São Paulo, sábado, 16 de fevereiro de 2008

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FAÇA A SUA CENA

Com o pretexto do Oscar, o Vitrinefoi atrás de objetos parecidos com os que aparecem em filmes indicados ao prêmio. Aproveite esta "produção hollywoodiana" para eleger seus favoritos e brincar de cinema

FLÁVIA CESARINO COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A festa do Oscar funciona como vitrine para pessoinhas comuns, que aguardam ansiosas por esse estado de espírito obrigatoriamente alegre, de atores de smoking e atrizes com jóias e roupas emprestadas. Sempre em casais, esses deuses andam em lento ziguezague por aquele longo tapete vermelho.
Esse é o universo inatingível de Hollywood, que o mortal procura imitar buscando coisas em butiques locais, ou naqueles sábados selvagens de varejo no Brás ou na José Paulino.
Pode ser divertido se a gente se afastar da celebração repetitiva e previsível e viajar pelas realidades infinitas dos próprios filmes em competição. E achar coisas que podem fazer parte do nosso mundinho!
A simpaticíssima Juno, adolescente esperta e impulsiva, precisa usar três marcas de testes de gravidez para se convencer de que marcou bobeira. Esse é só o começo de sua odisséia pelo mundo real, em que seus sonhos têm de se adaptar a descaminhos e limitações de todos que a cercam, do namoradinho aos novos amigos, adultos com desejos conflitantes.
Em "Não Estou Lá", o diretor Todd Haynes se recusa a fazer uma biografia convencional de Bob Dylan. Prefere um mosaico de estilos, problemas e épocas plasmados em seis personagens que encarnam as variadas facetas do músico, do mundo rural americano do século 19 à desilusão urbana que restou dos conturbados anos 70. Os personagens, vividos com paixão pelo garotinho negro Carl Franklin, pelos australianos Cate Blanchett e Heath Ledger, pelo galã Richard Gere, pelo britânico Ben Wishaw e pelo americano Christian Bale, usam instrumentos e óculos estilosos que qualquer um pode comprar aqui mesmo.
O drama de "Desejo e Reparação" começa na fonte da mansão dos Tallis, na Inglaterra dos anos 20. Observada pela ciumenta irmã, Cecília parece se desentender com o filho da copeira no jardim, e mergulha só de combinação nas águas de uma fonte, para recuperar o pedaço de um vaso que se quebra na discussão. A partir dessa cena, diferentes máquinas de escrever serão usadas pelos personagens para revelar, acusar e redimir. Quem tiver jardim em casa pode buscar o lirismo da história numa fonte similar. Mas quem quiser uma máquina de escrever vai ter que explicar aos filhos para que servia esse objeto com letrinhas, sem tomada nem impressora.
Os mais politizados vão adorar (ou detestar, já que a ética do diretor não é unanimidade) a maneira como os pacientes, enganados por planos de saúde, são organizados por Michael Moore e seu megafone, em "Sicko -$.O.$ Saúde". O instrumento pode ser útil para motoqueiros em protestos ou corajosos casais que se aventuram a ter mais do que um pimpolho.
Não é difícil achar as enormes panelas em que o ratinho Remy, de "Ratatouille", ajudado pelo seu amigo, o humano e trapalhão Linguini, cozinha as iguarias do restaurante Gusteau. Mais controversas seriam as tortas preparadas pela companheira de "Sweeney Todd", o barbeiro canibal, com a carne de suas vítimas, digamos, humanas. Melhor pensar que sua arma, a navalha, pode nos lembrar de como as barbearias eram mais interessantes antes da gilete e do barbeador.
E para não deixar de falar em coisas e assassinos que estão na moda, que tal a pistola de ar comprimido do louco e perigoso matador Anton Chigurh, em "Onde os Fracos Não Têm Vez"? Ela pode não evitar o derramamento de sangue, mas permite que o usuário economize em balas e use o dinheiro para "tunar" o carro blindado.


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