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TENDÊNCIAS
O que atrai, inspira e promete
Caçando o que é bacana
Veja o que vai entrar nos guarda-roupas, segundo observadores de tendências
HELOÍSA HELVÉCIA
EDITORA DO VITRINE
Nada mau. O trabalho duro
do sociólogo holandês Carl
Rohde é escanear o mundo detectando "coisas bacanas". Professor da universidade de
Fontys, a maior do seu país, ele
esteve em São Paulo para dar
palestras e recrutar "cool hunters". O termo é sinônimo de
caçador de tendência.
Rohde lidera uma porção deles na Science of the Time
(www.scienceofthetime.com),
rede mundial de observação de
comportamentos emergentes.
Na sua lista estrelada de clientes tem Adidas, Galeries Lafayette, Lee, Philips, Microsoft.
Periodicamente, a rede divulga suas listas do que é "cool":
são as Top 15, tendências pinçadas em todos os continentes,
em várias áreas (moda, design,
varejo etc.), por pessoas de diversos estilos. Nesta página, você lê algumas dessas apostas na
área de moda, compiladas pela
publicação "Code Magazine"
de Amsterdã, em parceria com
a rede de Rohde. Abaixo, o sociólogo conta como funciona
essa sua fábrica de novidades.
FOLHA - Hoje, quando todos têm
acesso ao que acontece em qualquer lugar do mundo, parece que
qualquer um pode ser especialista
em tendências. Concorda?
CARL ROHDE - Qualquer pessoa
que passeie por Nova York com
os olhos abertos pode dizer que
é caçador de tendências. Bacana. Mas com um par de olhos
você não pode fingir que faz
previsões sérias. Se você for homem, não observa como uma
mulher e vice-versa. Se for viciado em tecnologia, não vai ver
nenhuma tendência importante em esporte. Na Science of the
Time, nós coletamos as contribuições de um número muito
grande dessas órbitas oculares
no mundo. E nós as treinamos.
Sem treino, não existe metodologia, só caos. É um caos interessante, mas caos. Viajo pelo
mundo e ensino alunos a observar tendências. Testamos todos
eles e pegamos os melhores.
Aliás, estamos sempre em busca de universidades que desejem participar da nossa pesquisa. Também no Brasil. Por favor, entrem em contato! (riso)
FOLHA - Mas o que faz exatamente
a Science of the Time?
ROHDE - Somos uma rede virtual de observadores de tendências. Não nos concentramos só no mercado jovem -fazemos muita pesquisa sobre a
geração acima de 50. Ajudamos
marcas a inovar de maneira sistemática. Todo mundo quer
inovar, mas o sucesso não se dá
sem conhecimento sério a respeito do que o futuro trará.
FOLHA - Qual é a metodologia?
ROHDE - Usamos fundamentos
acadêmicos. Mas esses padrões
não nos deixam alienados em
relação ao mundo real. Fazemos muita pesquisa na rua.
FOLHA - Como é feita a lista Top
15? Quanta gente é envolvida?
ROHDE - Para cada rodada de
pesquisa, convidamos 20 pessoas. Joe Pine [B. Joseph Pine
II, autor do best-seller "Experience Economy"] é um de nós.
Mark Simpson, que criou o
conceito do metrossexual, é um
de nós... Juntas, essas pessoas
contribuem com sua visão do
que é o máximo do cool neste
momento. Mas cool não significa "hypado". Definimos cool
como algo atraente e inspirador, com potencial de crescimento. Todas as colaborações
são julgadas pela rede global de
4.000 estudantes. Juntos, decidimos o ranking da lista.
FAÇA VOCÊ MESMO
Os blogueiros agora são contratados
por grandes empresas. O blog
Sea of Shoes criou sapatos para
a Urban Outfitters, e o Garance
Dore criou camisetas para a GAP.
Idade ou experiência não são
mais questões. Sea of Shoes é escrito
por Jane Aldridge, 17. Outra
menina em alta é Tavi, do http://tavi.thepop.com. Ela tem 13 anos
e se sentou na primeira fila na
última semana de moda de NY.
É
um novo tipo de profissionalismo,
sem gavetas nem amarras. É possível ampliar
essa tendência: uma
agência de publicidade pode lançar um jeans,
designers podem
abrir lojas de moda, grifes podem
abrir uma casa noturna.
Por que é cool: está relacionado à
liberdade profissional e pessoal.
Tema ver com criatividade, redes
e com a possibilidade de o trabalho
nunca se tornar tedioso. "O
que é alternativo e o que está consolidado
estabelecem combinações emocionantes", diz a análise
da Science of the Time.
