São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Cachaça certificada

Mais respeito com a marvada

Selo de qualidade, lançamentos ‘premium’ e novas propostas de consumo tentam mudar imagem do destilado

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A "marvada" pinga quer mudar sua imagem. Uma parceria entre Inmetro e Sebrae procura incentivar os produtores de cachaça a aderirem a um programa de certificação, que promete dar garantias de qualidade aos consumidores da bebida.
Para ter o selo do Inmetro, o fabricante se submete a uma vistoria que considera a higiene na produção, o controle do plantio da cana quanto ao uso de fertilizantes e o cuidado com o ambiente. O produtor deve preservar rios e mananciais próximos à plantação, fazer o descarte correto dos resíduos e respeitar as leis trabalhistas.
As primeiras marcas a passarem pelo pente-fino foram aprovadas para receber o selo no fim de 2006. Os dois primeiros registros foram dados para Prosa&Viola e Terra de Minas, ambas de um mesmo produtor. A gerente da Prosa&Viola diz acreditar que o selo vai ajudar a elevar a qualidade da bebida. "A cachaça não é tão simples como se pensa, existem tecnologias e controles químicos para assegurar que o produto não contenha substâncias nocivas à saúde", diz Daniela Vilaça, 25.
Até hoje, só 26 marcas brasileiras têm o selo, segundo o Sebrae, que começou a incentivar a certificação bancando 50% do custo para o produtor. Em Minas Gerais, que concentra cerca de mil marcas de cachaça, só 12 foram atrás do selo. "A cachaça tem saído da posição de bebida marginalizada faz só dez anos. O consumidor ainda não entende que precisa pagar mais pela qualidade", diz Rogério Gallupo, da gerência de agronegócios do Sebrae-MG.
Mesmo custando mais caro que as pingas industriais, produzidas com destilação de coluna, as bebidas artesanais de alambique estão nos planos até das marcas mais populares. A Sagatiba está lançando um kit da Sagatiba Velha, sua linha de alambique, com dois copinhos tradicionais para cachaça, por R$ 25. "O mercado da cachaça artesanal é mais limitado, mas estamos fazendo ações para promover novas formas de consumo", diz Flávio Stadnik, 34, diretor de marketing da Sagatiba. Uma dessas formas é um "shot" com morango e açúcar de pimenta, sugerido pela marca, à maneira da tequila com limão e sal, tão popular.
Para degustar com mais cerimônia, a marca tem o rótulo Preciosa (R$ 500), envelhecido por 23 anos em barris de carvalho. Apesar de não ter o selo do Inmetro, a Sagatiba tem um certificado internacional do BTI (Beverage Testing Institute) de Chicago.
Já que são "premium", as cachaças ganharam taças criadas especialmente para sua degustação. Assim como as taças de vinho para "sommeliers", a transparência e as curvas do bojo permitem a fruição dos aromas e a observação da cor da bebida, que varia de acordo com o tipo de madeira usada no envelhecimento. As taças, de cristal, são produzidas pela Cristais Hering (R$ 17,80 na Preçolândia) e pela Strauss (R$ 24,67 na Presentes Mickey). "No Brasil colonial, a cachaça era bebida em copos de cristal, mas ela teve a sua imagem prejudicada pelos portugueses, que queriam valorizar seus produtos na colônia", diz o especialista Renato Frascino, 59, que se apresenta como analista sensorial de bebidas e consultor enogastronômico.
Frascino diz que as aulas de degustação de cachaças vêm abrindo espaço na preferência de seus alunos, num mercado dominado pelos vinhos.
Para o consultor, bons destilados devem ser tomados ao lado de água mineral e aperitivos. "Sopa, chocolate e charuto acompanham bem a cachaça".


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