São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Sua majestade, o consumidor


Quando o dinheiro for curto, ninguém mais se submeterá a falsas ofertas e serviços de péssima qualidade

EM MEIO À CRISE que se abateu sobre quase todos os países, em maior e em menor grau, o Brasil tem sido insistentemente citado como "diferente". No caso, positivamente, porque teria condições para, digamos, sofrer menos, no ano que vem, do que economias maiores, mas mais afetadas pela fuzarca financeira dos últimos anos. Seja como for, 2009, na melhor das hipóteses, vai exigir muito empenho dos atores econômicos e financeiros para que não haja uma queda da atividade produtiva além do suportável.
Há, contudo, uma janela de oportunidade para lojistas e prestadores de serviços, com evidente reflexo na indústria: o tratamento ao consumidor. Sim, nos próximos meses, talvez anos, o consumidor, novamente, será o imperador do consumo. Quem tiver emprego e salário, ou renda para comprar, terá de ser conquistado (não gosto do termo fidelizado!) com muita atenção e respeito. Práticas desrespeitosas de hoje talvez troquem, amanhã, a cor do balanço de 2009 de azul para vermelho. Quando a economia cresce à toda, como até recentemente no Brasil, um comprador de automóvel se depara com listas de espera e até com a odiosa cobrança de ágio. Se sobrarem pés em uma loja de calçados, os clientes que tenham paciência. Longas filas no restaurante, em períodos de economia em alta, condenam o esfomeado consumidor a aguardar, sem chiar, a sua vez.
Estimam alguns especialistas que o Brasil cresça um pouco mais de 3% no ano que vem. Um percentual quase maravilhoso, se considerarmos o clima de terror provocado pelo estouro dos mercados de ações e pelas perdas da turma que quis ganhar um dinheirinho se protegendo, vejam só, das quedas na cotação do dólar frente ao real. Mas 3% ou 3,3% não são suficientes para reduzir o desemprego, que ainda é grande nas regiões metropolitanas do país. Nem para trazer mais brasileiros para o mercado consumidor.
Logo, o comerciante que quiser lucrar nos próximos meses ou anos terá de fazer algo que já deveria, mesmo sem crise nenhuma: respeitar e tratar bem os consumidores. Quando o dinheiro for curto, ninguém mais se submeterá a falsas ofertas, filas intermináveis, descortesia, produtos "bichados", serviços de péssima qualidade.
Isso vale para as teles, para a banda curta (larga só no nome!), para qualquer tipo de produto ou serviço. O consumidor não pede tapete vermelho, cartões de aniversário nem os excessos do "e-mail marketing". Ele quer algo simples: que lhe entreguem o que foi prometido. Que o Custo Efetivo Total (CET) esteja exposto em letras garrafais, sem subterfúgios. Também não aceitará que haja uma etiqueta enorme, com um preço relativamente baixo, e que só ao pé dela, em letras ilegíveis, venha a informação de que deverá multiplicar o valor por quatro ou cinco vezes. Pensem nisso, senhores empresários e vendedores. Ou se preparem para perder muitos negócios daqui para frente.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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