PORCAS E PARAFUSOS
O estilo operário das antigas está
de volta. Na linha uniforme de
trabalho, uma referência é o estilista americano
Adam Kimmel.
No quesito sapatos, é o retorno
das botas fortes.
Por que é cool: elementos de estilo
se relacionam com funcionalidade;
é a valorização de gente
"normal" e das capacidades
masculinas. Na interpretação
da Science of the Time, tem a ver
com a retomada do lado bom da
masculinidade tradicional: trabalho
árduo e honesto, que resolve
os problemas. Está relacionada
ao pós-metrossexualismo.
CULTO AO CORPO
O verão 2010 é de transparência,
vestidos apertados esculpidos, cores
de carne (nude) e lingerie como
roupa de sair. Mais o retorno do
corset na Dolce & Gabbana.
Por que é cool: é feminino, elegante,
superpoderoso. "O culto à
sexualidade combina o melhor das
mulheres: a beleza e o igualmente
importante jogo de poder", diz a
análise da Science of the Time.
SPORTWEAR DE NICHO
A moda esportiva está de volta. Mas
agora com esportes de nicho. São
mais legais porque ainda não foram
totalmente explorados por interesses
comerciais e consumo de massa.
Um exemplo é o pingue-pongue
tornando-se hype, um esporte urbano
underground em Nova York e Berlim,
com torneios de gala (endossados pela
grife Fred Perry). Outros exemplos
são pescaria e patins.
Por que é cool: as pessoas buscam
terrenos nos quais não se sintam controladas
pelo consumismo. Querem
looks mais autênticos e sensações
idem. Isso é especialmente importante
nos campos de esportes e lazer.
SURFISTAS DICRETOS
A indústria de esportes de ação
caiu na armadilha do próprio
sucesso. A autenticidade perdeu
lugar para o clima "gritante e
berrante" do marketing das grandes marcas
de surfwear. Mas o
estilo fica e se renova.
O visual de
surfista de 2010 será o resultado
de combinações espertas. Vai ter
inspiração nos anos 60, com ares
"preppy" [aquele visual colegial]
e discrição. Mais para o tipo gola
V e calça de sarja. O que é espalhafatoso
está fora. Bastam a
prancha e a roupa de neoprene.
Por que é cool: o estilo surfista
2010 passa uma ideia de despreocupação,
que recupera o caráter
relaxado, honesto e masculino
do esporte.
SUBINDO NOS TAMANCOS
Os tamancos da marca Sanita eram
usados em hospitais e no campo.
Agora, são elevados a um novo patamar.
Amarca dinamarquesa adicionou
salto ao modelo tradicional,
sem subverter o visual original. Tamancos
com salto de outras marcas
são sucesso no Japão, chegaram às
passarelas e aparecerão na sequência
do filme "Sex and the City".
Por que é cool: deslocar um produto
clássico e funcional como acessório
sexy é ousado, e revela a autoconfiança
feminina. Nada mais
sexy do que a despreocupação com
o visual. "Usar esse tamanco, que
tem histórico masculino, como calçado
de trabalho, é se apropriar do
que há demais autêntico no mundo
dos homens", na interpretação
da Science of the Time.
JEANS DE GENTE GRANDE
Alfaiataria é a palavra de ordem no mundo
do jeans. É a habilidade que separa os
garotos dos homens. O uso de técnicas
antes reservadas a ternos ingleses ou
italianos conversa agora como índigo. A
grife holandesa G-Star e a Mr. Freedom,
em Los Angeles, são emblemas.
Por que é cool: queremos um jeans cada
Vez mais especial e mais autêntico. E
quando a qualidade verdadeira e perceptível
custa caro, estamos dispostos a
pagar o preço.
SOU PURO E HONESTO
Azzedine Alaïa é um estilista que
rejeita o circo fashion e suas armadilhas.
Ele só apresenta seu desfile
quando decide que tudo está perfeito
e nem liga para a pressão da agenda.
E "Bakker Made with Love" é uma
Nova marca que diz em sua etiqueta:
"orgulhosamente feito na Indonésia
por Fulana". O nome da pessoa que
costurou a roupa é escrito à mão.
Por que é cool: qualidade e transparência
já são palavras-chaves há tempos.
Seguem importantes. "A verdade
e a paixão, nas histórias por trás das
marcas, são mais importantes que as
estratégias de marketing. Desejamos
o amor de volta", diz a interpretação
da Science of Time.
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