São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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MARIA INÊS DOLCI
[defesa do consumidor]

CARTÃO DE DESCRÉDITO


Não entro no mérito da discussão entre lojistas e administradoras de cartões; mas não é justo envolver a defesa do consumidor


OS LOJISTAS estão insatisfeitos com as taxas que têm de pagar às administradoras de cartão de crédito. Trata-se de uma disputa comercial que não deveria, sob nenhuma hipótese, envolver o consumidor.
Afinal de contas, você chega a uma loja, escolhe um produto e, na hora de pagar, descobre que, se tivesse dinheiro em espécie ou uma folha de cheque, teria direito a um "desconto". Essa prática contraria o Código de Defesa do Consumidor, que veda cobrança diferenciada por um mesmo produto ou serviço.
Não entro no mérito da discussão entre comerciantes e administradoras de cartão de crédito. Mas não é justo que essa briga envolva a parte mais fraca da relação comercial, que são os consumidores.
Já tratamos desse assunto em outra coluna, mas agora há uma novidade: em vários Estados, entidades de lojistas estudam a possibilidade de boicotar bandeiras de cartão de crédito por causa da cobrança de taxas que consideram disparatadas.
Ora, em princípio, parece-me uma atitude mais coerente. Se um prestador de serviço nos desagrada, uma das opções que temos é não utilizar mais seus préstimos. Digo isso sem tomar partido nessa queda-de-braço, mas certa de que é melhor isso do que a cobrança de preços diversos de acordo com o meio de pagamento.
Cartões de crédito são dinheiro de plástico. Não se destinam a financiar compras, e sim a facilitar o controle de gastos pessoal, familiar e empresarial. As administradoras têm que entender que, se não forem aceitos, os cartões não valerão nada para o cliente. E os comerciantes, por sua vez, devem saber que, restringindo as formas de pagamento, sentirão o impacto em suas vendas.
Seria muito interessante, já que estamos discutindo esse tema, que o crédito rotativo dos cartões fosse menos distante da realidade. Houve certa redução das taxas de juros oficiais, porém, financiar uma compra em cartão é uma boa maneira de falir em pouquíssimo tempo. As taxas são impagáveis.
Para você, leitor, leitora, a sugestão é: considere, como diz um amigo meu, que não existe crédito, porque, ao fim e ao cabo, teremos de pagar cada centavo, com juros e correção.
Faça seu orçamento mensal, seja rigoroso(a) na relação entre ingressos (salários, rendimentos de aplicações financeiras etc.) e gastos. E calcule de quanto poderá dispor para uma compra à vista, ou em duas ou três parcelas sem juros. Quando pagar à vista, principalmente em dinheiro vivo, exija desconto, afinal, todo produto ou serviço traz, embutido em seu preço, o custo do pagamento parcelado.
E se o seu cartão de crédito não for mais aceito, comunique a operadora, um mês antes do vencimento do contrato, por escrito e com Aviso de Recebimento (AR), que não o renovará por falta de utilidade.
Talvez, assim, lojistas e administradora criem juízo. No mundo dos negócios, o bolso é o órgão mais sensível, e esse é um dos poderes do consumidor.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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