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GÔNDOLA [conheça melhor tudo que chega aos supermercados]
Vem aí a nova ordem
ANA PAULA BONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando você escreve leite
na lista do supermercado, você pensa em "laticínios" ou
em "café da manhã"? É com
perguntas como essa em
mente que o mundo do marketing vem estudando um jeito de direcionar o consumidor
pelo contexto da compra, e
não pelo agrupamento de
uma "espécie".
Assim, o leite pode deixar
de fazer companhia aos seus
derivados para estar ao lado
de pães, geléias, cereais, garrafas térmicas. São criados
"universos temáticos".
É o que se vê em três lojas
do Pão de Açúcar em São Paulo, reabertas na semana passada com novo layout e organização. Antes paralelos, os
corredores agora estão dispostos em diagonal -atrás
dos caixas, estão inclinados à
direita; depois, há um grupo
inclinado à esquerda. Entre
eles, há móveis mais baixos.
"Esse novo modelo escapa
do cartesianismo tão século
20, de grandes paralelas, essa
grelha racional dos supermercados", afirma o sociólogo Dario Caldas, diretor do Observatório de Sinais.
Segundo ele, essa mudança
tenta responder a uma maior
sofisticação dos compradores
-que buscam "novas experiências de consumo"- e ao
sentimento médio das pessoas em relação a supermercados. "O consumidor vê a
compra nos hipermercados
como uma tarefa árdua. Gasta-se muito tempo dentro de
um mundo monótono." A
tendência já é vista no exterior há cerca de seis anos.
No Pão de Açúcar, os móveis baixos entre os corredores têm a função de criar um
novo movimento. "Essa dinâmica dá um pouco mais de
bossa à circulação, que fica
menos rígida", afirma João
Edson Gravata, diretor de
operações do grupo.
A idéia é que as pessoas passem a percorrer a loja orientada pelo visual, de acordo com
Heloísa Omine, professora da
ESPM (Escola Superior de
Propaganda e Marketing).
"No layout de trilha, chega-se
a um núcleo e decide-se para
onde ir, sem linearidade", diz
ela, segundo quem a disposição por tema (café da manhã,
churrasco) também é um estímulo ao consumo extra.
Maurício Morgado, professor de marketing da FGV
(Fundação Getúlio Vargas),
diz que a intenção é aumentar
o valor médio de consumo, até
porque gasta-se cada vez menos tempo nesses locais. "Você vai comprar pão e acaba levando geléia e croissant."
Do tempo da avó
As lojas também mexem na
decoração. "O ambiente cada
vez mais remete ao lugar de
onde o produto deveria ter
saído", pontua Omine.
Um exemplo é a disposição
das especiarias em duas novas
lojas Mambo, em São Paulo. A
seção, agora, traz a idéia de
mercearia do tempo da avó,
"onde tudo era fresco e encontrado num só lugar", diz
Vivian Casarin, executiva de
marketing do grupo.
No Zaffari, supermercado
gaúcho que aportou em São
Paulo neste ano, a tendência
pode ser vista na padaria. Em
frente ao balcão, há móveis
com pães e itens associados:
do café ao patê de atum.
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