O surrealismo toma conta do design. Como Alice no País das Maravilhas, o consumidor cai no buraco do coelho e encontra luminárias gigantes ao lado de utensílios de cozinha na palma da mão

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os sofás têm oito lugares e as luminárias passam de um metro de diâmetro, mas o ralador de queijo tem apenas cinco centímetros de altura. O design fora de proporção, ou com "surreal sizing", para usar o termo em voga na Europa, tem se manifestado nos extremos. Móveis e objetos agigantados ganharam destaque a partir de abril deste ano, no Salão Internacional de Milão, mostra italiana que aponta tendências para a decoração de interiores. "Nomes graúdos, como os designers Philippe Stark e Marcel Wanders, criaram peças do cotidiano em tamanho gigante apresentando um design impraticável", diz o sociólogo Dario Caldas, do Observatório de Sinais. O mercado abraçou o conceito, e aí estão, nas vitrines, as coisas de sempre em novas proporções."Brincar com as dimensões quebra a monotonia da nossa relação com o design", diz Caldas.
O outro lado da mesma tendência é a miniaturização, especialmente de objetos funcionais. "É importante dividir esses dois universos: os mínis são produtos feitos em larga escala. Os imensos são para um público sem problemas de espaço em casa", diz o designer carioca Guto Indio da Costa.
A falta de metros quadrados atinge, inclusive, a classe média alta, consumidora dos novos empreendimentos imobiliários. "Hoje é possível encontrar lançamentos de quatro dormitórios e três suítes com menos de 150 m2 em bairros nobres de São Paulo", diz o diretor da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), Luiz Paulo Pompéia.
Trilhando caminhos tão opostos, o design parece ter chegado a um paradoxo. Mas são as mesmas causas que explicam o aparecimento dos míni e dos megaobjetos. "Ambos introduzem dissonâncias no cotidiano e não se reduzem ao funcionalismo. É bem possível imaginar um apartamento mega cheio de objetos em miniatura. É mais uma questão de fetiche", diz Caldas. Com os objetos grandes também há uma relação de encantamento. "Os lojistas sabem que colocar móvel pequeno em exposição não vende. O consumidor pode até levar a versão menor da mesa de jantar, mas gosta de ver a grande", diz Indio da Costa. A tendência, porém, é que as luminárias gigantes desapareçam antes dos utensílios liliputianos. "Vamos continuar a ver brincadeiras com tamanhos, mas no caso da mobília, o mega não deve durar tanto assim. A praticidade vai falar mais alto", diz Caldas.