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OUTRO LADO
"A Anvisa está querendo tutelar a população"
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova regulamentação para
farmácias entra em vigor daqui
a seis meses, mas as redes representadas pela Abrafarma já
pensam em recorrer à Justiça
para não ter que se adaptar. Segundo o presidente da entidade, Sérgio Mena Barreto, os
consumidores querem que farmácias e drogarias continuem a
vender itens de conveniência.
Para ele, tirar os medicamentos
das prateleiras acessíveis pode
dificultar a comparação de preços. "Será que brasileiro é um
coitadinho que não sabe o que é
bom para si?"
(DM)
FOLHA - Por que a Abrafarma é
contra tirar os remédios vendidos
sem receita do meio das lojas?
BARRETO - No mundo inteiro,
Argentina, Chile, Inglaterra,
EUA, você vai ver esses produtos fora do balcão. O paciente,
tendo acesso à informação, toma conta de seus pequenos
problemas. Isso até reduz o
custo do sistema de saúde. O
autocuidado é uma tendência.
Nos últimos anos, outros países estão transformando remédios de tarja vermelha em produtos livres de prescrição. Enquanto outros governos dão
mais poder ao consumidor,
aqui estamos restringindo.
FOLHA - Qual será a consequência
para o consumidor, ao passar a pedir
todos os remédios no balcão?
BARRETO - A pessoa está na
gôndola e vê quatro tipos de antiácidos: ou compra pela marca,
ou pelo preço. Se não tiver mais
acesso, o farmacêutico pode indicar a ela um produto com
margem mais alta de lucro. A
médio prazo, pode não ser vantajoso para o consumidor.
FOLHA - Já está claro o que não vai
mais ser vendido na farmácia?
BARRETO - Teoricamente, o que
não está na lista [da regulamentação da Anvisa], não pode, inclusive serviços. Hoje, há 15 mil
farmácias que funcionam como
correspondentes bancários.
Em muitas cidades não há correios, nem banco. E não vejo
problema em vender cartão telefônico: é utilidade pública.
FOLHA - A Anvisa diz que a resolução vai consolidar o papel da farmácia como estabelecimento de saúde.
BARRETO - Esse conceito de que
farmácia é estabelecimento de
saúde e não de comércio é ideológico, do presidente da Anvisa.
Farmácias são registradas em
junta comercial, seguem regras
do direito comercial. Crença é
uma coisa, lei é outra. A Anvisa
tem que seguir a lei. Se é para
mudar, tem que levar a discussão à Câmara dos Deputados.
FOLHA - Você acha que os consumidores são a favor da nova regra?
BARRETO - Fizemos duas pesquisas, há dois anos. O resultado foi que 75% das pessoas são
a favor de que as farmácias tenham produtos de conveniência e serviços. A vida real não
acontece no gabinete da Anvisa. A vida real é no balcão da
farmácia. Quero ver o que o
presidente da Anvisa diria se
chegasse numa cidade sem
hospital, em que os prefeitos
despacham as pessoas para a
capital. Aí o paciente vai na minha farmácia sem a receita do
remédio de uso contínuo. Deixo a pessoa morrer? Será que tirando o medicamento da presença da pessoa, dizendo que
não pode comprar sem receita,
resolve o problema do acesso à
saúde? Ninguém gosta de gastar com remédio. A pessoa não
vai à farmácia comprar cartão
telefônico e "aproveita" para levar remédio para hipertensão.
Será que o brasileiro é um coitadinho que não sabe o que é
bom para si? A Anvisa está querendo tutelar a população.
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