São Paulo, sábado, 18 de outubro de 2008

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MANIA

BONEQUINHA DE MARMANJAS

Cabeção e corpinho, ela é desproporcional, mas cheia de estilo, e caiu no gosto da mulherada fashion

MAELI PRADO
DA REVISTA DA FOLHA

O nome dela é Blythe. Tem olhos enormes e sorriso melancólico. A cabeça é grande, em relação ao corpo miúdo, vestido sempre de modo que faria inveja a qualquer fashionista. Se pudesse falar, a boneca lançada em 1972 -que saiu de linha por causar medo nas crianças- chamaria Barbie de "perua".
De brinquedo rejeitado, Blythe passou a objeto de adoração de gente grande. Voltou a ser fabricada em 2001 pela japonesa Takara. Virou febre pelo mundo, Brasil incluído.
Por aqui, colecionadoras mantêm flickrs (sites que hospedam fotos) atualizados com os melhores momentos dos looks de suas "filhas".
No final do mês passado, aconteceu a etapa final do Miss Blythe Brasil, com o objetivo de eleger a mais bonita, bem vestida e, pasmem, "mais inteligente e carismática do país". Venceu uma Blythe carioca.
É entre o povo da moda que a boneca faz mais sucesso. Grifes, como Prada e Gucci, e estilistas, como John Galliano, desenharam roupas exclusivas para ela. Entre as fãs brasileiras, estão as estilistas Carina Duek e Adriana Barra.
"A Blythe virou ícone. É a chance de comprar e colocar nela uma bota bacana, um chapéu diferente, de transformá-la em um alter ego fashion", diz a empresária Ana Monteiro, 36, que tem mais de 200 bonecas.
Ana, que, como a Blythe, nasceu em 1972, ganhou a boneca do pai. Sua mãe, assustada com a feiúra, manteve-a dentro do armário. "Comecei a ver a Blythe na mídia e lembrei que era a mesma que eu tinha em casa", diz. Com a morte do pai, há um ano e meio, tirou o brinquedo do fundo do baú. "Me liguei emocionalmente a ela e comecei a colecionar."
Foi a paixão por essa pequena boneca (há um modelo de 27 cm, a Neo Blythe, e a Petit Blythe, de 11 cm) que reuniu cerca de 20 mulheres, na faixa dos 30 anos, em um café nos Jardins, em São Paulo, no fim do setembro. Enquanto suas donas batiam papo, as Blythes, produzidas para a ocasião, foram clicadas enfileiradas em um sofá. Algumas colecionadoras estavam com filhos pequenos, mais interessados em correr de um lado para o outro do que nas bonecas. Ficou claro: é coisa de gente grande.
As bonecas refletem a personalidade fashion das donas. "As minhas são peruas", diz a ortodontista Sandra Manzano de Moraes, 52, que tem 30 Blythes. "Todas são vestidas com muito brilho e pluma."
Mas não basta enfeitar. É preciso fotografar. A designer de jóias Adriana Delphino, 38, usa a boneca como modelo, em um ensaio para divulgar suas criações. Adriana também desenha roupas de Blythe: as saias custam de R$ 15 a R$ 20, e os vestidos, de R$ 40 a R$ 50.
A boneca está à venda por preços a partir de US$ 100. O caminho é a internet, em sites de leilões como eBay. Mas o encanto da turma são os acessórios, especialmente minirréplicas de peças de estilo como tênis All Star (US$ 10), óculos escuros à Jackie O. (de US$ 40 a US$ 80) e botas (US$ 25).
Estima-se que no país existam cerca de 200 colecionadoras, gente que afirma gastar até o valor de um carro entre a aquisição e a manutenção (aí incluídos acessórios, roupas e customização) de suas Blythes.
É um vício. "Você começa com uma. Primeiro, só quer as mais baratas, depois passa a querer as mais caras, e, então, as mais raras", conta Ivanize Loureiro, 35, advogada, que reserva um quarto só para abrigar suas 40 bonecas. "É um gasto considerável", diz Ivanize.
As cifras podem mesmo ser exorbitantes, dependendo da versão. Os modelos comemorativos são os mais desejados. As bonecas do primeiro aniversário de criação da Blythe custam US$ 3.000 cada uma.


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