São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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TENDÊNCIAS

O que atrai, inspira e promete

Caçando o que é bacana

Veja o que vai entrar nos guarda-roupas, segundo observadores de tendências

HELOÍSA HELVÉCIA
EDITORA DO VITRINE

Nada mau. O trabalho duro do sociólogo holandês Carl Rohde é escanear o mundo detectando "coisas bacanas". Professor da universidade de Fontys, a maior do seu país, ele esteve em São Paulo para dar palestras e recrutar "cool hunters". O termo é sinônimo de caçador de tendência.
Rohde lidera uma porção deles na Science of the Time (www.scienceofthetime.com), rede mundial de observação de comportamentos emergentes. Na sua lista estrelada de clientes tem Adidas, Galeries Lafayette, Lee, Philips, Microsoft. Periodicamente, a rede divulga suas listas do que é "cool": são as Top 15, tendências pinçadas em todos os continentes, em várias áreas (moda, design, varejo etc.), por pessoas de diversos estilos. Nesta página, você lê algumas dessas apostas na área de moda, compiladas pela publicação "Code Magazine" de Amsterdã, em parceria com a rede de Rohde. Abaixo, o sociólogo conta como funciona essa sua fábrica de novidades.

 

FOLHA - Hoje, quando todos têm acesso ao que acontece em qualquer lugar do mundo, parece que qualquer um pode ser especialista em tendências. Concorda?
CARL ROHDE
- Qualquer pessoa que passeie por Nova York com os olhos abertos pode dizer que é caçador de tendências. Bacana. Mas com um par de olhos você não pode fingir que faz previsões sérias. Se você for homem, não observa como uma mulher e vice-versa. Se for viciado em tecnologia, não vai ver nenhuma tendência importante em esporte. Na Science of the Time, nós coletamos as contribuições de um número muito grande dessas órbitas oculares no mundo. E nós as treinamos. Sem treino, não existe metodologia, só caos. É um caos interessante, mas caos. Viajo pelo mundo e ensino alunos a observar tendências. Testamos todos eles e pegamos os melhores. Aliás, estamos sempre em busca de universidades que desejem participar da nossa pesquisa. Também no Brasil. Por favor, entrem em contato! (riso)

FOLHA - Mas o que faz exatamente a Science of the Time?
ROHDE
- Somos uma rede virtual de observadores de tendências. Não nos concentramos só no mercado jovem -fazemos muita pesquisa sobre a geração acima de 50. Ajudamos marcas a inovar de maneira sistemática. Todo mundo quer inovar, mas o sucesso não se dá sem conhecimento sério a respeito do que o futuro trará.

FOLHA - Qual é a metodologia?
ROHDE
- Usamos fundamentos acadêmicos. Mas esses padrões não nos deixam alienados em relação ao mundo real. Fazemos muita pesquisa na rua.

FOLHA - Como é feita a lista Top 15? Quanta gente é envolvida?
ROHDE
- Para cada rodada de pesquisa, convidamos 20 pessoas. Joe Pine [B. Joseph Pine II, autor do best-seller "Experience Economy"] é um de nós. Mark Simpson, que criou o conceito do metrossexual, é um de nós... Juntas, essas pessoas contribuem com sua visão do que é o máximo do cool neste momento. Mas cool não significa "hypado". Definimos cool como algo atraente e inspirador, com potencial de crescimento. Todas as colaborações são julgadas pela rede global de 4.000 estudantes. Juntos, decidimos o ranking da lista.

FAÇA VOCÊ MESMO
Os blogueiros agora são contratados por grandes empresas. O blog Sea of Shoes criou sapatos para a Urban Outfitters, e o Garance Dore criou camisetas para a GAP.
Idade ou experiência não são mais questões. Sea of Shoes é escrito por Jane Aldridge, 17. Outra menina em alta é Tavi, do http://tavi.thepop.com. Ela tem 13 anos e se sentou na primeira fila na última semana de moda de NY.
É um novo tipo de profissionalismo, sem gavetas nem amarras. É possível ampliar essa tendência: uma agência de publicidade pode lançar um jeans, designers podem abrir lojas de moda, grifes podem abrir uma casa noturna.
Por que é cool: está relacionado à liberdade profissional e pessoal. Tema ver com criatividade, redes e com a possibilidade de o trabalho nunca se tornar tedioso. "O que é alternativo e o que está consolidado estabelecem combinações emocionantes", diz a análise da Science of the Time.


