São Paulo, sábado, 19 de dezembro de 2009

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IDEIAS RECICLADAS

Escambo chique

A moda agora é reunir o amigos para abastecer o closet sem gastar nada

Leonardo Wen/Folha Imagem
A publicitária Fernanda Tedde, 31, e a amiga Gaía Passarelli, 32, renovam o guarda-roupa trocando o que não usam mais

DANIELA ARRAIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Gaía precisou de seis anos para se convencer de que não iria usar suas botas de vinil. Passou adiante aquele troféu da grife Chanel, que só ocupava espaço -e a deixava com calos nos pés a cada vez que insistia.
Em um domingo, em um loft nos Jardins, Gaía Passarelli, 32, editora de um site, se juntou a amigas para fazer um "clothing swap" -troca de roupas. Simples: gente interessada em se livrar do entulho do closet marca uma reunião para trocar.
A fotógrafa Renata Chebel, 26, pegou a tal bota Chanel, mais outro par de sapatos e dois vestidos. "Foi uma tarde com drinques, sanduichinhos. As convidadas levaram as roupas em bom estado, limpinhas. Funcionou bem", conta.
A ideia foi da jornalista Thais Collins, que mora em Boston e vem sempre a São Paulo. "Lá, os "clothing swaps" são cada vez mais populares." Thais comentou isso com a amiga Fernanda Tedde, 31, publicitária, que havia lido a respeito na "Vogue America": "Li como a troca era uma maneira de as meninas renovarem o guarda-roupa sem gastar, na crise. Fiquei com vontade de fazer um."
A organização começou na internet. "Postamos a ideia no blog (www.twoway-monologue.blogspot.com), interessadas nos contataram", diz Thais. Por e-mail, a dupla definiu a lista de convidadas e as regras.
"Arrumar a casa abrindo espaço para as pilhas de roupas, e ter uma arara com cabides são de grande ajuda", ensina Thais.
No dia do "clothing swap", as participantes experimentaram as várias possibilidades e escolheram aquilo que melhor lhes cabia. "Levei uma mala lotada e voltei com ela do mesmo jeito, só que com outras roupas e acessórios", conta Gaía.
"É exercício de desapego", diz Fernanda. "Foi mais fácil do que eu pensava. Ver uma menina feliz com uma peça sua que você não dava bola dá uma felicidade, tipo "ela vai cuidar melhor do meu filho que eu"."
"Se você olha para as roupas no armário, acha que ainda vai usá-las. O tempo passa, você não usa e outra pessoa gosta mais daquilo que você. É legal ver que a outra achou aquilo o máximo. Sem arrependimento", diz Thais.
Sem arrependimento mesmo? Gaía reforça: "Não me arrependi de trocar nenhuma peça. As que, ao final, não foram escolhidas foram para doação. Bom saber que vão parar nas mãos de alguém. Arrumei outras roupas que uso, viraram parte do meu dia a dia, como se eu tivesse escolhido na loja".
No Brasil ainda não é tendência, mas tomara que vire. "A melhor coisa é voltar pra casa cheia de roupas novas, se livrar do que não quer e não gastar um tostão", diz a publicitária Flávia Lacerda, 29, que se inspirou em blogs como o What I Wore (www.whatiwore.tumblr.com)- para fazer seu primeiro "clothing swap".
O troca-troca virou um hábito também para a assessora de imprensa Érika Balbino, que separa as peças bacanas encostadas e as põe para circular.
Érika aconselha: evite modismos na hora de comprar roupas. "Seguir tendência é a pior coisa. Comprar roupas datadas é uma furada. Peças de qualidade e roupas de um estilista muito bem definido na sua linha de criação são sempre as mais procuradas, trocadas. No mundo em que estamos vivendo, ter uma roupa no armário que só usou uma vez no ano é, no mínimo, egoísta", analisa.

"Ecológico"
"Meu guarda-roupa mudou de uns dois anos para cá depois que voltei a frequentar brechós e passei a ter o hábito de reformar roupas usadas, minhas ou dos outros", conta Gaía.
A prática seria, portanto, "ecológica", para usar o jargão do ano? "Não tenho certeza se "ecológica" é a palavra correta. Eu prefiro "consciente". Ter a consciência de que reduzir e reusar é importante, de que mesmo quem tem dinheiro e espaço não precisa ficar fazendo arquivo de roupa", diz Gaía.
"E é bom lembrar que antigamente as roupas passavam de irmãos para irmãos e de primos para primos. Sem saber, tínhamos práticas da chamada sustentabilidade", encerra Érika.


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