DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Tire da cabeça as lojas de enxoval com cheirinho de lavanda e jeito de casa de boneca, móveis em estilo provençal ou qualquer outra fofura que costuma dar o tom ao comércio de cama, mesa e banho em shoppings ou casas tradicionais dos Jardins. Passando o largo da Concórdia, no Brás, uma das travessas da avenida Rangel Pestana é a Maria Marcolina.
Por lá, além dos atacadões de roupas que tomam todo o bairro, há uma concentração do comércio de enxovais.
Quase todas as lojas têm banquinhas de saldos na entrada, mas nelas, geralmente, só ficam os itens mais fartos em poliéster do que em algodão. Antes de descartar totalmente esses jogos de cama de tecido misto baratíssimos ou toalhas com acabamento precário, lembre que eles podem ser úteis para o acampamento dos filhos ou para a casa de praia.
Pulando essa parte, é fácil encontrar lençóis, toalhas, edredons e colchas de marcas conhecidas, especialmente Karsten, Buettner, Buddemeyer, Teka e Artex. O que não dá para pular são os vendedores, que não deixam o consumidor pôr um pé dentro da loja sem mandar um "Posso ajudar?", e o seguem durante o passeio entre os corredores. Mas seria difícil fazer as compras sem eles, porque é costume ali não colocar os preços nas peças. Um vendedor da loja Torre de Babel explica por quê. "Mesmo se põe preço, as tiazinhas vêm perguntar "quanto é isso aqui?'", diz, imitando com voz fina.
Os preços compensam a maratona. Dá para encontrar jogos de toalhas com cinco peças de tamanho gigante por menos de R$ 100, uma dificuldade no comércio varejista fora do centro. Também por menos de R$ 100 é possível vestir uma cama com lençóis de algodão a partir de 180 fios, ainda que o tamanho procurado seja "queen" ou "king", para colchão americano "box spring". Não é preciso percorrer toda a rua para achar boas pechinchas, até porque os estoques não variam tanto.
Dentro das lojas, não há lotação no estilo 25 de Março para desencorajar os visitantes. Um vendedor que faz as vezes de "homem do microfone" em uma das lojas mais tradicionais puxa papo sobre a queda nas vendas. Ele diz ter a solução. "Quando eu falo as ofertas no microfone, as vendas sobem 30%", afirma. Mas, felizmente (para os consumidores), não havia promoções sendo cantadas em caixas de som no dia em que a reportagem percorreu a Maria Marcolina.
Os obstáculos por ali são os comuns do centro da cidade: trânsito confuso, camelôs, pedestres com sacolas de grandes proporções e sujeira na calçada. Em dias de verão sujeitos a pacandas chuva, não precisa cair muita água para todas as bocas-de-lobo entupirem.
Assim dá até para dizer que é uma boa notícia o fato de algumas lojas terem comércio eletrônico, como a Casa da Sogra. Mas daí não tem graça.