São Paulo, sábado, 29 de março de 2008

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]

LIQUIDAÇÃO DE SALTO

Descontos de verão são piadas nas lojas dos Jardins

O comércio local anuncia suas promoções sempre em outras línguas, talvez porque soe mais fino

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As liquidações de verão estão quase acabando nos Jardins, esse país temperado onde já é inverno; como sugerem os cachecóis, gorros e até mantôs que chegaram às araras, a vontade de voltar a vender a preço cheio supera qualquer prurido meteorológico.
Mas,"últimos dias" ou não, que ninguém saia por aí desabalado para aproveitar. "Liquidação" está longe de definir o que o comércio local promove por trás das vitrines onde anuncia suas promoções. Sempre em outras línguas, talvez porque soe mais fino.
Os descontos, eles mesmos, são bastante decentes; o problema é que, a depender do grau de surrealismo do preço original, não chegam a criar grande impacto. A italiana Replay, por exemplo, anuncia redução de 50% nas peças de verão; os jeans da vitrine, de acordo com a "price list" (sic), custam R$ 618, R$ 420, R$ 468 e R$ 654. Com ou sem desconto? Com, explica o vendedor; e tem também esse macaquinho de R$ 940 por R$ 460. Na vitrine da La Perla, um biquíni custa "R$ 321" com "80% off". Mais do que cor ou modelo, o que se repara é no quanto a loja pretendia, originalmente, obter em troca das duas peças exíguas.
Se nada disso chega a surpreender, vindo de grifes que apostam no preço ostensivo como valor positivo, há casos realmente tristes. Como o da Campers.
No Brasil, os sapatos da marca espanhola, engenhosas, lindas e casualíssimas combinações de estilo e "andabilidade" custam o preço de, sei lá, um stiletto cravejado de cristais Swarovski. Seus admiradores sem "bala" esperavam sinceramente que as "rebajas" (liquidação, em espanhol) servissem para reduzir um pouco a distorção. Que nada: com os 30% de desconto que a loja da Oscar Freire se digna a oferecer, e mesmo assim só em modelos de coleções passadas, um sapato boneca cai de R$ 598 para R$ 419. Melhor tentar a sorte em Nova York, onde o equivalente em dólares aos mesmos R$ 400, em janeiro, compravam o modelo mais caro da coleção nova, e o troco, o mais barato.
Reduzir o impossível ao muito proibitivo pode ser fino, mas não satisfaz. Certamente foi por ofertas melhores que as supracitadas que as clientes da Miss Selfridge de Londres se pegaram a tapa numa venda recente de peças de Stella McCartney. Desculpem, mas liqüidação boa é isso aí.


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