São Paulo, sábado, 26 de julho de 2008

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Viva a diferença

O mercado quer enfi ar todos no padrão que vai do 36 ao 44, e deixa meio mundo a descoberto. Veja o guia de lojas que praticam outros pesos e medidas

Eduardo Knapp/Folha Imagem


DANAE STEPHAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se o público-alvo das principais grifes do mercado fosse uma representação fiel da população brasileira, todos seriam magros e altos, com pés, pescoço, peito, pernas e braços dos mesmos tamanhos. Também não existiriam canhotos.
Infelizmente, para o mercado, as pessoas ainda têm tamanhos diversos e características próprias que impedem tal uniformização. Isso acaba criando nichos nos quais poucas empresas investem no Brasil.
Encontrar uma tesoura para canhotos nas lojas de São Paulo é tarefa inglória, embora eles representem cerca de 10% da população. Quem tem pés grandes fica restrito a duas ou três lojas, enquanto quem tem pés muito pequenos precisa se contentar com linhas adolescentes. Lojas de roupa de tamanhos grandes existem aos montes, mas poucas fogem do estilo senhorinha. E os sapatos que têm numeração intermediária, comuns nos Estados Unidos, por aqui ainda são novidade.
"A gente vive em uma sociedade que padroniza tudo e não respeita as diferenças", afirma o psicólogo Marco Antonio de Tommaso, ligado à Associação Brasileira para Estudo da Obesidade. "Na Argentina, foi aprovada uma lei que obriga todas as lojas a trabalharem com o tamanho até o 46. Nos Estados Unidos, as lojas montam a roupa de acordo com a anatomia do cliente. Aqui, quem manda ainda são os estilistas. Quem foge à regra cai no serviço sob medida, muito mais caro", diz.
Mesmo os considerados "normais" no Brasil sofrem com a padronização, ou melhor, com a falta dela. "Existe uma norma para orientar as empresas com relação à numeração, mas ela não é obrigatória", afirma Silvio Napoli, engenheiro têxtil e gerente de tecnologia da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção). "Cada empresa tem sua própria estrutura de medidas, por isso se usa 38 em uma loja e 40 em outra".
Nesse sentido, dá para prever algum avanço. Em setembro, o INT (Instituto Nacional de Tecnologia) iniciará uma pesquisa que pretende fazer uma medição do corpo do brasileiro para redefinir os padrões da indústria. O instituto vai receber scanners especiais que fazem um mapeamento 3D de todo o corpo em 20 segundos. "Poderemos estabelecer padrões de roupa que atendam a todas as pessoas, ou a pelo menos 90% da população", diz Maria Cristina Zamberlan, chefe do Laboratório de Ergonomia do INT.
Se é para seguir um padrão, que ele seja, pelo menos, mais democrático.


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