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Churrasqueiro fino
Não faltam invenções para refinar o ritual rústico do churrasco; mas o que é útil e o que é pura frescura?
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Homem em geral é chegado
numas carnes, especialmente
se torradas. O churrasco não é
apenas popular: é tão antigo
que até moldou a evolução biológica do ser humano.
Uma teoria clássica explica
que o consumo de carne foi essencial para que o cérebro do
homem pré-histórico triplicasse de tamanho, proporcionando as calorias extras necessárias ao seu desenvolvimento.
Churrasco é cultura.
Pode não parecer, mas o cérebro de um adulto em sossego
consome 25% da sua energia
-contra meros 8% de um macaco. Uma adição recente à teoria afirma que a comida tostada
ou cozida no fogo tornou ainda
mais eficiente o suprimento calórico -incluindo também vegetais-, ao diminuir o gasto
energético na digestão.
Há quem diga que o primeiro
churrasqueiro da humanidade
foi o ancestral Homo erectus,
1,9 milhão de anos atrás.
Mas foi o Homo sapiens
quem sofisticou a coisa. "Churrasco é carvão e sal grosso", dizem uns. Rá! A coisa pode ir e
vai bem além.
É preciso técnica para acender o fogo, manter a brasa acesa no ponto certo, transferir
pedaços de carvão de um lado a
outro. É preciso também saber
a hora de virar e tirar a carne,
de temperar. E por aí vai.
Compras desnecessárias
Foi um estalo. Notei que tinha uma varanda boa para abrigar uma churrasqueira. Hora
de churrasco na laje! Ou, na
versão chique dos anúncios de
apartamento, em um autêntico
terraço gourmet.
O aprendiz de churrasqueiro
corre o risco de comprar coisas
desnecessárias.
Por exemplo, o garfo e a faca
de trinchar linha Pampa, da
Tramontina. Tem em dois
comprimentos. Optei pelo mais
comprido. Quando fui usar,
percebi que a faca era tão comprida (uns 73 cm!) quanto a primeira arma de destruição de
massa, o gládio, a espada curta
do legionário romano que nos
legou a palavra gladiador.
Já na hora de comprar a espátula, fui à mais curta. Mas
usa-se pouco. A pinça ou pegador tem mais serventia.
Agora, a tábua para carne é
essencial, especialmente a versão com ranhuras, para evitar
que o sangue escorra.
Mas ter uma "picanheira"
pode não ser frescura, se a picanha for sua carne predileta. Só
que alguns modelos são pesados demais para churrasqueiras portáteis.
Irresistíveis são os kits. Tem
os caros, em maletas de metal.
Um barato -todo feito na China, claro- é o kit Nautika. Inclui faca, garfo, pegador, assoprador, saleiro, pimenteiro, luva, e o saco de transporte vira
um avental.
Termômetro? Pura frescura,
mas o supérfluo é o que faz a felicidade do homem, como dizia
Nelson Rodrigues. É pura coisa
de "nerd". É divertido medir a
temperatura interna da picanha e descobrir que se está entre 62,78 C e 71,06 C, o Bonjour Grill Tech me informa que
ela está "medium done" (em inglês) ou "à point" (em francês).
No ponto, portanto. Embora eu
prefira "rare" ou "sanglant"
-mal passada. Imagino que o
Homo erectus também.
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