São Paulo, sábado, 15 de dezembro de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO VAI ÀS COMPRAS
[colunista em campo]

O MERCADO É DO MANÉ E DA MADAME

Ele escreve sobre cultura e futebol e também manda bem como guia de Floripa: siga aqui o seu roteiro pelo ponto mais democrático da ilha

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Existe espaço mais democrático que um mercado público? Acho que não. Nem a praia rivaliza com ele, pois há as praias dos novos-ricos, as dos surfistas, as das famílias, as dos farofeiros, as dos pescadores, as dos turistas abonados.
No mercado, não. Nesse lugar de troca esbarram-se o rico e o pobre, o boêmio e o trabalhador, a perua e a doméstica, o velho e o jovem.
No Mercado Municipal de Florianópolis, há mais de cem anos é assim. Os moradores e visitantes são atraídos a ele mesmo quando ainda não sabem muito bem qual é a sua necessidade ou o seu desejo.
Chegando aqui, todos os sentidos do cidadão são estimulados ao mesmo tempo. Cheiros, cores e sons compõem uma atmosfera inebriante e sensual. Visitar o mercado é quase uma experiência erótica.
Ah, sim, as compras. É para isso que estamos aqui. É para isso que existem 140 boxes vendendo de tudo.
Antes de tudo, é preciso lembrar que o mar chegava até aqui, na calçada lateral do mercado. Os barcos atracavam e descarregavam os frutos do mar, da terra e do trabalho humano. Há 30 anos, um aterro levou o mar para longe, ocupando com avenidas, terminais de ônibus e estacionamentos o território conquistado.
Mas a vocação marítima do mercado permaneceu. É um de seus mais fortes atrativos. Aqui você pode comprar uma caranha fresquinha, de quase 20 quilos, por R$ 100, na Peixaria Nelson Sanches (boxes 28 e 29). Ou então, o que é mais surpreendente para quem vem de fora, levar por R$ 4 uma dúzia de ostras produzidas aqui mesmo, no litoral da ilha.
Nos Pescados Oliveira (box 27) e na Peixaria do Chico (box 15) os preços são semelhantes. O marisco na casca sai por R$ 3 o quilo; sem casca, R$ 12.
Já que o mar daqui é tão pródigo, o freguês pode se empolgar e querer pescar o seu próprio peixe. Nesse caso, basta dar mais alguns passos e ele encontrará todo o equipamento necessário na Central Pesca e Camping (boxes 30 e 31). Por exemplo: uma sofisticada vara de três metros Albatroz Fishing, de fibra, está em oferta: R$ 120, com molinete incluído.
Não há só varas e tarrafas aqui, mas também canivetes, bússolas (preços entre R$ 8,50 e R$ 39), anzóis, coletes salva-vidas "aprovados pela Marinha" e até uma bela tábua de descamar, em formato de peixe (R$ 39,90).
Mas digamos que você seja mais urbano ou urbana e esteja a fim é de se enfatiotar para a animada noite da ilha.
Na Chapelaria Rubick (box 50) há modelos femininos e masculinos de panamás encantadores, feitos pela Marcatto em Jaraguá do Sul (SC), com preços entre R$ 59 e R$ 62.
O chapéu mais caro da loja é o Ramenzoni (de Campinas, São Paulo) de pele de lebre: R$ 125. Mas a curiosidade é o Marcatto feminino de algas marinhas, que sai por R$ 59. Na mesma ala do mercado, inaugurada em 1915 (17 anos depois da primeira), há outras lojas de roupas e principalmente de acessórios: sapatos, bijuterias, perucas.
Na Moça Mulher (box 31), as perucas penduradas lembram estranhos animais abatidos. Na vizinha Moça Menina (box 30), as perucas têm cores tão berrantes quanto as das pulseiras de plástico. Imagino-as saltitando numa "rave" ou num baile de Carnaval.
A visita está acabando e faltou falar de quase tudo: dos empórios, fiambrerias, açougues, lojas de animais... Faltou falar dos armarinhos, do bazar Ana Espinoza ("Tudo para o lar" no box 34), do célebre boteco Box 32, cuja fama fez subir às alturas o preço dos petiscos (pastel de camarão: R$ 5,90; de camarão com catupiry: R$ 9,80).
Faltou sobretudo falar do vão central, com suas mesas ao ar livre, suas bancas de livros usados, seu pagode dos sábados, sua muvuca no Carnaval.
Faltou, em suma, falar da vida que pulsa entre estas paredes centenárias e que não cabe nesta folha de papel que amanhã estará, quem sabe, embrulhando berbigões num box do Mercado Municipal.


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