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JOSÉ GERALDO COUTO VAI ÀS COMPRAS
[colunista em campo]
O MERCADO É DO MANÉ E DA MADAME
Ele escreve sobre cultura e futebol e também manda bem como guia
de Floripa: siga aqui o seu roteiro pelo ponto mais democrático da ilha
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Existe espaço mais democrático que um mercado público?
Acho que não. Nem a praia rivaliza com ele, pois há as praias
dos novos-ricos, as dos surfistas, as das famílias, as dos farofeiros, as dos pescadores, as dos
turistas abonados.
No mercado, não. Nesse lugar de troca esbarram-se o rico
e o pobre, o boêmio e o trabalhador, a perua e a doméstica, o
velho e o jovem.
No Mercado Municipal de
Florianópolis, há mais de cem
anos é assim. Os moradores e
visitantes são atraídos a ele
mesmo quando ainda não sabem muito bem qual é a sua necessidade ou o seu desejo.
Chegando aqui, todos os sentidos do cidadão são estimulados ao mesmo tempo. Cheiros,
cores e sons compõem uma atmosfera inebriante e sensual.
Visitar o mercado é quase uma
experiência erótica.
Ah, sim, as compras. É para
isso que estamos aqui. É para
isso que existem 140 boxes vendendo de tudo.
Antes de tudo, é preciso lembrar que o mar chegava até
aqui, na calçada lateral do mercado. Os barcos atracavam e
descarregavam os frutos do
mar, da terra e do trabalho humano. Há 30 anos, um aterro
levou o mar para longe, ocupando com avenidas, terminais
de ônibus e estacionamentos o
território conquistado.
Mas a vocação marítima do
mercado permaneceu. É um de
seus mais fortes atrativos. Aqui
você pode comprar uma caranha fresquinha, de quase 20
quilos, por R$ 100, na Peixaria
Nelson Sanches (boxes 28 e
29). Ou então, o que é mais surpreendente para quem vem de
fora, levar por R$ 4 uma dúzia
de ostras produzidas aqui mesmo, no litoral da ilha.
Nos Pescados Oliveira (box
27) e na Peixaria do Chico (box
15) os preços são semelhantes.
O marisco na casca sai por R$ 3
o quilo; sem casca, R$ 12.
Já que o mar daqui é tão pródigo, o freguês pode se empolgar e querer pescar o seu próprio peixe. Nesse caso, basta
dar mais alguns passos e ele encontrará todo o equipamento
necessário na Central Pesca e
Camping (boxes 30 e 31). Por
exemplo: uma sofisticada vara
de três metros Albatroz Fishing, de fibra, está em oferta:
R$ 120, com molinete incluído.
Não há só varas e tarrafas
aqui, mas também canivetes,
bússolas (preços entre R$ 8,50
e R$ 39), anzóis, coletes salva-vidas "aprovados pela Marinha" e até uma bela tábua de
descamar, em formato de peixe
(R$ 39,90).
Mas digamos que você seja
mais urbano ou urbana e esteja
a fim é de se enfatiotar para a
animada noite da ilha.
Na Chapelaria Rubick (box
50) há modelos femininos e
masculinos de panamás encantadores, feitos pela Marcatto
em Jaraguá do Sul (SC), com
preços entre R$ 59 e R$ 62.
O chapéu mais caro da loja é o
Ramenzoni (de Campinas, São
Paulo) de pele de lebre: R$ 125.
Mas a curiosidade é o Marcatto
feminino de algas marinhas,
que sai por R$ 59. Na mesma
ala do mercado, inaugurada em
1915 (17 anos depois da primeira), há outras lojas de roupas e
principalmente de acessórios:
sapatos, bijuterias, perucas.
Na Moça Mulher (box 31), as
perucas penduradas lembram
estranhos animais abatidos. Na
vizinha Moça Menina (box 30),
as perucas têm cores tão berrantes quanto as das pulseiras
de plástico. Imagino-as saltitando numa "rave" ou num baile de Carnaval.
A visita está acabando e faltou falar de quase tudo: dos empórios, fiambrerias, açougues,
lojas de animais... Faltou falar
dos armarinhos, do bazar Ana
Espinoza ("Tudo para o lar" no
box 34), do célebre boteco Box
32, cuja fama fez subir às alturas o preço dos petiscos (pastel
de camarão: R$ 5,90; de camarão com catupiry: R$ 9,80).
Faltou sobretudo falar do vão
central, com suas mesas ao ar
livre, suas bancas de livros usados, seu pagode dos sábados,
sua muvuca no Carnaval.
Faltou, em suma, falar da vida que pulsa entre estas paredes centenárias e que não cabe
nesta folha de papel que amanhã estará, quem sabe, embrulhando berbigões num box do
Mercado Municipal.
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