especialistas em tecnologia da informação, engenheiros, aficionados pelo assunto podem escolher, facilmente, a configuração do microcomputador que pretendam comprar, sem se enrolar nesta sopa de letrinhas.
E o consumidor comum: eu, você, leitor, leitora? Podemos ler os cadernos de informática, pesquisar na internet, mas será que ao chegar à loja, virtual ou não, escolheremos com segurança o modelo mais adequado às nossas necessidades e à nossa renda? Dificilmente.
Os serviços precários são um dos muros que impedem o avanço das conquistas tecnológicas. Na maioria das lojas e nos sites de vendas, as informações são mínimas. Ninguém explica, por exemplo, que o notebook com processador Intel Celeron tem um preço mais acessível, mas que não é indicado para aplicativos gráficos ou jogos.
Quando contratamos um serviço de banda larga, em tese, deveríamos contar com a velocidade de acesso pela qual pagamos. Ledo engano! Na TV por assinatura, somos soterrados por filmes reprisados "ad aeternum", e a TV digital, bem, foi mais fumaça do que fogo. Os conversores continuam, e não há ampla oferta de programação.
Os celulares também poderiam contribuir para a qualidade de vida, mas os pacotes atendem mais ao interesse das operadoras do que aos dos usuários.
No caso dos notebooks, há, também, uma velada venda casada, com os "brindes" incluídos em pacotes obrigatórios. Um exemplo é o roteador gratuito, que acompanha versões com processadores mais avançados. Para começar, um roteador tem custo. Encarece o produto. Logo, não pode ser um presente.
Além disso, se o consumidor já tiver um roteador, e quiser comprar um micro de alto desempenho, é justo obrigá-lo a adquirir o acessório novamente? Obviamente, não é.
O cenário, então, é nocivo para quem não seja um especialista em tecnologia: pouca ou nenhuma informação sobre os produtos; pacotes que atendem unicamente aos interesses das empresas; serviços pagos que não estão de acordo com o que foi firmado nos contratos.
Enquanto esses abusos perdurarem, desfrutaremos somente de uma parcela dos benefícios dos milagres tecnológicos. E, o que é pior, a preços muito superiores aos do mercado internacional, em função de impostos e taxas que sustentam nossas eficientes e dedicadas autoridades e seus equivocados programas de governo.
Depois, demagogos públicos ainda falam em fomentar a inclusão digital. Deixam suas digitais, sim, nesses crimes contra a economia popular. Mas, daí, já seria outra história. Enquanto esse quadro não mudar, andaremos alguns passos atrás na civilização digital que cresce e toma conta do mundo.


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