São Paulo, sábado, 25 de abril de 2009

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Maria Inês Dolci [defesa do consumidor]

NÃO É PROIBIDO PROIBIR


Abuso seria obrigar todos a comer jiló ou acelga; mas oferecer uma dieta mais nutritiva no lanche escolar é uma medida sábia


HÁ DEBATES de que não podemos nos esquivar, dada a relevância dos temas que abordam. É por isso que, do ponto de vista dos direitos do consumidor, apoio publicamente as recentes leis contra o fumo em locais públicos e a lei que proíbe a venda de alimentos e bebidas altamente calóricas em cantinas escolares. Por vários motivos.
No caso do cigarro, porque a fumaça causa danos à saúde dos não fumantes. E porque quem paga o tratamento no Sistema Único de Saúde das doenças provocadas pelo tabagismo é toda a sociedade e não apenas os fumantes.
Salgadinhos, doces, frituras e outros alimentos entopem crianças e adolescentes de gordura e de açúcar e não os nutrem adequadamente. Mas, na sociedade em que vivemos, a publicidade desses alimentos é maciça e especialmente direcionada aos mais jovens.
Legumes, verduras e frutas não têm apelo similar ao das guloseimas. Por isso, é preciso combater as causas de muitas doenças que poderão nos acometer mais tarde, decorrentes de maus hábitos alimentares.
São invasões à liberdade individual? Sem dúvida. Atitudes paternalistas? Também o são. Mas impedir o suicídio não deixa de ser um freio ao livre-arbítrio. Obrigar os motoristas e os caronas a usar cintos de segurança, idem.
Mas quem concebe um país que libere o suicídio e que torne o cinto de segurança opcional, para não limitar o arbítrio de cada um?
O Brasil tem, hoje, mais adolescentes obesos do que subnutridos. Mais não, várias vezes mais. O jovem gordinho pode ser o adulto com obesidade mórbida de amanhã. No mínimo, com hipertensão, diabetes e outros males que ameaçam a saúde e a sobrevivência dessas pessoas.
Abuso seria obrigar todos a comer jiló ou acelga. Mas oferecer uma dieta mais nutritiva no lanche escolar é uma medida sábia. É claro que tudo dependerá dos pais, pois, se eles quiserem, poderão colocar salgadinhos e refrigerantes nas lancheiras de seus filhos. Bem, mas aí a responsabilidade será toda deles e não da falta de opções.
Isso vale também para quem quiser continuar fumando em casa, na rua, no carro.
Seria melhor, obviamente, que optássemos por aposentar os cigarros e que oferecêssemos, espontaneamente, alimentos e bebidas saudáveis às crianças. Que todos usassem o cinto de segurança, não por causa das multas e dos pontos na carteira de motorista.
Desde pequenos, somos "acalmados" com doces e alimentos conhecidos com "junk food", ou seja, "comida lixo".
Assim como a Terra não suporta mais agressões e reage com distúrbios climáticos e catástrofes que podem custar a sobrevivência da espécie humana, temos de preparar as nossas crianças para que a longevidade seja acompanhada de saúde.
Viver cem ou mais anos é uma grande notícia. Que não combina com as doenças derivadas do tabagismo e de uma alimentação irresponsável.


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