PORCAS E PARAFUSOS
O estilo operário das antigas está de volta. Na linha uniforme de trabalho, uma referência é o estilista americano Adam Kimmel.
No quesito sapatos, é o retorno das botas fortes.
Por que é cool: elementos de estilo se relacionam com funcionalidade; é a valorização de gente "normal" e das capacidades masculinas. Na interpretação da Science of the Time, tem a ver com a retomada do lado bom da masculinidade tradicional: trabalho árduo e honesto, que resolve os problemas. Está relacionada ao pós-metrossexualismo.

CULTO AO CORPO
O verão 2010 é de transparência, vestidos apertados esculpidos, cores de carne (nude) e lingerie como roupa de sair. Mais o retorno do corset na Dolce & Gabbana.
Por que é cool: é feminino, elegante, superpoderoso. "O culto à sexualidade combina o melhor das mulheres: a beleza e o igualmente importante jogo de poder", diz a análise da Science of the Time.

SPORTWEAR DE NICHO
A moda esportiva está de volta. Mas agora com esportes de nicho. São mais legais porque ainda não foram totalmente explorados por interesses comerciais e consumo de massa.
Um exemplo é o pingue-pongue tornando-se hype, um esporte urbano underground em Nova York e Berlim, com torneios de gala (endossados pela grife Fred Perry). Outros exemplos são pescaria e patins.
Por que é cool: as pessoas buscam terrenos nos quais não se sintam controladas pelo consumismo. Querem looks mais autênticos e sensações idem. Isso é especialmente importante nos campos de esportes e lazer.

SURFISTAS DICRETOS
A indústria de esportes de ação caiu na armadilha do próprio sucesso. A autenticidade perdeu lugar para o clima "gritante e berrante" do marketing das grandes marcas de surfwear. Mas o estilo fica e se renova.
O visual de surfista de 2010 será o resultado de combinações espertas. Vai ter inspiração nos anos 60, com ares "preppy" [aquele visual colegial] e discrição. Mais para o tipo gola V e calça de sarja. O que é espalhafatoso está fora. Bastam a prancha e a roupa de neoprene.
Por que é cool: o estilo surfista 2010 passa uma ideia de despreocupação, que recupera o caráter relaxado, honesto e masculino do esporte.

SUBINDO NOS TAMANCOS
Os tamancos da marca Sanita eram usados em hospitais e no campo. Agora, são elevados a um novo patamar. Amarca dinamarquesa adicionou salto ao modelo tradicional, sem subverter o visual original. Tamancos com salto de outras marcas são sucesso no Japão, chegaram às passarelas e aparecerão na sequência do filme "Sex and the City".
Por que é cool: deslocar um produto clássico e funcional como acessório sexy é ousado, e revela a autoconfiança feminina. Nada mais sexy do que a despreocupação com o visual. "Usar esse tamanco, que tem histórico masculino, como calçado de trabalho, é se apropriar do que há demais autêntico no mundo dos homens", na interpretação da Science of the Time.

JEANS DE GENTE GRANDE
Alfaiataria é a palavra de ordem no mundo do jeans. É a habilidade que separa os garotos dos homens. O uso de técnicas antes reservadas a ternos ingleses ou italianos conversa agora como índigo. A grife holandesa G-Star e a Mr. Freedom, em Los Angeles, são emblemas.
Por que é cool: queremos um jeans cada Vez mais especial e mais autêntico. E quando a qualidade verdadeira e perceptível custa caro, estamos dispostos a pagar o preço.

SOU PURO E HONESTO
Azzedine Alaïa é um estilista que rejeita o circo fashion e suas armadilhas. Ele só apresenta seu desfile quando decide que tudo está perfeito e nem liga para a pressão da agenda. E "Bakker Made with Love" é uma Nova marca que diz em sua etiqueta: "orgulhosamente feito na Indonésia por Fulana". O nome da pessoa que costurou a roupa é escrito à mão.
Por que é cool: qualidade e transparência já são palavras-chaves há tempos. Seguem importantes. "A verdade e a paixão, nas histórias por trás das marcas, são mais importantes que as estratégias de marketing. Desejamos o amor de volta", diz a interpretação da Science of Time.


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