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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]
LIQUIDAÇÃO DE SALTO
Descontos de verão são piadas nas lojas dos Jardins
O comércio local
anuncia suas
promoções
sempre em outras
línguas, talvez
porque soe mais fino
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As liquidações de verão estão quase acabando nos Jardins, esse país temperado onde já é inverno; como sugerem
os cachecóis, gorros e até
mantôs que chegaram às araras, a vontade de voltar a vender a preço cheio supera qualquer prurido meteorológico.
Mas,"últimos dias" ou não,
que ninguém saia por aí desabalado para aproveitar. "Liquidação" está longe de definir o que o comércio local promove por trás das vitrines onde anuncia suas promoções.
Sempre em outras línguas,
talvez porque soe mais fino.
Os descontos, eles mesmos,
são bastante decentes; o problema é que, a depender do
grau de surrealismo do preço
original, não chegam a criar
grande impacto. A italiana
Replay, por exemplo, anuncia
redução de 50% nas peças de
verão; os jeans da vitrine, de
acordo com a "price list" (sic),
custam R$ 618, R$ 420,
R$ 468 e R$ 654. Com ou sem
desconto? Com, explica o
vendedor; e tem também esse
macaquinho de R$ 940 por
R$ 460. Na vitrine da La Perla, um biquíni custa "R$ 321"
com "80% off". Mais do que
cor ou modelo, o que se repara
é no quanto a loja pretendia,
originalmente, obter em troca
das duas peças exíguas.
Se nada disso chega a surpreender, vindo de grifes que
apostam no preço ostensivo
como valor positivo, há casos
realmente tristes. Como o da
Campers.
No Brasil, os sapatos da marca espanhola, engenhosas, lindas e casualíssimas combinações de estilo e "andabilidade"
custam o preço de, sei lá, um
stiletto cravejado de cristais
Swarovski. Seus admiradores
sem "bala" esperavam sinceramente que as "rebajas" (liquidação, em espanhol) servissem
para reduzir um pouco a distorção. Que nada: com os 30% de
desconto que a loja da Oscar
Freire se digna a oferecer, e
mesmo assim só em modelos
de coleções passadas, um sapato boneca cai de R$ 598 para
R$ 419. Melhor tentar a sorte
em Nova York, onde o equivalente em dólares aos mesmos
R$ 400, em janeiro, compravam o modelo mais caro da coleção nova, e o troco, o mais barato.
Reduzir o impossível ao muito proibitivo pode ser fino, mas
não satisfaz. Certamente foi
por ofertas melhores que as supracitadas que as clientes da
Miss Selfridge de Londres se
pegaram a tapa numa venda recente de peças de Stella
McCartney. Desculpem,
mas liqüidação boa é isso aí.
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