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MANIA
BONEQUINHA DE MARMANJAS
Cabeção e corpinho, ela é desproporcional, mas cheia de estilo, e caiu no gosto da mulherada fashion
MAELI PRADO
DA REVISTA DA FOLHA
O nome dela é Blythe. Tem
olhos enormes e sorriso melancólico. A cabeça é grande, em
relação ao corpo miúdo, vestido
sempre de modo que faria inveja a qualquer fashionista. Se pudesse falar, a boneca lançada
em 1972 -que saiu de linha por
causar medo nas crianças-
chamaria Barbie de "perua".
De brinquedo rejeitado,
Blythe passou a objeto de adoração de gente grande. Voltou a
ser fabricada em 2001 pela japonesa Takara. Virou febre pelo mundo, Brasil incluído.
Por aqui, colecionadoras
mantêm flickrs (sites que hospedam fotos) atualizados com
os melhores momentos dos
looks de suas "filhas".
No final do mês passado,
aconteceu a etapa final do Miss
Blythe Brasil, com o objetivo de
eleger a mais bonita, bem vestida e, pasmem, "mais inteligente e carismática do país". Venceu uma Blythe carioca.
É entre o povo da moda que a
boneca faz mais sucesso. Grifes, como Prada e Gucci, e estilistas, como John Galliano, desenharam roupas exclusivas
para ela. Entre as fãs brasileiras, estão as estilistas Carina
Duek e Adriana Barra.
"A Blythe virou ícone. É a
chance de comprar e colocar
nela uma bota bacana, um chapéu diferente, de transformá-la
em um alter ego fashion", diz a
empresária Ana Monteiro, 36,
que tem mais de 200 bonecas.
Ana, que, como a Blythe, nasceu em 1972, ganhou a boneca
do pai. Sua mãe, assustada com
a feiúra, manteve-a dentro do
armário. "Comecei a ver a
Blythe na mídia e lembrei que
era a mesma que eu tinha em
casa", diz. Com a morte do pai,
há um ano e meio, tirou o brinquedo do fundo do baú. "Me liguei emocionalmente a ela e
comecei a colecionar."
Foi a paixão por essa pequena boneca (há um modelo de 27
cm, a Neo Blythe, e a Petit
Blythe, de 11 cm) que reuniu
cerca de 20 mulheres, na faixa
dos 30 anos, em um café nos
Jardins, em São Paulo, no fim
do setembro. Enquanto suas
donas batiam papo, as Blythes,
produzidas para a ocasião, foram clicadas enfileiradas em
um sofá. Algumas colecionadoras estavam com filhos pequenos, mais interessados em correr de um lado para o outro do
que nas bonecas. Ficou claro: é
coisa de gente grande.
As bonecas refletem a personalidade fashion das donas. "As
minhas são peruas", diz a ortodontista Sandra Manzano de
Moraes, 52, que tem 30
Blythes. "Todas são vestidas
com muito brilho e pluma."
Mas não basta enfeitar. É
preciso fotografar. A designer
de jóias Adriana Delphino, 38,
usa a boneca como modelo, em
um ensaio para divulgar suas
criações. Adriana também desenha roupas de Blythe: as saias
custam de R$ 15 a R$ 20, e os
vestidos, de R$ 40 a R$ 50.
A boneca está à venda por
preços a partir de US$ 100. O
caminho é a internet, em sites
de leilões como eBay. Mas o encanto da turma são os acessórios, especialmente minirréplicas de peças de estilo como tênis All Star (US$ 10), óculos escuros à Jackie O. (de US$ 40 a
US$ 80) e botas (US$ 25).
Estima-se que no país existam cerca de 200 colecionadoras, gente que afirma gastar até
o valor de um carro entre a
aquisição e a manutenção (aí
incluídos acessórios, roupas e
customização) de suas Blythes.
É um vício. "Você começa
com uma. Primeiro, só quer as
mais baratas, depois passa a
querer as mais caras, e, então,
as mais raras", conta Ivanize
Loureiro, 35, advogada, que reserva um quarto só para abrigar
suas 40 bonecas. "É um gasto
considerável", diz Ivanize.
As cifras podem mesmo ser
exorbitantes, dependendo da
versão. Os modelos comemorativos são os mais desejados. As
bonecas do primeiro aniversário de criação da Blythe custam
US$ 3.000 cada uma.
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