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GÔNDOLA [conheça melhor tudo que chega aos supermercados]
UMA QUESTÃO DE RÓTULO
Demorou: quatro anos depois da lei, óleos de soja começam a trazer o símbolo de transgênico na embalagem
Marcelo Soares/Folha Imagem
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Já se vê o símbolo nos rótulos do óleo da Bunge nos supermercados,
mas ainda vai demorar um pouco para ele aparecer nos da Cargill
CYRUS AFSHAR
DA REPORTAGEM LOCAL
Se, como diz o ditado, você é
o que você come, é bom saber o
que, afinal, você está levando
do supermercado para a casa.
Em 2003 entrou em vigor um
decreto do Executivo federal
exigindo que rótulos de produtos com mais de 1% de insumos
transgênicos informem isso
claramente ao consumidor.
Um "tê" maiúsculo preto dentro de um triângulo amarelo foi
o símbolo escolhido.
Quatro anos depois, a determinação começa a ser respeitada por duas das fabricantes. Em
novembro do ano passado, a
Bunge, que faz o óleo de soja
Soya, decidiu comunicar aos
consumidores que usava insumos geneticamente modificados. Agora foi a vez da empresa
Cargill. A fabricante declarou,
em nota, que o símbolo vai ser
colocado em seus rótulos "gradualmente" a partir deste mês.
Antes da iniciativa, porém,
foi preciso que o Ministério Público de São Paulo, com base
em informações fornecidas pelo Greenpeace, instaurasse um
inquérito civil contra a Bunge e
a Cargill, em fevereiro de 2007.
Segundo a promotoria, as empresas, mesmo admitindo o uso
de sementes modificadas nas
suas formulações, alegavam
que não tinham obrigação de
rotular seus produtos.
"Ainda há muita insegurança
sobre o consumo desses alimentos, por isso é uma informação relevante e tem que estar no rótulo", diz Paulo Sérgio
Cornacchioni, 45, promotor de
Justiça do Consumidor de São
Paulo. Segundo ele, esse direito
é previsto no Código de Defesa
do Consumidor e na Lei de
Biossegurança de 2005, que
tem status jurídico superior ao
decreto de 2003 e não especifica uma quantidade mínima de
matéria transgênica.
"As fabricantes se mostravam muito preocupadas, porque, para elas, o símbolo lembrava aquele que aparece em
produtos radioativos", afirma
Cornacchioni.
Como não houve acordo, a
promotoria decidiu mover uma
ação civil pública, em agosto do
ano passado. Liminar concedida para cá, liminar que é suspensa para lá, e o processo contra fabricantes de óleo de soja
ainda se arrasta na Justiça.
Mudança de estratégia
Foi quando, em novembro de
2007, a Bunge fez a mudança de
seu rótulo. "Em respeito ao
consumidor, decidimos rotular
todos os óleos", afirma Adalgiso
Telles, 45, diretor corporativo
de comunicação da Bunge. Telles diz que o óleo de soja, ao
contrário do farelo, não contém
proteína, "então quase não tem
matéria transgênica". Por isso a
relutância em colocar o símbolo no rótulo. Esse também era o
argumento da Cargill.
A demora no cumprimento
da lei tem outra explicação.
"Existem pesquisas de mercado que mostram que o consumidor prefere alimentos naturais", diz Frank Guggenheim,
58, diretor executivo do Greenpeace Brasil. A entidade argumenta que, apesar de não haver
comprovação de que os transgênicos fazem mal à saúde, o
aumento do uso das sementes
coincidiu com a aparição de casos de alergia.
Outros produtos das fabricantes, como as margarinas,
não levam o símbolo, mas não
são alvo da ação. "A estratégia
do Ministério Público é aguardar para ver qual vai ser a reação do Judiciário nesse caso,
para então apurar outras denúncias", diz Cornacchioni.
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