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FAÇA A SUA CENA
Com o pretexto do Oscar, o Vitrinefoi atrás de objetos parecidos com
os que aparecem em filmes indicados ao prêmio. Aproveite esta
"produção hollywoodiana" para eleger seus favoritos e brincar de cinema
FLÁVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A festa do Oscar funciona como vitrine para pessoinhas comuns, que aguardam ansiosas
por esse estado de espírito obrigatoriamente alegre, de atores
de smoking e atrizes com jóias e
roupas emprestadas. Sempre
em casais, esses deuses andam
em lento ziguezague por aquele
longo tapete vermelho.
Esse é o universo inatingível
de Hollywood, que o mortal
procura imitar buscando coisas
em butiques locais, ou naqueles
sábados selvagens de varejo no
Brás ou na José Paulino.
Pode ser divertido se a gente
se afastar da celebração repetitiva e previsível e viajar pelas
realidades infinitas dos próprios filmes em competição. E
achar coisas que podem fazer
parte do nosso mundinho!
A simpaticíssima Juno, adolescente esperta e impulsiva,
precisa usar três marcas de testes de gravidez para se convencer de que marcou bobeira. Esse é só o começo de sua odisséia
pelo mundo real, em que seus
sonhos têm de se adaptar a descaminhos e limitações de todos
que a cercam, do namoradinho
aos novos amigos, adultos com
desejos conflitantes.
Em "Não Estou Lá", o diretor
Todd Haynes se recusa a fazer
uma biografia convencional de
Bob Dylan. Prefere um mosaico
de estilos, problemas e épocas
plasmados em seis personagens que encarnam as variadas
facetas do músico, do mundo
rural americano do século 19 à
desilusão urbana que restou
dos conturbados anos 70. Os
personagens, vividos com paixão pelo garotinho negro Carl
Franklin, pelos australianos
Cate Blanchett e Heath Ledger,
pelo galã Richard Gere, pelo
britânico Ben Wishaw e pelo
americano Christian Bale,
usam instrumentos e óculos estilosos que qualquer um pode
comprar aqui mesmo.
O drama de "Desejo e Reparação" começa na fonte da
mansão dos Tallis, na Inglaterra dos anos 20. Observada pela
ciumenta irmã, Cecília parece
se desentender com o filho da
copeira no jardim, e mergulha
só de combinação nas águas de
uma fonte, para recuperar o pedaço de um vaso que se quebra
na discussão. A partir dessa cena, diferentes máquinas de escrever serão usadas pelos personagens para revelar, acusar e
redimir. Quem tiver jardim em
casa pode buscar o lirismo da
história numa fonte similar.
Mas quem quiser uma máquina
de escrever vai ter que explicar
aos filhos para que servia esse
objeto com letrinhas, sem tomada nem impressora.
Os mais politizados vão adorar (ou detestar, já que a ética
do diretor não é unanimidade)
a maneira como os pacientes,
enganados por planos de saúde,
são organizados por Michael
Moore e seu megafone, em
"Sicko -$.O.$ Saúde". O instrumento pode ser útil para motoqueiros em protestos ou corajosos casais que se aventuram a
ter mais do que um pimpolho.
Não é difícil achar as enormes panelas em que o ratinho
Remy, de "Ratatouille", ajudado pelo seu amigo, o humano e
trapalhão Linguini, cozinha as
iguarias do restaurante Gusteau. Mais controversas seriam
as tortas preparadas pela companheira de "Sweeney Todd", o
barbeiro canibal, com a carne
de suas vítimas, digamos, humanas. Melhor pensar que sua
arma, a navalha, pode nos lembrar de como as barbearias
eram mais interessantes antes
da gilete e do barbeador.
E para não deixar de falar em
coisas e assassinos que estão na
moda, que tal a pistola de ar
comprimido do louco e perigoso matador Anton Chigurh, em
"Onde os Fracos Não Têm
Vez"? Ela pode não evitar o derramamento de sangue, mas
permite que o usuário economize em balas e use o dinheiro
para "tunar" o carro blindado.
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