São Paulo, sábado, 25 de julho de 2009

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Churrasqueiro fino

Não faltam invenções para refinar o ritual rústico do churrasco; mas o que é útil e o que é pura frescura?

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Homem em geral é chegado numas carnes, especialmente se torradas. O churrasco não é apenas popular: é tão antigo que até moldou a evolução biológica do ser humano.
Uma teoria clássica explica que o consumo de carne foi essencial para que o cérebro do homem pré-histórico triplicasse de tamanho, proporcionando as calorias extras necessárias ao seu desenvolvimento. Churrasco é cultura.
Pode não parecer, mas o cérebro de um adulto em sossego consome 25% da sua energia -contra meros 8% de um macaco. Uma adição recente à teoria afirma que a comida tostada ou cozida no fogo tornou ainda mais eficiente o suprimento calórico -incluindo também vegetais-, ao diminuir o gasto energético na digestão.
Há quem diga que o primeiro churrasqueiro da humanidade foi o ancestral Homo erectus, 1,9 milhão de anos atrás.
Mas foi o Homo sapiens quem sofisticou a coisa. "Churrasco é carvão e sal grosso", dizem uns. Rá! A coisa pode ir e vai bem além.
É preciso técnica para acender o fogo, manter a brasa acesa no ponto certo, transferir pedaços de carvão de um lado a outro. É preciso também saber a hora de virar e tirar a carne, de temperar. E por aí vai.

Compras desnecessárias
Foi um estalo. Notei que tinha uma varanda boa para abrigar uma churrasqueira. Hora de churrasco na laje! Ou, na versão chique dos anúncios de apartamento, em um autêntico terraço gourmet.
O aprendiz de churrasqueiro corre o risco de comprar coisas desnecessárias.
Por exemplo, o garfo e a faca de trinchar linha Pampa, da Tramontina. Tem em dois comprimentos. Optei pelo mais comprido. Quando fui usar, percebi que a faca era tão comprida (uns 73 cm!) quanto a primeira arma de destruição de massa, o gládio, a espada curta do legionário romano que nos legou a palavra gladiador.
Já na hora de comprar a espátula, fui à mais curta. Mas usa-se pouco. A pinça ou pegador tem mais serventia.
Agora, a tábua para carne é essencial, especialmente a versão com ranhuras, para evitar que o sangue escorra.
Mas ter uma "picanheira" pode não ser frescura, se a picanha for sua carne predileta. Só que alguns modelos são pesados demais para churrasqueiras portáteis.
Irresistíveis são os kits. Tem os caros, em maletas de metal. Um barato -todo feito na China, claro- é o kit Nautika. Inclui faca, garfo, pegador, assoprador, saleiro, pimenteiro, luva, e o saco de transporte vira um avental.
Termômetro? Pura frescura, mas o supérfluo é o que faz a felicidade do homem, como dizia Nelson Rodrigues. É pura coisa de "nerd". É divertido medir a temperatura interna da picanha e descobrir que se está entre 62,78 C e 71,06 C, o Bonjour Grill Tech me informa que ela está "medium done" (em inglês) ou "à point" (em francês). No ponto, portanto. Embora eu prefira "rare" ou "sanglant" -mal passada. Imagino que o Homo erectus também.


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